Em palestra realizada na HSM Expo, o psicólogo israelense Tal Ben-Shahar fala sobre a importância de manter uma atitude otimista e focar nos aspectos positivos da vida – e por que isso é diferente de ignorar nossos problemas
Transcrição:
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Estou feliz de estar falando com vocês sobre liderança positiva, psicologia positiva, a ciência da felicidade hoje. O que é psicologia positiva? O que é liderança positiva?
O que espero que levem da apresentação de hoje é: a psicologia positiva, a ciência da felicidade se trata de simplesmente focar no que funciona.
É isso.
Mas o que isso significa na verdade?
Então, se eu for a um terapeuta, a um psicólogo hoje, qual é a primeira pergunta que é provável que me faça? Um psicólogo provavelmente me perguntará: o que está errado?
O que não está funcionando na sua vida? Quais são os problemas com os quais quer lidar? Ou se minha esposa e eu formos a um terapeuta de casais,
qual é a primeira pergunta que é provável que nos faça? Provavelmente nos perguntará: o que não está funcionando no seu relacionamento? Quais são os problemas? O que precisamos consertar e trabalhar?
Ou se um consultor chegar à minha empresa,
quais são as primeiras perguntas que vai fazer? Perguntará: o que não está indo bem na sua organização? O que precisamos consertar no seu departamento?
Quais são seus pontos fracos como gerente, como líder? Agora, essas são boas perguntas. São perguntas muito boas de se fazer. No entanto, não são suficientes.
Mais e mais pesquisas na área de psicologia e na área de comportamento organizacional estão mostrando que se quisermos alcançar o potencial, seja da organização, ou do relacionamento, ou do indivíduo,
precisamos começar com um outro conjunto de perguntas. Então, um terapeuta que é treinado em psicologia positiva começaria perguntando:
Tal, o que está funcionando na sua vida? O que está indo bem? Ou um terapeuta de casais primeiramente perguntaria à minha esposa e eu:
o que está funcionando no relacionamento de vocês?
Não estariam aqui se nada estivesse indo bem. Ou um consultor organizacional começaria perguntando: o que está indo bem no seu departamento?
Quais são seus pontos fortes como líder, gerente?
O que está funcionando? Vamos começar com isso, e então trabalhar nas coisas que não estão.
A psicologia positiva não diz: vamos ignorar os problemas. Vamos ignorar o indivíduo, ou o relacionamento, ou os problemas organizacionais pelos quais está passando. Vamos focar nisso também.
E vamos também focar nas coisas que não estão funcionando. Nas palavras do professor Martin Seligman, que é considerado o fundador do campo da psicologia positiva:
"O objetivo da psicologia positiva é catalisar a mudança na psicologia de uma preocupação só com reparar as piores coisas na vida para também construir as melhores qualidades na vida."
Com ênfase no 'também'. A psicologia positiva não diz: vamos ignorar os problemas, as coisas que não estão funcionando. Ao mesmo tempo, diz:
vamos também não ignorar as coisas que estão funcionando. Em outras palavras, o que está dizendo é: vamos olhar para todo o panorama.
Eis os três segredos para felicidade e os três segredos para ótima liderança. Estão prontos? Muito bem, vamos lá.
O primeiro segredo
para felicidade e liderança, o primeiro segredo é:
realidade.
O segundo segredo é: realidade.
Estão prontos para o terceiro segredo? Realidade. Entenderam.
Quando perguntaram a Jack Welch quando ele foi escolhido como o CEO líder do século 20 pela revista Fortune, perguntaram a ele: “Que conselho tem para os gerentes e líderes surgindo?”
A resposta dele foi: Aprendam a encarar a realidade.
Aprendam a encarar a realidade. O que está funcionando assim como o que não está. Os problemas assim como suas soluções.
Olhar o todo. E é disso que se trata a psicologia positiva.
Porque por muito anos temos focado demais nos problemas, nas coisas que não estão funcionando. E a psicologia positiva diz: “Precisamos olhar para essas coisas também.
Mas também olhar para as coisas que estão funcionando.”
Então, em exemplos, na realidade, encontramos inspiração. E aprendemos a superar dificuldades e adversidades.
Sabemos como ensinar pessoas a focarem em seus pontos fortes.
Na verdade, vou fazer isso por vocês agora. É fazendo duas perguntas. A primeira pergunta é: quais são os seus pontos fortes?
Em outras palavras: no que você é bom? É um bom pensador estratégico? É um bom ouvinte? É muito bom na frente de uma audiência, ou é bom em grupos pequenos?
Quais são os seus pontos fortes? No que é bom? É bom em matemática? Ou é bom em escrever?
Essa é a primeira pergunta a fazer: No que é bom? Ou quais são seus pontos fortes? A segunda pergunta a fazer é: o que te dá força? Em outras palavras: o que te inspira? O que te fortalece?
É quando pensa estrategicamente? É isso que te dá energia? É quando ouve? Quando está na frente de uma audiência? Ou quando está em um grupo pequeno de pessoas?
É quando sai para uma caminhada externa?
Ou quando faz matemática? Ou quando faz planilhas? O que te dá força?
Essas duas perguntas: quais são seus pontos fortes? E o que te dá força? Se fizer uma lista, ou se ajudar seus filhos a fazerem uma lista, ou seus funcionários, e encontrar a intersecção entre as duas listas;
essa é a sua área de pico de desempenho. É aí que está no seu melhor. E quando as crianças foram capazes de encontrar essa área, essa intersecção,
se tornaram mais resilientes, mais felizes, melhores sucedidas. O que é mais importante para você? Focar em pontos fracos ou nos seus pontos fortes?
O que é mais importante? Focar nos seus pontos fracos ou nos seus pontos fortes? A maioria das pessoas por todo o mundo, seja no Brasil, nos seus vizinhos,
ou na Argentina, México, EUA, ou seja no Egito, nos 63 países; a grande maioria das pessoas por todo o mundo disse: é mais importante focar nos pontos fracos. Por quê? Porque realmente preciso trabalhar
nos meus pontos fracos se quiser melhorar.
Bem, acontece que a maioria das pessoas está errada. A minoria que focou em pontos fortes; lembrem-se, ela não ignorou seus pontos fracos,
mas primeiramente focou em seus pontos fortes, no que era boa, e no que dava a ela força e a inspirava, essas pessoas foram muito melhores sucedidas.
Essas pessoas foram muito mais felizes.
Essas pessoas foram mais resilientes.
Lembram-se daquelas crianças que focaram em seus pontos fortes? Mas sabem, isso é só uma correlação, esse estudo.
Então, foram um passo além e ensinaram pessoas a focarem em seus pontos fortes fazendo-lhes as duas perguntas: quais são seus pontos fortes? E o que te dá força? E essas pessoas se tornaram melhores sucedidas.
Fizeram outra pergunta, isso foi em empresas. Foram a empresas, novamente, em 63 países por todo o mundo. E perguntaram: “No trabalho, você faz o que faz melhor todo dia?”
Em outras palavras: você exercita seus pontos fortes com frequência regular? E a maioria das pessoas na maioria dos países disse que não.
A minoria que disse sim fazia parte de empresas que eram as de mais sucesso.
E então foram falar com gerentes sobre como ajudar seus funcionários a focarem mais em seus pontos fortes.
Esses gerentes, empresas e funcionários se tornaram melhores sucedidos.
Olhem o que acontece quando se foca no que funciona.
Provavelmente o estudo mais famoso no meu campo, o de psicologia positiva, foi o feito sobre gratidão.
O estudo foi feito quando pediram a pessoas todos os dias antes de dormirem para escreverem sobre coisas pelas quais eram gratas; grandes ou pequenas coisas.
Pessoas que escreveram sobre coisas pelas quais eram gratas foram mais felizes, mais otimistas, tinham mais probabilidade de alcançar seus objetivos,
eram mais generosas, mais gentis com outras pessoas, e ficaram mais saudáveis fisicamente.
Durante décadas os psicólogos realmente queriam ajudar aquelas crianças naquelas vizinhanças. Então, fizeram uma pergunta de pesquisa, que foi: por que esses indivíduos fracassam?
E através da pergunta deles, definiram uma realidade. E na realidade que eles definiram,
não havia solução para os desafios com que essas crianças estavam se deparando. Então, não importava o quão inteligentes aqueles psicólogos eram. Não importava quais boas intenções tinham.
Não importava quantos milhões eram gastos nesses programas. Não conseguiam ajudar essas crianças. Porque na realidade que eles definiram,
ninguém mais, eles definiram através de sua pergunta, não havia solução. E, de repente, nos anos 80, a pergunta mudou.
E ao invés de perguntarem por que esses indivíduos fracassam, começaram a perguntar: o que faz com que alguns indivíduos tenham sucesso apesar de circunstâncias desfavoráveis?
E essa pergunta define uma nova realidade.
E nessa nova realidade: claro, é resiliência. Claro, é focando nos pontos fortes. Sim, é tendo uma noção de propósito. Sim, é quando têm exemplos a seguir.
É ensinando a elas otimismo.
É exercício físico.
Mas claro, está bem na frente dos nossos olhos.
Porque mudaram a pergunta. E com a pergunta, mudaram a realidade. E então, nós passamos por nossas vidas,
seja nos últimos 30, 60 ou 70 anos; passamos por nossas vidas todos os dias
fazendo perguntas e definindo a realidade para nós mesmos, para os nossos colegas e funcionários, filhos e parceiros.
Criamos a realidade, nem sequer percebendo que isso é o que estamos fazendo. Pensamos que a realidade é só feita para nós, não percebendo que somos parte da criação dessa realidade para nós mesmos e para os outros.
Imaginem nas suas organizações, imaginem inundar suas organizações inteiras com perguntas como essas. Seja: quando estamos no nosso melhor?
Ou: quando nos sentimos inspirados? Ou: como podemos criar experiências excepcionais para os nossos clientes?
Faz uma grande diferença, porque perguntas criam realidade.
Essa provavelmente é a pergunta-chave a se fazer:
o que posso apreciar? Sobre qualquer coisa: meus filhos? Meu parceiro, meu parceiro maravilhoso e imperfeito? O que posso apreciar sobre eu mesmo?
Ou sobre o mundo? Sobre meu país?
Sabem, disseram sobre Gandhi que a coisa mais importante que ele fez pela Índia é que ele tornou a Índia orgulhosa de si mesma.
A Índia era perfeita em 1947 quando ganhou sua independência? Claro que não. A Índia é perfeita hoje? Claro que não. Nenhum país foi e nunca será.
Mas o que Gandhi entendeu e o que todos os grandes líderes entendem
é que se quer trazer mudança, precisa começar com o que está funcionando, o que pode apreciar, o que pode te dar orgulho. E isso se aplica a você mesmo.
E não precisa esperar por algo trágico acontecer para fazer isso. Isso se aplica ao seu parceiro, seus filhos, sua organização, seu país. E se começar a pensar sobre os tipos de perguntas que faz
e criar uma nova realidade? Dia após dia, comece a fazer seus próprios sanduíches.
Comece a fazer sanduíches para outros que são deliciosos, que fazem o melhor do que o nosso mundo maravilhoso e rico tem para oferecer.
Só imaginem se cada pessoa nessa sala começar a pensar sobre os tipos de perguntas
que fazemos. Só imaginem o tipo de realidade que podemos criar juntos. Muito obrigado.