Em participação no evento HSM Business Summit 2015, Tom Kelley, sócio e general manager da empresa Ideo e autor do livro "Confiança Criativa", fala sobre a cultura de inovação e as habilidades necessárias para colocar uma nova ideia em prática
Transcrição:
Clique na frase para navegar pelo vídeo
Olá Tom. Foi uma palestra tão inspiradora que acabou de nos dar aqui hoje na HSM. Bem-vindo de volta ao Brasil. Muito obrigado.
Seu último livro, "Creative Confidence"; pode nos falar um pouco dele e das suas abordagens para confiança criativa? Claro. O livro é realmente sobre 2 coisas.
Se trata da habilidade natural humana de conceber uma ideia nova, quando pensa mesmo, todos possuem isso, combinada à coragem de agir sobre a ideia.
Porque muitas ideias não são levadas para frente, as pessoas não levantam a mão em uma reunião para expressar sua ideia. Não a perseguem, não tentam implementá-la, não fazem o protótipo dela.
E então, precisamos de ambos, precisamos dessas ideias, mas precisamos transformar ideias em ação. E isso é realmente confiança criativa, é transformar essas ideias novas. E então, isso é realmente confiança criativa.
É não só as pessoas terem uma ideia, mas estarem dispostas a levantar a mão e falar dela, ou estarem dispostas a construir seu primeiro protótipo da ideia,
para que tenha uma chance de aparecer no mundo. As pessoas às vezes se confundem nessa ideia do protótipo, certo? Pensam em objetos complexos que levam meses para construir,
e acabou de nos dar uma ideia: pode ser simples, rápido. Claro. Quer estar pensando em qual é a forma mais rápida e barata que pode fazer sua ideia vir à vida.
Chamamos isso de pintar uma imagem do futuro com sua ideia nele. E então, se puder fazer seu protótipo em uma hora, e temos muitos exemplos do protótipo de uma hora;
então não devia gastar uma segunda hora, não devia gastar um dia. Porque é perda de tempo. Se uma hora te leva ao resultado que busca, então pare em uma hora.
E então, parte da mágica ou da técnica de fazer protótipos é descobrir como fazer mais rápido e mais barato para que possa levar mais ideias. Nos mostrou uma abordagem única para confiança criativa hoje.
E nos deu 4 abordagens, orientações para confiança criativa. -Pode comentar sobre isso, por favor? -Claro. É o seguinte: criatividade e inovação em si é um pouco genérico demais
para pessoas agirem sobre elas. Então, se o chefe entra, se o CEO fala com toda a empresa e diz: "Quero mais inovação, mais criatividade." Bem, o que isso quer dizer exatamente, certo?
E então, o que descobrimos com a experiência é que tem que separar os ingredientes essenciais. E então, 4 ingredientes dos quais falei hoje: um se trata de misturar humanidade com sua tecnologia.
As pessoas amam sua tecnologia, amam sua oferta de produto e serviço, mas tem que sempre estar pensando nos humanos. Então, há a mistura dos fatores humanos no seu trabalho.
O segundo se trata de tratar a vida como um experimento: estar disposto a fazer protótipos, a experimentar, sabendo que alguns experimentos fracassam,
mas usando o fracasso ou a tentativa e erro como uma forma de seguir adiante. -E tudo bem fracassar, certo? -Sim. Bem, na verdade, é melhor se há uma possibilidade de fracasso
se puder a estabelecer como um experimento. Fale para o seu chefe que é um experimento, fale para o seu cliente que é um experimento. Então, se fracassar, não é danoso à carreira, porque disse:
"Lembra? Foi um experimento." Então, há humanidade, experimentos. Há construir uma organização que aprende. Não importa o quão bom fique, o quão inteligente seja,
o quão alto sua empresa chegue, sempre tem que continuar a aprender. E a história dos empreendimentos é cheia de empresas que pensavam ser tão boas que não precisavam continuar a melhorar.
E então, quer ter um empreendimento que aprende, que está sempre aprendendo, se adaptando, trazendo novas percepções e agindo a respeito delas. E então, o quarto assunto do qual falei hoje foi o poder de contar histórias.
Tem dados, tem especificações, informação sobre sua empresa. Mas dados são frágeis, são muitos fáceis de esquecer, ou até de não entender da primeira vez; enquanto que histórias,
se tem dados ou informação que pode amarrar em uma história, a história carregará sua mensagem adiante. As pessoas se lembrarão da sua história, as pessoas contarão sua história a outras. E isso é realmente o que quer ter.
Muito bem.
Então, como promove a cultura da inovação? -Claro. -Em organizações do século 21, onde as pessoas têm um acesso enorme à informação?
Certo. Então, achamos que uma parte disso é fazer com que equipes desde o início adotem isso elas mesmas. Então, vai quase em uma jornada junto com a equipe,
ao invés da gerência tomar todas as decisões e então dizer à equipe o que fazer. Se uma equipe é dona de sua ideia desde o início,
então é mais provável que a leve adiante. Por exemplo, no setor de saúde, seguimos enfermeiras em hospitais e tentamos entender suas vidas.
Mas se tivéssemos uma ideia para essas enfermeiras que viesse da gestão sênior, a enfermeira dizia: "Olhe, estou cansada, ando o dia inteiro, não tenho espaço na minha vida para outra ideia."
Mas se trabalhar com as enfermeiras e tiver ideias juntos, e fizer o protótipo de uma ideia juntos, a ideia é delas.
Então, não se empurra a ideia. Elas já são donas dela. E então, acho que há uma metodologia que pode usar, ou pode usar uma abordagem
na qual se torna sua ideia desde o início, ao invés de uma ideia sendo empurrada nelas. Pensamento em design é a coisa hoje em dia, certo? As pessoas amam falar disso,
escrevem livros sobre isso, empresas dizem: "Somos uma empresa orientada para o design." O que é pensamento em design? E por que é tão popular atualmente? Quer dizer, acreditamos que inventamos o termo, mas é difícil dizer.
Não estamos tentando assumir propriedade no mundo. Amamos que foi tão amplamente adotado, certo? Mas então, pensamento em design realmente, a razão pela qual é tão popular
é que enfrentamos novos desafios. Os desafios para líderes de negócios são mais difíceis do que jamais foram. Todos estão competindo em mercados globais.
Todos estão tentando sobreviver, fazer mais com menos, trabalhar com menos recursos ou com menos custo. E então, enfrentamos desafios novos para o mundo, ou novos para nós.
Todos estão buscando abordagens novas. E então, o pensamento em design realmente é só a metodologia, é a abordagem que designers têm usado por 100 anos.
Mas estamos só a aplicando além da área estreita do design. E então, o pensamento em design pode ser aplicado a qualquer problema no mundo. Estamos aplicando na educação, saúde,
e sabe, no acesso à água potável em países em desenvolvimento, e coisas assim. E então, o que é pensamento em design? É aquela mentalidade dos designers,
mas alguns elementos-chave disso são: começar com empatia e tentar entender humanos mais profundamente, se trata de experimentação e fazer protótipos,
dizendo que é assim que aprendemos, aprendemos com a tentativa e erro, se trata de contar histórias, da habilidade de levar sua ideia. Uma vez que realmente acredita nela,
a leve para o mundo através do poder de contar histórias, ao invés de tentar empurrá-la para o mundo, -fazer com que o mundo a adote. -Mas por que é tão difícil
para gerentes pensarem como designers? Quer dizer, parece para mim, às vezes, que designers são de Marte e negócios são de Vênus, ou o que seja.
Bem, estamos realmente... Os desafios em que a IDEO trabalha hoje não se encaixam bem nessa categoria chamada de design. Quer dizer, estamos criando novos sistemas de educação para nações e coisas assim.
E então, a linha está realmente ficando indefinida agora entre negócio e design, certamente. Mas sabe, uma parte da resistência é que as pessoas têm sua zona de conforto.
Sabe... Um executivo sênior que fez seu programa de MBA há 30 anos
aprendeu... Sabe, meu MBA foi nessa época. E aprendemos planilhas, análise, e então essa é a sua zona de conforto. Quando enfrenta um problema, sempre quer analisá-lo, sabe, dividi-lo em suas partes componentes.
E para alguns problemas essa é uma ótima abordagem. Mas, há alguns problemas, especialmente os multidisciplinares, os muito complexos que estão por todo o empreendimento,
esses problemas pedem uma abordagem de pensamento em design, para primeiro tentar entender, entender o aspecto humano dele. E então, não estamos dizendo que o pensamento em design
é melhor em todos os casos do que a abordagem analítica da zona de conforto que outros usam. Mas só quer ter mais ferramentas na sua caixa. Quando enfrenta novos desafios, quer ser capaz de dizer:
"Eis um onde realmente preciso das minhas habilidades de pensamento em design." Não só precisamos de novos conceitos, mas de novas métricas para inovação. Muitas pessoas sabiam que eu estava vindo para te entrevistar.
Muitas pessoas de análise e consultoria disseram: "Pode perguntar a Tom Kelley o que ele acha do big data?" -Usa big data na sua rotina diária? -Sim, usamos.
Então, achamos que há um meio termo. Começando com empatia, sai e faz esse trabalho qualitativo. Observa humanos, um de cada vez.
E achamos que obtém muita inspiração disso. Até em um mundo de big data achamos que quer olhar indivíduos. Porque não está olhando para o passado. O big data captura o passado muito bem.
Mas se está olhando para o futuro, está buscando dicas do futuro que vivem no mundo de hoje. E isso ocorre com indivíduos, certo?
Mas então, há o big data que é muito valioso e cada vez mais valioso. Achamos que há algo no meio. E chamamos de percepções híbridas. E o que faz com percepções híbridas é que pode pegar seu trabalho qualitativo
e tentar expandi-lo, tentar fazer trabalho com grupos maiores e ver como expande. Mas também vai para outra direção. Porque todos os nossos clientes agora usam big data.
E o que vemos é que quando está só olhando para o big data, é muito fácil estereotipar pessoas, colocá-las nas categorias que se encaixam nos dados.
Mas os dados não são os humanos. Quer entender os humanos. E então, com as percepções híbridas o que tentamos fazer é fazer o big data adquirir vida.
Então, haverá um pedaço dos dados, e está só olhando para ele como um gráfico ou uma planilha. O que fazemos é pegar o grupo representado nesse pedaço e o levamos à vida em um humano.
E dizemos: "Esse pedaço aqui, conheça a Maria." Maria é quem é representada pelos dados. Mas olhe para Maria. Ela é um pouco mais complicada do que os dados sugerem. Maria é uma mãe solteira.
E assim que fala mãe solteira, imagina todas essas coisas. Mas olhe, a Maria não se encaixa perfeitamente nesse modelo. Maria está indo a aulas à noite, está jogando em um time de basquete feminino.
Não está fazendo tudo o que imagina só dos dados. Então, essas percepções híbridas tanto expandem os dados qualitativos quanto trazem o big data à vida.
Porque às vezes, se pensa nesse big data como os humanos sob os dados, isso te ajuda a tomar decisões melhores. Bem, você e seu irmão, David, criaram uma ótima empresa.
Milhões de pessoas a admiram por todo o mundo. Como contrata seu próprio pessoal? Sim, levamos contratações muito a sério.
Porque há empresas... Sabe, vimos uma apresentação ontem da Brasilata. E tem fábricas, tecnologia, e muitas coisas próprias. Temos uma coisa: temos talento.
E então, se está baseando toda a sua empresa na qualidade e na criatividade das pessoas que tem, é melhor levar contratações muito a sério. E então levamos.
E então, fazemos com que todos passem por muitas entrevistas antes de serem contratados, certo?
Estamos sempre buscando o que chamamos de uma pessoa com forma de T, que é alguém como a parte vertical do T, alguém que é muito aprofundado em uma disciplina: pode ser um ótimo engenheiro,
ou um ótimo antropologista, ou uma ótima pessoa de negócios, ou ter certas percepções. Mas se têm só isso, chamamos de uma pessoa com forma de I.
São quase estreitas em seu campo e às vezes não jogam bem com outros. Mas precisamos que sejam não só muito aprofundadas em um assunto, mas um pouco amplas em outros assuntos. Queremos o engenheiro que também
faz vídeos em seu tempo livre, ou que é um skatista, ou algo assim: que tem pontos de conexão que outras disciplinas possam trabalhar com ele. E isso também é muito importante: precisamos de que a pessoa aprofundada
na sua própria especialidade seja tolerante e respeitadora com as outras disciplinas. Porque se olharem de forma estreita, pensam que a sua disciplina é melhor que a deles. Mas queremos a pessoa que diz: "Sim, minha disciplina é muito importante,
mas aquela outra disciplina traz minha ideia para vida." Se é o engenheiro que cria algo, precisa das pessoas de marketing para, de fato, levar seu produto para as mãos das pessoas.
E então, não podemos ter alguém que despreza as outras disciplinas. Queremos que joguem, trabalhem como iguais. Airbnb é uma ideia tão boa, mas não têm nenhum hotel.
Acha realmente que estamos prontos para enfrentar um mundo diferente? Com a Internet... -Bem... -Com carros que podem se dirigir por si...
Sim, quer falar de carros que podem se dirigir? Então, às vezes, o futuro de uma indústria é incerto. Quando se diz: “O que vai acontecer em seguida com jornais?”
“O que vai acontecer em seguida com…” Há muitas indústrias desafiadoras por aí. Carros sabemos com certeza. E então, lhe direi, sem dúvida: carros que se dirigem vão acontecer.
E vão acontecer muito em breve. E então, os indivíduos, os consumidores estão preocupados que esses carros não serão seguros.
Falei com pessoas que consertam carros profissionalmente, e têm a preocupação oposta. Acham que os carros serão tão seguros que ninguém terá que consertá-los.
E então, acho que o carro que se dirige é um dos grandes desafios tecnológicos do século 21. E então, encorajaria as pessoas a investirem nisso porque
acho que acontecerá, sabe, com 100% de certeza acontecerá. É só uma questão de quando e quão rapidamente carros dirigidos por humanos começarão a desaparecer.
Quer dizer, serão décadas antes que os substituam totalmente. Mas eu investiria meu dinheiro nos carros que se dirigem. No entanto, eu acredito na indústria, mas quanto a jogadores individuais:
quem serão os vencedores e perdedores? -Bem, descobriremos. -Veremos. Estive, a propósito, na fábrica grande da Fiat em Betim.
-Acho que é... -Sim. É uma fábrica incrível! E realmente espero genuinamente que a Fiat esteja trabalhando nesses veículos autônomos
para que naquela fábrica, no Brasil, em só alguns anos estejam construindo esses tipos de carros. Muito bem. Muito obrigado por estar aqui. Foi uma conversa tão boa.
-Claro. -E esperamos tê-lo aqui novamente na HSM. -Ótimo. -Muito obrigado. Adoraria fazer isso.