A especialista em mídias sociais Charlene Li descreve o novo líder aberto e seus papéis dentro e fora das empresas
Redes e foros sociais como Facebook, Twitter, YouTube, Yammer e muitos outros estão reconfigurando a liderança de negócios. Durante anos, a alta gerência indicou aos empregados o que tinham de fazer e o momento e a forma em que deviam fazê-lo. Isso funciona quando a empresa é pequena e a gerência controla o fluxo de informação.
Hoje estamos no meio de uma mudança de poder, em que trabalhadores, clientes ou qualquer um que tenha um computador ou um telefone celular pode compartilhar informação com colegas e amigos ou com o mundo inteiro e elogiar ou criticar os produtos, os serviços ou a gestão de uma organização. Essa mudança se deve a três tendências:
- Mais gente na internet. Além do número de pessoas, aumentam o tempo e as atividades online. Segundo a agência de mídia Universal McCann, 625 milhões de pessoas estão ativas na internet no mundo, com a China e os Estados Unidos na frente. A penetração é flutuante: 7,1% na Índia; 22,5% na China; 74,7% nos Estados Unidos; 89% na Noruega. Um quinto dos usuários tem acesso a partir de dispositivos móveis.
- Uso estendido dos sites sociais. É difícil encontrar alguém que não tenha visto alguma vez um vídeo no YouTube. 63% dos usuários de 18 a 54 anos utilizam sites de redes sociais. Esses usuários dedicam muito tempo ao conteúdo criado por eles mesmos.
- Compartilha-se mais –conteúdo e todo o resto. Os últimos anos estiveram dominados por uma cultura focada em compartilhar, profundamente arraigada no comportamento humano. Cada nova onda tecnológica (imprensa, telégrafo, telefone, e-mail) torna o compartilhar mais simples, rápido e barato.
Apesar da evidência que os rodeia, muitos executivos resistem em reconhecer que precisam mudar. Acreditam que em tempos turbulentos há maior necessidade de liderança vertical e insistem no modelo de comando e controle, com intercâmbio de informação limitado.
Acredito que uma resposta muito mais efetiva é o que denomino de “liderança aberta”, que consiste em possuir confiança e humildade suficientes para não sentir necessidade de ter o controle e, inversamente, inspirar nas pessoas compromisso com as metas da organização. A liderança aberta é uma combinação de mentalidade, temperamento, condutas aprendidas e capacidade de desenvolver e ampliar as habilidades.
A liderança adota uma dimensão diferente em um mundo conectado em rede: a de ser catalisadora da mudança tanto dentro como fora da organização.
Há duas atitudes mentais que definem os líderes abertos:
• A primeira é sua tendência a serem otimistas com respeito às intenções das pessoas. Em geral, acreditam nas situações nas quais “todos ganham” e pensam que quando as pessoas atuam em interesse próprio também beneficiam a organização. O otimismo lhes permite ser mais abertos com a informação, tanto ao adquiri-la (de fontes diversas) como ao compartilhá-la (com uma audiência mais ampla).
• A outra atitude mental se vincula à forma de ver o sucesso: o próprio ou o da equipe. Os bons líderes costumam combinar ambas as visões. Os líderes abertos reconhecem suas limitações e aceitam a colaboração. Por outro lado, os líderes individualistas confiam primeiro nos próprios pontos fortes, o que não impede que cheguem a ser bem-sucedidos, mas é menos provável que utilizem estratégias abertas para explorar as vantagens da colaboração.
Como abrir-se
Como se tornar um líder aberto? As regras criadas pelo advento das tecnologias sociais exigem que os líderes desenvolvam novas habilidades e condutas, somadas às qualidades intangíveis que fazem com que as pessoas confiem neles e os sigam, bem descritos por Warren Bennis em seu famoso On becoming a leader (ed. Perseus Books): integridade, honestidade, equidade, respeito pelas pessoas, senso de humor e audácia.
Em um mundo em que as tecnologias sociais moldam as relações, as ações das pessoas e as organizações podem ser observadas por qualquer um que preste atenção, e as condições de um indivíduo para a liderança ficam expostas. Os líderes capazes de converter a colaboração em uma vantagem podem ampliar suas boas características e ações.
Além de integridade, a liderança aberta requer autenticidade, quer dizer, que o líder seja capaz de mostrar as partes relevantes de seu ser e colocá-las na conversação e saber de forma intuitiva que pontos de sua personalidade e de sua identidade deve mostrar e quando fazê-lo. É uma habilidade muito valorizada na hora de ser aceito por uma comunidade. Os líderes abertos precisam aprender a administrar sua autenticidade, especialmente diante da grande variedade de audiências que podem acessá-los pelas tecnologias sociais.
Todos cruzamos com pessoas “muito” autênticas, tão inflexivelmente fiéis a si mesmas que acabam afetando sua capacidade de atuar em uma organização. Não desenvolvem todo seu potencial porque não conseguem moderar--se e administrar sua autenticidade em um contexto específico.
Então, como se começa a ser um líder aberto “autêntico”?
- Você tem de manter-se fiel a seus valores e concentrar-se no que quer conseguir.
- Você precisa começar pelo pequeno. Barry Judge, diretor de marketing da Best Buy, lembra quando sua equipe lhe propôs criar um blog. “Usaram um argumento poderoso: que desse modo eu poderia ir além dos escritórios corporativos e falar diretamente com as pessoas que compravam o produto. Era uma ideia muito forte, mas meu primeiro post no blog me intimidou. Eu me senti aliviado quando terminou e isso porque era só um par de frases.” Mas logo pegou o jeito.
- Você deve desenvolver transparência. Tal qual a autenticidade, a transparência não é definida pelos líderes, mas sim por quem confia neles e pela organização. Para mim, transparência é tornar visíveis a informação e os processos. Você torna visíveis suas metas e também os desafios, as ameaças e as oportunidades que enfrenta. Também se pode chegar a maior transparência quando não se compartilha, mas as razões pelas quais o líder não pode abrir-se mais têm de ser bem fundamentadas nesse caso, como quando há demanda judicial envolvida.
Ferramentas não faltam para viabilizar tudo. Apenas é preciso usá-las.
"O que as pessoas e as organizações fazem pode ser observado por qualquer um e as condições de um indivíduo para a liderança ficam imediatamente expostas”