Por Eduardo Mufarej

Eu enxergava a trajetória do Brasil mais ou menos como um voo de galinha. Quem já viu uma galinha “voar” entende a força dessa expressão. Ela corre, bate as asas e parece que vai levantar voo, porém, logo despenca, frustrada. De certa forma, era o que vinha acontecendo no Brasil desde que, na primeira década dos anos 2000, comecei a viajar pelo mundo para conversar com os investidores mais sofisticados do planeta sobre investimentos no País.

Explicar o Brasil lá fora nunca foi uma tarefa simples, mas, entre 2005 e 2010, o indicativo de que viveríamos um bom momento facilitava um pouco a missão. O País crescia a um ritmo médio de 5,5% ao ano. O mercado consumidor se ampliava, com o aumento do poder aquisitivo da classe C, e os investidores estrangeiros injetavam dólares a rodo na nossa economia, estimulados pelas boas notas que as agências de classificação de risco davam ao País. Lembro-me exatamente do dia em que o Brasil recebeu o “grau de investimento”. Era 30 de abril de 2008 e eu estava na Argentina, em viagem com amigos. Comíamos um choripán, o famoso sanduíche de linguiça, na frente do aeroporto doméstico de Buenos Aires, o Aeroparque, esperando para pegar o voo até Mendoza. Quase chorei de emoção, parecia o prenúncio de uma nova era.