Um grupo enorme e cada vez maior de pessoas está pronto para tomar seus lugares na corrente de atividade econômica na próxima década, como produtores, consumidores, funcionários e empreendedores. O impacto desse grupo na economia globalizada será, no mínimo, tão significativo quanto o das populações da China e da Índia, com mais de 1 bilhão de habitantes cada uma. Porém seus membros ainda não atraíram o nível de atenção que merecem.

Se esses dois países representam 2 bilhões de participantes emergentes no mercado mundial, então esse “terceiro bilhão” é feito de mulheres, tanto em nações em desenvolvimento como em industrializadas, cuja vida econômica tem sido refreada, subestimulada ou simplesmente suprimida. Essas mulheres, que têm vivido ou contribuído num nível de subsistência, estão agora tendo, pela primeira vez, uma atividade econômica digna do nome.

Estimamos que aproximadamente 870 milhões delas integrarão a população economicamente ativa até 2020, com o número possivelmente passando de 1 bilhão durante a década seguinte. Sua presença como players econômicos será amplamente sentida, porque elas têm se concentrado há muito tempo na agricultura de subsistência e em outras formas de trabalho baseadas em recursos e, agora, mudarão de repente para o trabalho de conhecimento. Atuando em domínios que vão da produção industrial à medicina, à educação e à tecnologia da informação, seus números impressionarão e apressarão a integração das regiões onde vivem, do ponto de vista da macroeconomia.

Até hoje, o potencial das mulheres como participantes econômicos não se tem concretizado. As razões se tornaram evidentes em uma análise recente da Booz & Company a partir de dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão das Nações Unidas que analisa estatísticas da força de trabalho mundial, segundo a qual a maioria das mulheres pode ser considerada:

As características específicas dessas duas grandes restrições variam amplamente, de acordo com as condições sociais, culturais e econômicas locais. Mas o movimento do terceiro bilhão para a classe média será acelerado, à medida que as restrições forem aliviadas com a maior migração para cidades, a expansão de oportunidades educacionais, as mudanças em leis e costumes locais, e os investimentos em infraestrutura. O padrão desse crescimento provavelmente mudará de uma inclinação gradual para uma bem acentuada.

Nós chegamos ao número de 3 bilhões combinando o número estimado de mulheres “sem preparo” e “sem apoio” entre 20 e 65 anos em 2020, usando dados da OIT. A maioria dessas mulheres –aproximadamente 822 milhões– vive em nações emergentes e em desenvolvimento; outros 47 milhões vivem na América do Norte, oeste da Europa e Japão.

Algumas pessoas podem argumentar que as mulheres da China e da Índia não deveriam ser incluídas, uma vez que fazem parte dos primeiros 2 bilhões; se elas fossem omitidas, o número de mulheres que atendem a nosso critério atingiria 525 milhões em 2020. Contando aquelas ainda com menos de 20 anos e recém-nascidas, isso poderia facilmente expandir para 1 bilhão dentro da próxima geração.

Não importa como os números são contados, no entanto;1 bilhão ou mais de mulheres estão claramente prestes a participar mais plenamente da atividade econômica corrente. Isso representa uma força significativa em regiões como América Latina, Ásia, orla do Pacífico, Oriente Médio, Europa Oriental e Central e África.

O efeito multiplicador

A última década mostrou o efeito extraordinário que segmentos de grande população podem ter quando estão integrados na economia (como na China e na Índia). Consumidores recém-habilitados servem como um multiplicador econômico, criando vastos mercados e aumentando o tamanho e a qualidade do pool de talentos. Em períodos de relativa prosperidade, suas aspirações e persistência são motores para o crescimento. Em períodos mais lentos, eles representam bolsões de atividade econômica que amenizam o impacto da recessão. Por exemplo, o crescimento de mercados emergentes de consumo na China e na Índia ajudou a estabilizar a economia mundial durante a crise de 2008-2009.

Porém o efeito multiplicador desse grupo de mulheres poderia ser muito maior do que o de outras expansões demográficas, por pelo menos três razões:

  1.  O impacto será espalhado amplamente; as mulheres do terceiro bilhão não são limitadas a um país, mas, ao contrário, estão dispersas por todas as partes do mundo.
  2.  Quando as mulheres se tornam mais ativas economicamente, tendem a ter menos filhos. À medida que a taxa de natalidade cai, mudam as prioridades sociais de uma cultura e fica mais fácil para mais mulheres conseguirem preparo e apoio para levarem vida mais independente.
  3.  É provável que essas mulheres invistam uma proporção maior de seus ganhos do que os homens fariam na educação dos filhos. À medida que essas crianças crescem, seu impacto econômico aumenta mais. Isso ajuda a explicar por que, como um relatório emitido pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulheres descobriu, investimentos em empresas de mulheres em países em desenvolvimento geraram maiores benefícios de longo prazo para a economia como um todo do que investimentos em empresas dirigidas por homens.

[Estudo do Center for Work-Life Policy (CWLP) prevê que, ao menos nos países do BRIC, a renda per capita pode subir 14% até 2020 e 20% até 2030 só pela maior inclusão feminina na economia formal.]

Como impulsionar tal potencial

O potencial total do terceiro bilhão ainda está latente em muitas localidades onde a produtividade geral do trabalho se mantém baixa. Essas regiões estão, portanto, aptas a colher benefícios particularmente fortes se ajudarem as mulheres a superar o status de “não preparada” e “não apoiada”.

Tais esforços devem começar com uma avaliação das restrições específicas enfrentadas pelos constituintes do terceiro bilhão em dada região. Elas podem incluir infraestrutura inadequada (falta de rodovias, de escolas e de acesso a telecomunicações); proibições legais de avanços para pessoas do sexo feminino; convenções sociais que inibem a participação de mulheres na força de trabalho; restrições governamentais a pequenas empresas; abordagens desatualizadas para risco e crédito; e outras normas e práticas sociais, jurídicas, culturais ou financeiras que tornam difícil para as mulheres ir à escola, procurar emprego livremente, beneficiar-se de seus ganhos ou gerenciar a própria vida como quiserem.

Alguns desses desafios podem ser superados com melhor planejamento local, enquanto outros requerem intervenção de cima para baixo do Estado. Em ambos os casos, o objetivo deve ser aproveitar o poder das mulheres na economia.

Isso não é apenas uma oportunidade para os governos. As corporações globalizadas e as organizações não governamentais também devem avaliar estrategicamente o que podem fazer para capacitar e preparar essas mulheres como potenciais consumidoras, funcionárias e cidadãs. Segundo um recente estudo McKinsey, das empresas que fortaleceram mulheres nos países emergentes, 34% relataram aumento de lucros e 38% esperavam que isso ocorra. Para a London Business School, a produtividade sempre sobe de patamar quando mulheres e homens trabalham juntos.

Como notou Sylvia Ann Hewlett, fundadora e presidente do CWLP, algumas empresas, como o banco Goldman Sachs e o Google, estão construindo planos de recrutamento de talentos em torno do potencial do terceiro bilhão. “Ao investir [nessas mulheres]”, Hewlett escreveu em seu blog no site da Harvard Business Review, as empresas apostam em uma força de trabalho “que está só esperando para florescer em economias que dependem de seus talentos para crescer”.

A criatividade do terceiro bilhão pode ser um recurso sem precedentes para estimular a economia e melhorar a qualidade de vida na próxima década. Aproveitá-la não será fácil (por requerer muita mudança social), mas pode ser ótimo.

Mulheres Emergentes

Representando quase um quarto das mulheres do mundo entre 20 e 65 anos, o “terceiro bilhão” identificado pelo estudo Booz & Company se divide em seis categorias básicas, refletindo o preparo formal (com educação) e o apoio que recebem, e se vivem em nações desenvolvidas ou emergentes.

  • 869 milhões de mulheres do mundo vivem sem atividade econômica corrente
  • 94,5% dessas mulheres moram em países emergentes
  • 5,5% dessas mulheres são de economias desenvolvidas