Como a macroeconomia responde à microeconomia, as empresas podem desafiar os problemas que o país enfrenta hoje; elas precisam superar a frustração de expectativas e agir com inteligência
A crise político-econômica vivida no Brasil hoje é profunda, bem mais do que as de 1999 e 2003, que são os benchmarks de crise presentes na memória dos brasileiros. Neste período de 2014 a 2016, o PIB per capita deve recuar 7,5%, levando em conta o desempenho do PIB em si e o que ele precisaria avançar para dar conta do crescimento populacional, e isso é bem pior do que a queda de 1,5% observada no triênio 1997-1999. A economia provavelmente só voltará a crescer em 2017, diferentemente do que ocorreu nas crises citadas, que foram revertidas em apenas um ano.
No entanto, o nível de incerteza com que as empresas trabalham não é pior do que aquele que o País viu, por exemplo, entre 1987 e 1988. Hoje não dá para os gestores planejarem investimentos ante o aumento da dívida pública – eles não sabem quais serão os desdobramentos, se mais impostos, menos gastos governamentais ou inflação descontrolada, e seu respectivo impacto. Mas há 30 anos a imprevisibilidade era tão alta quanto, com a inflação totalmente disfuncional. Por que, então, o pessimismo é tão elevado mesmo entre os que viveram aquela época?
O economista Samuel de Abreu Pessoa, ligado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre), que faz esse panorama, oferece duas explicações. A primeira tem a ver com as expectativas. “O tombo é maior do lugar mais alto: parecia que o Brasil tinha se tornado um país normal, com crédito farto e inflação baixa, e, de repente, tudo pode virar uma bagunça de novo”, afirma ele. A segunda explicação é a do susto. “A crise de solvência foi uma surpresa para a maioria; estava fora do radar – e sua solução continua fora do radar, pois não se sabe se o governo conseguirá fazer o necessário, como, por exemplo, aumentar a arrecadação.”