O especialista Dan Breznitz afirma que os países precisam estimular a inovação incremental e buscar o desenvolvimento sustentável com isso
O codiretor do laboratório de políticas de inovação da canadense University of Toronto, Dan Breznitz, não tem dúvida: o Vale do Silício não é o modelo mais apropriado de inovação a ser copiado pelos países – cria empresas em vez de tecnologias e não gera empregos.
Autor do livro Innovation and the State e conselheiro de governos e multinacionais para a formulação de políticas de ciência, tecnologia e inovação, ele recentemente defendeu, na revista Rotman Management, a inovação incremental.
O sr. diz que o Vale do Silício não é o melhor modelo de inovação a ser seguido pelos países? Por quê?
O Vale do Silício não cria tecnologias; cria empresas. É como um esquema de loteria, em que todos querem apostar na startup certa e se tornar bilionários.
No início, as companhias instaladas na região, como a Apple e a HP, fabricavam produtos reais, tangíveis, e geravam muitos empregos. Porém isso não acontece mais. As novas empresas do Vale do Silício se dedicam ao desenvolvimento e ao design, mas a fabricação dos componentes de seus produtos acontece longe dali – na China, por exemplo. Os poucos empregos criados são voltados para profissionais altamente capacitados. Esse é um modelo que perpetua desigualdades sociais.
Coreia do Sul e Alemanha oferecem modelos mais adequados, então?
Sim. Esses países estimulam um tipo específico de inovação, que podemos chamar de incremental ou de processos. Não se trata apenas de inventar produtos, mas de aprimorá-los constantemente.
Dessa maneira, é possível criar muito mais empregos, com base em trabalhadores industriais qualificados e no aumento permanente da produtividade, por meio da educação. É o melhor caminho para o crescimento sustentável e para a geração de riqueza de modo mais equânime.
Como o sr. avalia a inovação em seu país, o Canadá?
Nosso governo parece acreditar que, se há uma boa política educacional e uma política adequada de pesquisa e desenvolvimento, a inovação acontece sozinha. E não é assim.
Por isso, o Canadá possui um dos maiores potenciais mundiais para a inovação e tem obtido avanços importantes no campo científico, mas a inovação não acontece para valer, porque inovação tem de acontecer no mundo dos negócios. É fundamental que as empresas possam criar, desenvolver e aprimorar produtos e serviços e tenham capacidade de competir no mercado.
Qual o papel dos governos e das empresas?
Os governos devem criar um ambiente em que faça sentido, do ponto de vista dos negócios, investir em inovação. Às empresas cabe descobrir como transformar o esforço inovador em rotina.
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