Inimigo ferrenho do Império Romano, Aníbal Barca foi um dos maiores estrategistas militares da história, à altura de líderes como Alexandre Magno e Júlio César. Nasceu em 247 a.C., na antiga Cartago (próxima à atual Túnis, capital da Tunísia), então a grande potência com a qual Roma disputava a supremacia comercial na zona do Mediterrâneo.
Filho do general Amílcar Barca, líder do exército cartaginês que, derrotado por Roma na Primeira Guerra Púnica, iniciou uma série de conflitos armados entre os povos, o menino Aníbal acompanhava o pai no campo de batalha. Como reza a lenda, o pai o teria feito jurar ódio eterno aos romanos diante dos deuses. Quando já era general, Aníbal dedicou-se a conquistas que demonstraram sua perícia no comando e saciaram a sede de ouro dos ambiciosos aristocratas púnicos. Percorreu todo o interior da Península Ibérica, onde Cartago se instalara para recuperar-se das perdas materiais sofridas na primeira guerra contra Roma, e, ao fim de dois anos, já com grande popularidade, estava pronto para enfrentar os romanos.
Em 219 a.C., iniciou a Segunda Guerra Púnica, durante a qual liderou uma das grandes façanhas da história militar, que manteve em xeque o Império Romano durante mais de uma década. Ele partira da Península Ibérica em 218 a.C., com um grande exército e quase meia centena de elefantes de guerra. Com eles, cruzou o rio Ródano e atravessou os Pireneus e os Alpes com a meta de conquistar Roma. Ninguém antes havia realizado algo semelhante –Napoleão Bonaparte o repetiria, mas só 20 séculos depois.
Após três vitórias espetaculares (a de Canas foi a maior), nas quais se distinguiu por sua capacidade de determinar as forças e fraquezas próprias e dos oponentes, conseguiu dominar o sul da Itália. No entanto, em razão da falta de alimentos e reforços e das muitas baixas, ficou imobilizado durante anos e não conseguiu cumprir seu objetivo de submeter a cidade inimiga.
Roma encontrou, então, a oportunidade de contra-atacar. Depois de expulsar os cartagineses da Península Ibérica, o cônsul e general romano, Cipião invadiu o norte da África, aplicando táticas que aprendera com Aníbal, e forçou-o a afastar-se de Roma para voltar a Cartago, onde foi vencido definitivamente na batalha de Zama, em 202 a.C. Com isso, Cartago se viu obrigada a firmar um acordo de paz humilhante, que pôs fim ao sonho de criar um grande império no Mediterrâneo.
De volta a sua cidade natal, Aníbal foi eleito juiz supremo do Senado, cargo em que mostrou seus dotes de estadista e tentou reconstruir o poderio militar cartaginês. Entre outras medidas, implementou reformas políticas e financeiras que permitiram a seu povo pagar a altíssima indenização de guerra imposta por Roma. Temerosos da nova prosperidade de Cartago, os romanos cercaram o chefe púnico, que partiu em segredo.
Refugiou-se na corte do rei Antíoco, da Síria, e convenceu-o a enfrentar Roma, ao mesmo tempo que negociava uma aliança com Felipe V, da Macedônia. Antíoco, porém, foi derrotado, e Aníbal precisou novamente buscar refúgio, dessa vez na corte de Betínia, onde obteve a última vitória militar de sua vida, diante de uma frota da cidade de Pérgamo (na atual Turquia).
Aníbal foi um dos personagens históricos mais admirados pelo “pai” da psicanálise, Sigmund Freud, que via paralelos entre a Roma combatida pelo líder cartaginês e sua Viena imperial. Várias de suas frases passaram para a história, como “Ou encontrarei um caminho ou farei um” e “Não vim derrotar os italianos, mas ajudá-los a derrotar os romanos”.
Em 183 a.C., ante a iminente captura pelos romanos, Aníbal Barca decidiu acabar com a própria vida, tomando o veneno que sempre levava em seu anel.