O inovador pensamento educacional brasileiro pode servir às empresas, em dez medidas práticas, como a da criação do cargo “diretor de espanto”; é o que mostra esta conversa com Rubem Alves, um maiores nomes da educação mundial
Em 1848, em uma maternidade da Viena imperial, um médico observou que havia muito mais mortes de mulheres na ala frequentada pelos doutores do que na seção atendida exclusivamente por enfermeiras. Investigou e descobriu que os médicos faziam autópsias nos cadáveres, não lavavam as mãos, davam consultas às pacientes e assim as contaminavam. Quando alertou sobre o fato, embora conseguisse reduzir a mortalidade com medidas de higiene e desinfecção, o húngaro Ignaz Semmelweis despertou a ira de toda a comunidade médica austríaca, que passou a persegui-lo. Terminou sua vida em um hospício, onde morreu jovem, aos 47 anos, ironicamente, com infecção generalizada.
A quantidade de pessoas como Ignaz Semmelweis em determinada região seria o indicador natural de uma educação de qualidade e do que ela consegue fazer: levar a um olhar original sobre o entorno a fim de resolver os problemas que surgem. Quase dois séculos se passaram do episódio vienense, no entanto, e a definição de boa educação no Brasil ainda não é essa: muitas de nossas melhores mentes sonham, por exemplo, com o modelo educacional da Coreia do Sul, que de fato resolveu seu déficit e tornou-se uma potência mundial na área tecnológica em 20 anos, mas à custa de “decoreba” e de castigos físicos –os alunos de lá se saem bem em olimpíadas de matemática, porém deixam a desejar no olhar diferenciado de um Ignaz –ao menos, em escala.
A história de Ignaz Semmelweis foi uma das primeiras que vieram à tona na entrevista de HSM Management com Rubem Alves, o maior pensador vivo do Brasil na área de educação, em seu apartamento em Campinas, interior de São Paulo. Aos 78 anos de idade e recuperando-se de problemas de saúde, Alves mostrou por que é tão idolatrado em determinados meios –e tão invejado em outros–, transportando suas ideias, a pedido da revista, das escolas para as empresas, que precisam também promover o aprendizado tanto quanto se quiserem se tornar mais competitivas. Se fossem mais conhecidos pelos gestores, quem sabe o que os pensamentos de Rubem Alves e Paulo Freire, dois Ignazes formadores de Ignazes, não poderiam fazer?