Quando ela estava para completar 30 anos de idade, assassinaram, durante um comício, o líder político Luis Carlos Galán, que, como sua família acreditava, mudaria a Colômbia, eliminando a corrupção e o narcotráfico. Logo atrás de Galán no palanque estava sua mãe, que podia ter sido a vítima.

Íngrid Betancourt morava na França em 1989 e foi tão afetada pelo episódio que resolveu imediatamente voltar à terra natal e procurou uma forma de política fora dos partidos, para distanciar-se deles e denunciar sua corrupção endêmica, que, em sua visão, era o que jogava o país na lama. Filiou-se ao Partido Verde, o que equivalia a ser uma candidata independente na prática, e obteve a maior votação ao Senado em 2000 –“obviamente, as pessoas não votavam em mim, e sim contra o sistema”–, mas viu-se isolada no Congresso. Dois anos depois, candidatava--se à presidência e, quando estava em campanha, foi sequestrada pelos guerrilheiros das FARC, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ligados ao narcotráfico.

Íngrid permaneceu refém deles, muitos dos quais cruéis, por seis dramáticos anos, e o restante da história o mundo inteiro conhece. Ela acaba de lançar seu livro de memórias, Não há silêncio que não termine (ed. Companhia das Letras), em parte fruto da terapia após o fim do cativeiro, em julho de 2008. Esteve recentemente no Brasil para o Fórum HSM de Negociação e concedeu entrevista exclusiva a Marcos Braga, presidente da HSM, na qual dividiu um pouco de seu aprendizado antes, durante e após o cativeiro, que envolve do autoconhecimento à decisão de fixar novos limites. Ainda controversa, a ex-radical Íngrid se uniu ao governo (a que tem críticas) contra um mal maior: as FARC.