Desfazer-se de comportamentos improdutivos exige transferir ações inconscientes para o terreno da tomada de decisões, segundo o autor Charles Duhigg
O homem é um animal de costumes. Muitas de nossas atividades diárias não são respostas a decisões deliberadas, mas a ações inconscientes, isto é, hábitos. Desde o de preparar o primeiro café pela manhã até o de seguir sempre pelo mesmo caminho para o escritório, todo dia levamos a cabo um sem-número de ações como atos reflexos. Algumas delas são inócuas; outras podem constituir obstáculo a nosso desempenho, como chegar sistematicamente atrasado ao trabalho.
Charles Duhigg, jornalista do New York Times e autor de The Power of Habits: Why We Do What We Do in Life and Business (ed. Random House), garimpou a psicologia experimental e a neurologia para entender como o cérebro cria hábitos e como alguém pode desfazer-se daqueles que minam a produtividade.
Como autômatos
"Quando executamos um hábito, pensamos menos. Nossa atividade neurológica se reduz até quase se apagar", explica Duhigg. Apesar de não estarmos condenados a realizar essas ações habituais perpetuamente, elas não podem ser eliminadas, mas apenas substituídas por outras. A chave para dominá-las é entender como funcionam.
Os cientistas explicam que os hábitos compõem-se de um gatilho, uma rotina e uma recompensa. O gatilho dá a ordem para o cérebro passar ao modo automático e indica que hábito precisará lançar mão em cada situação. A rotina é o comportamento em si, que pode ser físico, mental ou emocional. Finalmente, a recompensa ensina ao cérebro se vale a pena guardar um hábito particular para execução futura. Com o tempo, o circuito gatilho-rotina-recompensa-gatilho-rotina-recompensa torna-se mecânico.
Duhigg revela que as pessoas que identificam gatilhos simples e recompensas claras podem estabelecer hábitos de treinamento mais consistentes. Por exemplo, se você não quer faltar à academia pela manhã, deve escolher um gatilho óbvio, como calçar os tênis antes do café ou deixar a roupa de ginástica perto da cama toda noite. O prêmio será a satisfação pela tarefa cumprida em seu plano de vida saudável. Depois de um tempo, seu cérebro se antecipará à recompensa e emitirá um impulso que fará com que não queira mais faltar à academia.
Se o que você quer é eliminar maus hábitos, o segredo é modificar um componente do circuito por vez. "Para mudar uma rotina, é preciso manter o velho gatilho e substituir o comportamento por algo cujo prêmio seja também uma velha recompensa. Não tente mudar tudo de uma vez", alerta o pesquisador.
Você não consegue deixar de fumar toda tarde à mesma hora? Que desejo o gatilho (o momento do dia) e a recompensa satisfazem? Talvez não seja a vontade de fumar, mas de socializar. Substitua o cigarro por um bate-papo com os colegas e veja se surte efeito. Se praticar com frequência, é provável que chegue lá.
Você sabia?
- Os hábitos não podem ser eliminados; eles devem ser substituídos.
- Os processo de negócios são hábitos executados em grande escala.
- Há momentos em que as pessoas são mais flexíveis diante de mudança de hábitos de consumo, como quando se mudam, casam ou têm filhos. As empresas que conhecem seus clientes aproveitam para estimular novos hábitos.