Em 2001, Larry Page e Sergey Brin, fundadores do Google, enfrentavam a maior decisão de sua vida a bordo da startup. A empresa vinha crescendo demais para a liderança dos dois jovens e, aos olhos dos investidores, precisava de um pouco de “supervisão adulta”. Para escolher o CEO, Page e Brin chegaram à conclusão de que tinham de ir além do processo de seleção normal. Currículos se mostravam simplesmente inúteis; a qualificação técnica não constituía um diferencial. Eles só queriam encontrar alguém que conseguisse deixar o ego de lado a fim de compreender profundamente os planos e anseios da organização, alguém capaz de, na avaliação do New York Times , “disciplinar a cultura exuberante e autoindulgente do Google sem matar a genialidade”.

Assim, em um golpe de inspiração desesperada, Page e Brin recorreram a um processo de seleção incomum – e brutal. O finalista ao cargo de CEO do Google deveria passar cinco dias e cinco noites sem dormir, enfrentando sol implacável, frio congelante e cercado de condições de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade do mundo VUCA. Pressionado física e psicologicamente ao extremo, o candidato teria sua reação avaliada. Ele se refugiaria em si mesmo ou se fundiria com a equipe?

O festival Burning Man, no deserto de Nevada, Estados Unidos, é um dos ritos de passagem mais estranhos da atualidade. A expressão “rito de passagem” indica bem o que se passa ali. Fervilhante, atrai dezenas de milhares pessoas e já instituiu costumes exóticos e rituais próprios, arregimentando um exército de seguidores. Trata-se de uma verdadeira folia dionisíaca, uma festa do fim dos tempos. A escolha de sua definição fica por conta de quem participa; só não há como negar que algo muito especial acontece ali. Page e Brin eram participantes assíduos e entusiasmados do Burning Man. Seu Google incluía no pacote de regalias dos funcionários ônibus grátis para o evento.