“Imaginação não existe, está tudo no Google.” Em julho de 2009, durante a última Festa Literária Internacional de Paraty, o escritor Chico Buarque fez essa declaração em sua concorrida palestra. Talvez tenha compreendido que a internet é uma máquina de copiar gigantesca –uma vez que algo copiável entra lá, fica impossível impedir que seja copiado ao infinito–, o que a transforma em um sistema de superdistribuição. E o efeito disso é devastador, porque muda nossa base econômica por inteiro: o fluxo livre, constante e promíscuo de cópias gratuitas revoga a antiga ordem, baseada em venda de cópias preciosas.

Quem apresentou essa mudança de paradigma de maneira tão clara não foi Chris Anderson, atual editor-chefe da revista Wired e levantador dessa lebre, mas Kevin Kelly, antigo editor da Wired e hoje responsável pelo blog Technium, uma referência da web. Mas aí vem uma indagação filosófica: se tudo vai virar grátis, onde/como vamos gastar/ganhar nosso dinheiro?

Peter Drucker, que faria 100 anos em 2009, costumava dizer que o cliente raramente compra aquilo que você acha estar vendendo. Se o conteúdo é replicável infinitamente e está disponível na rede, fica claro que o valor não está no conteúdo em si. A resposta sobre o que se venderá a partir de agora só pode estar no cliente, afinal é ele que gasta seu tempo e dinheiro consumindo. O conteúdo precisa virar serviço.