Victoria Hale é um caso paradigmático: pressionada pelos interesses da indústria farmacêutica, abandonou a carreira corporativa para desenvolver medicamentos destinados aos mais necessitados. Nesta entrevista, ela conta sua experiência
Todo ano, mais de 1 bilhão de pessoas na África, Ásia e América do Sul sofrem de malária, tuberculose, doença de Chagas e outras enfermidades. Segundo dados da organização BIO Ventures for Global Health, que incentiva o desenvolvimento de medicamentos contra doenças que atingem a população pobre do mundo, esses males matam 10 milhões de pessoas por ano e ainda deixam vários indivíduos incapacitados para trabalhar ou, até mesmo, para cuidar de si e de suas famílias.
De acordo com o relatório de pesquisa e desenvolvimento da CMR International Pharmaceutical em 2011, organizado pela agência de notícias Thomson Reuters, a indústria farmacêutica mundial investe ao redor de US$ 70 bilhões anuais em pesquisa e desenvolvimento. No entanto, mais de 90% desse montante é destinado ao estudo de doenças que afetam apenas 10% da população mundial. “Os sofrimentos dos ricos”, explica a empreendedora social Victoria Hale, fundadora e CEO da Medicines360, organização sem fins lucrativos especializada em saúde feminina e, mais especificamente, em controle de natalidade.
Há pouco mais de uma década, Hale era uma bem-sucedida gestora de P&D da indústria farmacêutica que tinha tudo: dinheiro, uma carreira proeminente no setor privado e um futuro brilhante com inúmeras oportunidades. Ela fazia parte da equipe científica do Genentech, o primeiro laboratório de biotecnologia do mundo. Anteriormente, trabalhara como analista sênior na Food and Drug Administration (FDA), entidade que regula os setores farmacêutico e alimentício nos Estados Unidos. Hale era uma experiente conhecedora de todos os meandros do processo de licenciamento de novos remédios e respeitada tanto por sua capacidade científica como por suas habilidades executivas.