Diante das incertezas do mundo e da multiplicidade de necessidades dos clientes, os professores Dan Iancu, de Stanford, e Nikolaos Trichakis, de Harvard, recorreram ao filósofo John Rawls, autor de obras seminais sobre ética na política e na sociedade, para tentar resolver o dilema de um gestor de portfólio de investimentos. Como ele pode investir o dinheiro de clientes grandes e pequenos ao mesmo tempo, obtendo o melhor resultado para ambos? 

Muitos investidores não sabem, mas os administradores de seus investimentos tendem a agrupar as negociações de clientes diversos para aumentar a eficiência. O problema? Distribuir os custos das transações por clientes diversos é complicado. 

Edição recente da revista Stanford Business deu um exemplo: imagine que um cliente quer comprar já 10 mil ações do Walmart, e outro, apenas 10 ações – e este pode esperar. Se o pedido maior for feito agora, levará o preço da ação a subir, prejudicando o pequeno comprador, que ainda perderá a vantagem de poder esperar. 

Como o administrador dos investimentos age eticamente nesse caso? A resposta convencional dos negócios seria “juntando os pedidos e compartilhando proporcionalmente os custos da transação”. Na prática, contudo, isso costuma sair caro demais para os pequenos. 

A resposta convencional da filosofia tradicional também seria insatisfatória: “Deve-se defender o bem do grupo”. Ocorre que o bem do grupo nem sempre é o melhor para os indivíduos.

A abordagem de Rawls mostra um terceiro caminho, segundo Iancu e Trichakis: oferecer a melhor opção para quem está em pior situação, gerando equanimidade. Assim, em uma situação, por exemplo, em que dois investidores – um grande e um pequeno – quisessem comprar ações de duas empresas, como Target e Walmart, a abordagem de Rawls proporia que o pequeno comprasse as da Target, e o grande, as do Walmart.

Os pesquisadores fizeram simulações em computador com portfólios hipotéticos para testar versões extremas de cada abordagem, e a grande surpresa foi que a versão de Rawls não só é mais justa para o pequeno investidor, como quase tão eficiente e benéfica para o grande. No caso das ações da Target e do Walmart, o pequeno foi protegido e as desvantagens para o grande foram ínfimas. Ou seja, no modelo criado por Iancu e Trichakis, o gestor de portfólio combina a ideia do bem para o grupo com a da equanimidade.

Os autores não defendem uma abordagem salesiana pura, mas são firmes em contradizer os economistas, que partem do princípio de que há um conflito natural entre maximizar a equanimidade e maximizar os retornos totais. Segundo Iancu, pelo menos no portfólio, não há um trade-off radical.