O leitor se lembra da narrativa do antes e depois? Antes, a norte-americana Lisa Allen fumava e bebia desde os 16 anos, e era obesa. Aos 20 anos, devia o equivalente a R$ 40 mil, e era perseguida por empresas de cobrança. Mas, depois, aos 34 anos, ela não tinha dívidas, não bebia nem fumava, era magra e já tinha completado três anos de trabalho numa empresa de design gráfico. Aos 30 anos, ela havia perdido 27 quilos, iniciado um mestrado e comprado uma casa. Um grupo de cientistas que incluía psicólogos, neurologistas, geneticistas e até um sociólogo se reuniu para estudar Lisa e entender como ela foi capaz de reconstruir sua vida num período relativamente curto. A mudança teve um gatilho: o marido avisou que iria deixá-la porque se apaixonara por outra mulher – e ela não trabalhava fora.

Após um período de luto de quatro meses pelo divórcio, Lisa resolveu, por impulso, viajar para o Egito e ver as pirâmides, como sempre sonhara. No deserto, dentro de um táxi, ela decidiu que faria uma trilha no deserto e que se daria um ano para se preparar. Teria de parar de fumar e focou apenas isso. A trilha era um gatilho. Eliminar o hábito de fumante a levou a desenvolver uma série de rotinas: ela trocou os cigarros por treinos de corrida, o que a fez mudar o jeito de comer e dormir. Depois, a perspectiva da viagem influiu em seu modo de organizar o trabalho e em guardar dinheiro. Onze meses depois ela estava fazendo a trilha no deserto.

Quem leu o best-seller O poder do hábito, livro lançado em 2012 por Charles Duhigg, deve se lembrar da inspiradora virada de Lisa. Duhigg começou a prestar atenção a hábitos quando, como repórter, entrevistou um major norte-americano em Bagdá que lhe fez uma declaração inusitada: “Entender hábitos foi a coisa mais importante que aprendi no Exército”. Tão importante que ele e sua noiva escreveram planos de hábitos a desenvolver e manter para seu casamento. Tão importante que ele educa os filhos com meios que diziam respeito à maneira de carregar sua arma, a adormecer em zona de guerra, a manter o foco em meio ao caos das batalhas, a tomar decisões quando exausto e sobrecarregado, e também a economizar dinheiro, a se exercitar todos os dias e ao modo de se comunicar com os colegas. Ele se definia como um “caipira” baixinho da Geórgia cuja melhor chance na vida era consertar linhas telefônicas, ou traficar metanfetamina, e que agora comandava 800 homens numa das mais sofisticadas organizações militares do planeta.