Imagine que um empreendedor percebe um espaço vazio no mercado –faltam aviões para as cidades médias e pequenas. Sem capital para financiar o empreendimento, pede ajuda ao governo de seu país e um ministro de Estado declara: “Parem com isso; avião é coisa que se compra, não coisa que se fabrica”.

Se tivéssemos de eleger um mito fundador para o empreendedorismo brasileiro, o primeiro talvez fosse o de Alberto Santos Dumont, que inventou o avião, mas o segundo muito provavelmente seria o de Ozires Silva e do grupo que fundou a Embraer, em 1970 –e também serviria como modelo de DNA de empreendedor de alto impacto.

Piloto e engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto de TecnTecnologiaAeroAeronáutica (ITA), Ozires percebeu essa oportunidade de “fazer um avião diferente”, que não enfrentasse a forte concorrência norte-americana e francesa, e lançou um avião experimental, o Bandeirante. O governo negou-se a abraçar seu projeto em um primeiro momento, como mostra a fala ministerial, mas, em um domingo de nevoeiro que obrigou o avião do presidente da República, Arthur da Costa e Silva, a pousar no aeroporto onde trabalhava o então major Ozires, este se encheu de coragem e lhe vendeu a ideia da Embraer. Criada por lei em agosto de 1969 e privatizada em 1994, a brasileira Embraer é hoje uma das três maiores fabricantes de aeronaves do mundo, ao lado da norte-americana Boeing e da francesa Airbus, além de a mais tecnológica e internacional das marcas do País.