Em palestra realizada no evento HSM Expomanagement 2015, o escritor e pensador Malcolm Gladwell apresenta histórias inspiradoras para o mundo dos negócios
Transcrição:
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O que eu queria fazer essa manhã é levar vocês através de algumas histórias de desfavorecidos e mostrar o que eles têm em comum. Como afinal eles conseguiram concorrer com os gigantes.
E o ponto comum nas histórias que trago hoje, é que, no fim, as atitudes que trazemos para o negócio são tão importantes quanto os recursos e técnicas trazidos.
A primeira história é uma história do mundo militar. É a história de um dos combatentes mais famosos atualmente.
Chamado de "Conflito do Vale". Que se deu no verão de 1982, no sudeste do Líbano. Naquele verão, ali, foram postos alguns...
Alguns pontos de artilharia, no sudeste do Líbano, para atacar os acampamentos israelenses, no norte do país. E em em junho daquele ano,
o exército sírio moveu 19 baterias de mísseis terra-ar para o Vale, no sudeste. Quando Israel notou, entendeu a movimentação como uma provacação, e decidiram fazer algo.
Então fizeram um ataque. No primeiro dia de ataque, eles liquidaram 17 das 19 baterias apontadas para Israel,
e também 25 aviões sírios, sem perder sequer 1 avião próprio. No segundo dia de combate, a defesa israelense liquidou 37 aviões sírios,
e acabaram com as 2 baterias restantes, sem sofrer qualquer perda. No fim da batalha, Israel tinha abatido 87 jatos sírios, destruído todas as 19 baterias,
e tinham perdido apenas 2 aviões. Sendo que 1 deles foi perdido em um acidente de rotina, que não teve nada a ver com os sírios.
É um exemplo do porquê essa foi considerada pelos especialistas militares uma das batalhas mais desiguais da história recente, uma das vitórias mais extraordinárias da história militar atual.
A chave para a vitória incrível de Israel aquele dia foram 3 tecnologias combinadas por eles: a primeira foi drones.
Hoje drones são comuns, mas naquela época eles eram muito raros. Eles quase nunca eram usados em batalhas. Os israelense usaram os drones antes do combate começar,
para tirar fotos das linhas inimigas, para saber onde as baterias de mísseis sírios estavam. Na manhã da batalha, eles mandaram os drones primeiro,
e os sírios foram atrás deles e revelaram suas posições. Então os jatos que vieram depois puderam destruí-los.
A segunda tecnologia usada pela força israelense foram aviões militares de controle. A ideia de ter um 747 gigante no céu,
com todos os tipos de tecnologia de comando possíveis, que os permitiram orquestrar todos os aviões no céu, e coordená-los com os esquadrões anti-mísseis no solo.
Isso é relevante pois em certo ponto, durante a batalha, no ceús do vale da guerra, tinham quase 200 aviões no ar simultaneamente.
Era um caos! Era tão caótico que os sírios pararam de lançar mísseis com seus esquadrões, pois estavam com medo de acertar os próprios aviões.
Já os israelenses não tinham medo algum. Por quê? Porque tinham esse controle eletrônico nos céus, que assegurava que todos estavam nas suas devidas posições.
A terceira coisa que os israelense tinham eram mísseis teleguiados. Outra vez, é algo com o que estamos familiarizados hoje, é algo comum em qualquer exército ou força aérea,
mas naquela época era uma novidade. Agora, analisando Israel: O que é Israel? Israel é um país minúsculo rodeado por inimigos extremamente hostis.
E na Guerra de Yan Kippur, 10 anos antes, eles foram humilhados. No primeiro dia de batalha, eles viram 15% da sua força aérea abatida
pelos egípcios e seus mísseis. Quando isso aconteceu, eles entraram em pânico. Eles pensavam que sua força aérea era sua grande vantagem,
e então foram humilhados, certo? Portanto estavam desesperados para encontrar uma solução, buscam ao redor do mundo uma resposta para o seu problema,
e então viram uma grande ideia advinda dos soviéticos, perceberam novas tecnologias que surgiam nos EUA, juntaram isso e então obtiveram uma grande vantagem.
Qual foi a vantagem do exército israelense, aquele exército oprimido, sobre esses dois gigantes poderosos? Era a sua urgência.
Eles estavam aterrorizados. Estavam com pressa. Pensavam que sua própria existência estava em risco.
E essa urgência fez toda a diferença.
No fim da década de 60, Xerox, quando era uma das empresas de tecnologia mais lucrativas e futuristas do mundo, estabeleceu esse extraordinário centro de pesquisa e desenvolvimento
nas colinas sobre a Universidade de Standford no vale do silício, e reuniram os melhores cientistas de computação do mundo,
os deram orçamentos ilimitados, e disseram: "Daremos a vocês apenas uma instrução, e ela é: queremos que reinventem o escritório atual."
E ao decorrer dos anos 70, foi exatamente isso que aconteceu. Virtualmente, qualquer inovação que associamos
com a revolução do computador pessoal, veio da Xerox. O primeiro computador pessoal, o primeiro processo de trabalho implementado,
a interface gráfica, o mouse, a impressora à laser, a intranet... Eu poderia continuar, pois tudo foi inventado por eles.
E em dezembro de 1979,
houve uma visita muito importante de um cara chamado Steve, que apareceu e tinham sua própria pequena companhia de computação e ouviu dizer das grandes coisas que aconteciam na Xerox.
Ele queria fazer uma tour, e eles mostram a empresa pra Steve, até que ele foi apresentado ao computador pessoal da Xerox, que era chamado de "Xerox Star",
e eles mostraram a Steve a interface gráfica. Lembrem-se que antigamente, quando os computadores surgiram, se você quisesse que o computador fizesse algo,
era necessário digitar uma frase de comando, certo? Um processo longo e complicado. E eles então dispensaram tudo isso, pois tinham algo chamado mouse,
tinham coisas na tela, chamadas ícones, tudo que você precisa fazer é clicar no ícone, e "boom" o computador faz aquilo que você desejava.
E esse cara chamado Steve viu isso, e não podia acreditar, estava maravilhado, ficou muito animado e apontou aquilo como o futuro da computação
e eles disseram: "Sim, nós sabemos". Steve disse que não podia acreditar no quão fantástico aquilo era, e eles disseram: "Sim, isso é incrível!"
Então ele saiu correndo do escritório, cruza a empresa, e entra no seu fusca, volta à sua empresa chamada Apple,
e conta aos seus engenheiros o que viu, que era o futuro e precisam fazê-lo. E eles disseram: "Não, estamos ocupados" E ele respondeu: "Vocês não entenderam...
a interface gráfica, o mouse, os ícones, são o futuro da computação.” E então convenceu a todos e buscou um designer industrial, e pediu para ele criasse um mouse.
E o homem achou que ele quisesse um rato de verdade, e ele respondeu que não queria o animal, um acessório que pudesse mover com as mãos
e possibilitasse clicar na tela, nos ícones. Que tinha visto um na fábrica da Xerox e tinha custado 300 dólares, ele precisava de um por 15 dólares e precisava dele agora.
E então o homem criou um mouse para ele, os engenheiros criaram uma interface gráfica, ele juntou as duas coisas e o resultado foi o Macintosh.
Um dos produtos mais famosos na indústria do vale do silício. Agora pense sobre Steve Jobs, na posição de desfavorecido, em comparação com a Xerox.
Steve tinha mais recursos do que a Xerox? Não, ele era um empreendedor esforçado, e a Xerox a maior e mais poderosa empresa de computação do mundo.
Aqui estão as 3 atitudes: urgência, a capacidade de reinventar o seu mundo, e a discordância, a liberdade de agir como quiser.
Eles são absolutamente cruciais para ter sucesso. E ainda assim, são características mais facilmente encontradas nos desfavorecidos do que nos gigantes.
Isso não quer dizer que estar do lado desfavorecido é fácil. Não é, é muito difícil. Você não tem os recursos, as habilidades,
a posição, o prestígio e todas as coisas que os seus competidores mais poderosos têm. Mas é importante entender,
ser o lado mais fraco tem várias vantagens também.
Aquelas três características, aqueles três fatores psicológicos sobre os quais falei, são coisas que aparecem muito mais facilmente
naqueles que estão abaixo do que nos que estão no topo. E isso é para mostrar a todos vocês nessa sala, todos nesse país, que se encaixam na posição de desfavorecidos
e dar a todos vocês um pouco mais de coragem. Muito obrigado.