Robert Safian, editor da revista Fast Company, apresenta o conceito de Geração Flux, seu impacto no mundo de hoje, a relação de ideias disruptivas com conceitos tradicionais e o futuro do trabalho
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Olá professor Safian, é um prazer tê-lo aqui na HSM. - Obrigado. - Farei algumas perguntas a você, a primeira é: quem é a Geração Mudança?
Quais os fatores que propiciaram o surgimento dela? - A Geração Mudança é um termo que uso para descrever duas coisas: a primeira é essa era em que estamos vivendo agora,
tempos de mudanças rápidas, em alta velocidade, que mostra poucos sinais de ir mais devagar. E Geração Mudança também se refere a um grupo de pessoas,
aos tipos de pessoa que estão melhor posicionados a crescer em um ambiente que tem se desenvolvido tão rápido. E quando falo sobre Geração Mudança,
esse grupo não é definido pela sua idade cronológica. Você pode ter a sua idade, ou a minha, ser mais velho ou mais novo,
e ainda assim ser um membro da Geração Mudança. O que te torna um membro é a sua mentalidade, sua atitude, uma vontade e uma habilidade de se adaptar
criativamente a todas essas mudanças que surgem para nós. - Perfeito... Podemos dizer que a Geração Mudança,
ao invés de criativamente adaptar-se à mudanças, está rapidamente produzindo novas mudanças? - Bom, isso é verdade, a geração que se adapta às mudanças
ou também acelera essas mudanças. Então as mesmas pessoas que podem ver oportunidade em um mundo que parece caótico.
Essas também são as pessoas que estão criando novos negócios e ideias que internamente encorajam isso. Falamos frequentemente de empresas como a Apple, Google, Amazon e Facebook,
essas empresas mudaram muito, e estão colocando pressão umas nas outras, e então aceleram as mudanças que se dão ao seu redor,
e então elas pressionam todas as outras empresas a se questionarem como continuarão avançando. Então, a Geração Mudança está reagindo a um cenário,
mas também está criando e acelerando aquele cenário. - Nos últimos anos, vimos alguns choques geracionais no mundo dos negócios, como os que o Spotify, Uber, Netflix proporcionaram.
Esses choques são uma parte essencial na Geração Mudança? - Sim, acho que novas ideias, ideias disruptivas nos negócios estão sempre gerando conflito.
Elas geram conflito pois, muitas vezes, assustam as pessoas, são diferentes. Também assustam modelos de negócios. Se você está na indústria musical, acostumado a vender CDs,
e agora as pessoas escutam música no Spotify, todo o seu negócio mudou. Mas a razão pela qual esses negócios foram bem sucedidos,
é porque eles tocam uma necessidade que os consumidores têm e que eles estão satisfazendo. E a tecnologia acelera todas essas coisas.
Não é requerido que a tecnologia esteja envolvida, mas a tecnologia tem esse papel, sabe? Hoje, toda empresa é, e precisa ser, uma empresa de tecnologia, certo?
Antes, você era uma empresa elétrica porque usava eletricidade, todos usam eletricidade. Bom, todo mundo também usa tecnologia,
e todos precisamos ser proficientes nisso, e descobrir como usá-la para nos provocar disrupção e também nos outros. - Essa nova habilidade está mais relacionada com entender
os consumidores que mudam ao redor do mundo? Ou produção de novas ideias, novas soluções, ou criando algum tipo de novidade?
- Nesse mundo, não é um "ou", é um "e". É um "ambos". Portanto, você precisa fazer ambos ao mesmo tempo.
Você está respondendo ao consumidor e você está liderando o consumidor. Ninguém ligou para o Steve Jobs, e disse:
"Olá, preciso de um iPod!" E houve players de música antes do próprio iPod. Mas a forma com que o dispositivo foi desenhado,
e a forma com que o iTunes foi desenhado, encorajam as pessoas a precisar de algo que elas não pensavam precisar.
Que não existia antes. Isso é que visão realmente significa no negócios. É ver um mundo que ainda não existe,
e ajudar a criá-lo. - Perfeito. E o que as empresas tradicionais podem e devem aprender com a Geração Mudança, em termos de negócios?
- Acho que para empresas tradicionais, a dificuldade é um mundo que muda rápido, altamente. E de novo, se você é uma empresa do ramo da música,
e o Spotify aparece, seu negócio desaparece. As empresas tradicionais precisam encontrar uma forma
de fazer uma autodisrrupção para usar as ideias da Geração Mudança dentro de si mesmas para estarem aptas a tornar-se empresas mais rápidas.
Se não o fizerem, serão liquidadas por alguma outra. E talvez isso seja bom, talvez isso precise acontecer algumas vezes.
Mas mesmo se você é uma empresa que vende carros, e no futuro esses carros serão capazes de se autodirigir, você precisa pensar no seu produto, e na sua relação com o seu funcionário
em maneiras muito diferentes. E esse é o desafio para empresas tradicionais.
- E sobre a visão quântica do mundo poder mudar a forma das empresas pensarem em modelos estratégicos e processos de tomada de decisões?
- Nosso mundo tem geralmente sido construído sob um modelo de física de Newton, uma ideia de causa e efeito onde estabilidade é o objetivo primário de uma empresa,
organização e sociedade. Ser estável, ser o mesmo. A física quântica nos mostra que em um nível subatômico,
nós podemos entender o mundo de uma forma mais sofisticada. Estabilidade não é o objetivo. Ao invés disso, o objetivo é o movimento.
Isso nos permite alcançar coisas que não alcançaríamos. Então, ao observar uma empresa com uma visão quântica, você precisa se entender enquanto uma entidade que evolui,
ter o que costumo chamar de uma cadência de mudança na sua organização. E não tentar manter a organização a mesma amanhã e hoje.
Como posso criar um ambiente onde essa empresa pode ser o seu próprio organismo e pode continuar avançando e mudando através do tempo. - E como os governos podem adaptar-se a esse mundo de constantes mudanças?
Precisamos de mais políticos da Geração Mudança?
- Acho que os governos estão tendo um momento difícil ao lidar com um mundo que muda tão rapidamente como o mundo em que estamos inseridos.
Há uma tendência de querer criar estabilidade que faz parte do papel do governo na nossa sociedade, criar estabilidade... E sempre que há mudanças, há algumas partes da população
que irão resistir. Se você é um político e está tentando fazer todos felizes, não dá, se você está liderando pessoas.
O risco do governo é que o seu papel tem se tornado menos relevante, pois o mundo se move mais rápido do que eles conseguem acompanhar. Se você pode fazer algo por si mesmo, sem a ajuda do governo,
para que o governo existe? Ao mesmo tempo, se os governos conseguirem se adequar as tecnologias e ideias por trás de algo como a Geração Mudança,
a eficiência e efetividade podem melhorar. Não o torna mais simples de operar, o mundo da Geração Mudança não é necessariamente mais simples,
mas pode ser mais efetivo e mais eficiente. - Mas os governos precisam seguir esse novo mundo... - Não acho que o governo tem uma escolha.
Não há escolha, a não ser reconhecer que a forma com que o mundo se move é algo que o governo precisa seguir. Alguns governos irão encontrar uma forma de encontrar o caminho,
outros irão resistir e serão empurrados, mas se o futuro for mesmo um futuro mais tecnológico, onde interagimos com dispositivos como este,
então o seu governo precisa interagir com você a partir de dispositivos como este, e se não o fizer, não será capaz de interagir com a população que objetiva alcançar.
- Esse é um ótimo conselho para os nossos políticos aqui no Brasil, com certeza.
Hoje, com as habilidades multitarefas em evidência, perfis multitarefas começam a ser mais desejáveis e mais aprensentáveis no mercado.
Pensando nisso, como você enxerga o futuro do trabalho? - Quando assisto meus filhos fazendo as tarefas de casa, e ao mesmo tempo estão conversando com seus amigos, escutando música,
e assistindo um vídeo, eu penso: "Como eles conseguem?"
Mas escolhi acreditar que eles estão construindo habilidades que são valiosas no mundo em que estamos.
Acho que todos precisamos ser multifuncionais, acho que sempre fomos, mas também acho que precisamos saber quando ter foco.
E ter essas duas habilidades, de poder focar e ser multitarefa é mais importante. O mundo do trabalho, entretanto, está mudando muito rapidamente
e a partir do momento em que novas gerações, gerações digitalmente nativas adentram ao mercado de trabalho, que a forma com a qual trabalhamos, nossa relação com as empresas,
com as nossas próprias companhias, mudará.
Não acho que as novas gerações serão tão leais no sentido tradicional às empresas tradicionais. Não acho que isso as tornam desleais,
acho que significa que eles reconhecem a realidade, que é: as empresas são menos leais a eles. E, portanto, o dever está neles próprios para desenvolver habilidades,
e competências que eles necessitam para desenvolver necessidades pessoais. A longo termo,
sua empresa tem uma missão, e você pode ter uma missão enquanto trabalhador. E quando essas duas coisas se alinham,
algo especial pode acontecer. E quando essas coisas divergem, vocês devem seguir em direções opostas.
E isso acontecerá ao longo do curso da vida das pessoas. Então os sistemas educacionais que nós temos são construídos para um mundo Newtoniano.
Sentamos em filas na sala de aula, somos ensinados algumas coisas específicas que sabemos que vamos precisar...
- E as respostas ainda estão lá para os problemas... - Acho que assim como qualquer instituição, as instituições educacionais precisam ser constantemente reavaliadas
e adaptar-se. Precisam se adaptar ao mundo em que estamos inseridos e também à população a quem está servindo, os estudantes que entram.
No mercado de trabalho, o costumeiro era que a tecnologia usada no mercado de trabalho era a tecnologia que era fornecida a você.
OK? Hoje, as pessoas vêm ao trabalho com a sua própria tecnologia. Então as empresas precisam se ajustar e dizer:
"Bom, se esse é o celular que você usa, o computador que você usa, então preciso te permitir a trabalhar nessas plataformas.”
As instituições educacionais precisam fazer a mesma coisa, os estudantes que entram estão acostumados a trabalhar de certas formas e em certas plataformas,
e as instituições precisam se ajustar para prover serviços e trabalhar efetivamente nessas plataformas e se elas não o fizerem,
os estudantes vão aprender de uma outra maneira. - Com certeza. Você tem algum exemplo de líderes ou empreendedores brasileiros,
ou latino-americanos que correspondem ao perfil da Geração Mudança? - Existem, tenho certeza, muitos milhões de latino-americanos e brasileiros que têm o perfil da Geração Mudança.
Todos temos, dentro de nós mesmos, um pouco de Geração Mudança e também um pouco que não tem a ver. E podemos aprender a ser mais Geração Mudança.
De novo, você pode ter qualquer idade e pertencer a isso. Então, a chave é se você deseja fazer parte desse grupo.
E se você quer fazer parte desse grupo, como se abrir e assumir esse riscos? Há risco envolvido ao tentar novas coisas.
E algumas vezes você irá falhar. O que digo para o meu grupo, para minha equipe em Nova Iorque, digo que todo o dia em que a porta está aberta
é um bom dia. Vamos aproveitar, vamos nos divertir. E se algum dia a porta não abrir, faremos algo diferente.
Mas não vamos nos preocupar tanto com isso. Precisamos estar preparados para tentar novas coisas e falhar nelas e aprender com elas,
para estarmos aptos a crescer. E é isso que está implícito na Geração Mudança não importa onde você viva.
Tenho visto essa mentalidade de Geração Mudança além das fronteiras e por todo o mundo. Por conta do cenário em que essa geração tem respondido,
que é um cenário global. O caminho da mudança, as mudanças tecnológicas, mudanças culturais que estamos vivendo nos EUA,
que também vemos no Brasil, vemos na China...
Está além das fronteiras, e isso é algo que cria a necessidade para uma Geração Mudança e também cria oportunidade para isso.
- Obrigado, é um prazer ter você aqui, foi uma ótima conversa e estou muito feliz por ter te entrevistado. Muito obrigado. - Obrigado por me receber.
Eu fico muito feliz.