Transcrição:
Clique na frase para navegar pelo vídeo

A medida que falamos sobre sustentabilidade e sua importância para as empresas, muitos gestores não consideram isso uma prioridade em suas programações.

Por que parece tão difícil desenvolver essa cultura nas empresas? - Acho que há 3 razões: é difícil pensar em uma cultura de sustentabilidade primeiro

porque pensamos nela como um problema público. Algo que o Governo deveria resolver. Então se há problemas no meio ambiente ou sociais, com certeza

não é culpa das empresas. Essa é uma forma tradicional de pensar. Isso é relacionado com a segunda causa da dificuldade de relacionar isso às empresas

que é porque sustentabilidade é algo novo e tudo que é novo, é difícil. Pense em como foi difícil se adaptar a fazer tudo em computadores. Ou pensar no mundo como realmente global.

Se acostumar com as mídias sociais. Qualquer mudança significativa nas empresas é difícil. E a terceira razão é que ser uma pessoa de negócios é difícil.

Fazer seu negócio dar certo leva muito tempo, esforço e foco, e se tiver algo que não preciso pensar a respeito, não vou pensar. Tenho um enorme respeito por pessoas que geram negócios.

E mudar para uma forma de pensar ecológica é algo significante, além de muito difícil.

- Já somos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo, e vivemos quase todas no capitalismo, basicamente, quais são os maiores desafios para fazer do mundo um lugar mais sustentável?

- O primeiro desafio, é claro, são as mudanças climáticas. Se não estabilizarmos o clima mundial, tudo ficará mais difícil. Já estamos observando algumas consequências,

e as mudanças climáticas provocam tempestades e secas mais frequentes, como tenho certeza que você sabe. Há um grande risco disso afetar a produção de alimentos no mundo,

particularmente nas regiões mais vulneráveis. Isso se junta ao risco da elevação do nível do mar, já que um terço da população vive à beira do mar,

não tenho certeza sobre esse número, mas é algo muito expressivo sim. Então mudanças climáticas são o problema físico mais grave. Mas acho que, na verdade,

o principal problema da sustentabilidade não é o problema em si, o problema das mudanças climáticas a gente consegue resolver, temos a tecnologia necessária,

e podemos resolver isso com um custo razoável. Sabemos que resolver agora é muito mais efetivo do que esperar os efeitos. Precisaríamos de 2 ou 3% do PIB mundial, menos do valor gasto com defesa e armas.

Os maiores problemas são os culturais, políticos e econômicos. Para mim, temos, ao mesmo tempo, uma desigualdade massiva e muitos regimes focados em si mesmos ao invés das pessoas,

isso me parece um problema tão grave quanto as mudanças climáticas. Até conseguirmos criar instituições fortes, instituições justas, até começarmos a pensar no mundo como um só,

e de alguma forma encontrar alguma solução política, a sustentabilidade será algo complexo de lidar. - Hoje, vemos exemplos de empresas que adotam modelos de negócios

baseados em economia colaborativa, como a Uber ou Airbnb, por exemplo, considerando-as como empresas sustentáveis no futuro,

o que as empresas tradicionais precisam fazer nessa direção? - Se pensarmos em empresas como a Uber ou a Zipcar, ou essa nova tendência de compra

onde você devolve as roupas à loja depois de usá-las. Acho que o que podemos perceber é um time comum de não levar em consideração a coisa em si,

mas sim em relação ao serviço fornecido por aquela coisa.

Não preciso de um carro parado na minha garagem o dia inteiro, só preciso dele quando for necessário. Não preciso de um guarda-roupas, talvez seja apenas eu,

cheio de roupas que usei apenas umas vezes e depois nunca mais. Só preciso daquele momento, daquela experiência. Acho que veremos mais e mais empresas saindo dessa tendência de vender coisas

para vender experiência, vender serviços. Isso não é uma tendência para todas as empresas, é claro. Até mesmo em comida, muitas empresas saindo do vender comida

para vender ingredientes, ou vender o momento quando você precisa desse tipo de experiência gastronômica. É uma questão de realmente conhecer o seu consumidor de forma profunda.

Meu colega Clayton Christensen fala a respeito da função das coisas, que o consumidor não quer aquela coisa, mas sim o serviço que ela provê. Essa, para mim, é a questão mais poderosa.

- A experiência se tornando mais importante... - A experiência é muito mais importante do que a coisa. E a razão disso ser tão importante é que não há como dar a todos no planeta

as coisas que as pessoas nos países desenvolvidos têm. Não é possível. A tecnologia faz uma grande diferença, nos tornamos muito mais eficientes,

mas, no fim, não podemos todos ter casas enormes e três carros, isso não tem como. Por isso a pergunta é: qual o serviço que procuro

ao comprar uma grande casa em um bairro nobre? Se você pensar em um país como a Dinamarca, eles parecem estar mudando, e ao invés de ter casas enormes, cheias de pinturas,

têm uma casa pequena e bonita, apenas uma pintura, que realmente representa sua estética, e você pode mudá-la depois. A sua experiência é muito mais de viver o espaço público

do que criar o seu espaço privado. Então acho que podemos realmente fazer isso, não é tão fácil, mas é completamente possível.

- Então, dessa forma viveríamos uma vida mais fugaz? Ou seria mais o espaço público? - Mais espaço público, mais serviço, teríamos mais prazer

em entretenimento, em educação, em cuidar do outro. Em usar o carro quando precisamos e pegar o voo também,

ao invés de mais, mais, mais, mais, mais. Associamos o ter mais com a felicidade, mas aprendemos com os psicólogos que isso não é verdade.

É claro que, para as pessoas que não têm nada, eletricidade, segurança, ou não tem como se alimentar, primeiramente é preciso satisfazer essas necessidades,

mas estudos comprovam que é possível satisfazê-las com 20 mil dólares por cabeça e quando você observa a relação da felicidade com ganhos acima disso, está por toda a parte. Você deve saber disso.

Latino-americanos são muito mais felizes do que os seus rendimentos propõe, e as pessoas da antiga União Soviética são muito menos felizes. Se você compara alguém advindo da União Soviética com um latino-americano,

verá a mesma renda com níveis muito diferentes de felicidade. Os muito mais ricos não são conhecidos por serem mais felizes que o resto de nós. Algo importante em relação a isso - esse é um assunto enorme -

é o papel da inveja. Então mesmo se tenho o suficiente para comer, ter uma boa vida e amigos, se eu, todos os dias, vejo que você tem 2 ou 3 vezes ou que eu tenho,

isso me fará infeliz. A desigualdade é uma parte disso, temos que pensar em desigualdade por todos os tipos de razão,

mas em um mundo em que eu diariamente tenho inveja do fato que você tem um Rolls Royce, e eu tenho uma bicicleta, estou propensa a ser menos feliz,

mesmo com o fato de que andar de bicicleta é muito mais saudável e barato, uma forma muito mais simples de se locomover, por que querer uma tranqueira enorme de metal?

Então isso é também cultural, não apenas físico. Acho que todos nós, quando nos sentimos tristes ou depressivos, pensamos que ter mais coisas nos fará mais felizes,

mas os psicólogos dizem que o que nos faz felizes são as relações humanas. Não é possuir coisas. - Ótimo! E por que ganhar dinheiro e criar valor social

às vezes parecem antagonistas? - Pela mesma razão que nós sabemos que temos que nos exercitar. Certo? Você acorda todos os dias e pensa: "Tenho que me exercitar”.

Talvez você faça isso, mas conheço muita gente que não faz exercícios diariamente. É sempre mais fácil pegar atalhos. É mais fácil não prestar atenção.

Se pensarmos em como gerir um negócio sustentável é, significa que é preciso ser muito criativo, pensar em modelos novos de negócios, tratar os seus funcionários com respeito,

estar de acordo com o seu propósito pessoal, significa pagar salários justos, se engajar com o governo que gera mais regulações.

Isso é pesado... É tão mais fácil jogar esgoto no rio, cortar as árvores, pagar mais barato. A longo prazo, é uma forma péssima de se gerir um negócio,

e é uma forma terrível de gerir o planeta. Mas a curto prazo, é sempre mais fácil tomar o caminho mais simples. Tivemos a sorte de não precisarmos nos preocupar com capital social,

como pessoas de negócios, delegamos essas questões educacionais ao governo, tivemos o luxo de não nos preocuparmos com o meio ambiente, o clima é só o clima, sempre haverá água, o mar vai estar sempre lá.

Mas como... isso pode soar meio estranho... mas isso é um desafio enorme para a raça humana.

E vai requerer que a gente apoie um ao outro, e fazer melhor. É muito mais fácil que eu me exercite se meu marido me diz para ir treinar.

E quando vou, realmente aproveito, me sinto muito melhor, isso me ajudará a viver mais, mas temos que nos ajudar a fazer essas escolhas.

Dá para fazer, mas é muito mais fácil apenas dormir. É melhor dormir, certo? É assim que penso.

- E qual o seu conselho para líderes que desejam mudar o seu ponto de vista? - Então, primeiramente, sempre desenvolvo um business case convincente.

Se você é um líder de negócio, precisa lucrar. E a forma de conseguir isso é tirar um tempo para sair do dia-a-dia, converse com seus consumidores, converse com seus funcionários,

vá visitar o seu operacional, veja os efeitos que as suas decisões têm no negócio agora, analise seus concorrentes,

principalmente os pequenos, as pequenas empresas que são geridas pelos jovens, veja o que elas estão fazendo. Saia do regime do dia-a-dia,

você passou 20 anos estudando inovação, não teve nada que salvasse os concorrentes da Apple. O grande erro é assumir que o futuro será exatamente como agora.

Particularmente se você for bem sucedido. Se você está gerindo um negócio de sucesso, é muito fácil pensar que estará tudo ok. Temos isso de "vai ficar tudo bem".

Mas vai mudar. As mudanças tendem a acontecer muito rápido. Um tópico dramático que notei é que a maioria dos jovens no mundo hoje

dizem que não acreditam no capitalismo. Se você é uma pessoa de negócios, isso é muito ameaçador. O capitalismo é a melhor ferramenta que temos para trazer liberdade,

inovação e prosperidade. Não temos como resolver esses problemas sem o dinamismo inovador que o capitalismo traz. Então esse é o seu trabalho, é o de todos nós, pessoas de negócios,

de pensar nas mudanças que estão por vir, e criar um mundo onde as pessoas celebrem as empresas e tudo que elas trazem.

Pode ser feito, mas requer um pouco de atenção. - Ok! Muito obrigada! - De nada, muito obrigada.