Por Tiago Novaes

Curioso como um livro, uma música, um perfume podem marcar uma época da vida. Ainda recordo vividamente uma leitura de faculdade, um capítulo de A interpretação das culturas, de Clifford Geertz. O texto dizia da importância de não presumir os sinais do mundo, não julgar que entendemos o que significam, e partir sempre do lugar da incerteza. Para compreender os hábitos de uma etnia, o autor dá o exemplo de uma piscadela. Como interpretar esse simples gesto? Ele pode ser um código específico, um alerta, uma reprimenda. Pode ser um indício de cumplicidade, um tique nervoso, uma imitação jocosa. Nada pode ser pressuposto. 

Aos 18 anos, a importância daquela reflexão me pareceu evidente, ainda que por razões não tão “elevadas”. Eu quebrava a cabeça para en-tender os sinais das garotas que me interessavam. Aquela piscadela: foi apenas uma prova de amizade ou ela gosta de mim? Aquele sorriso é mais intenso comigo ou ela é simpática assim como todo mundo? Para um adolescente tímido, uma interpretação equivocada poderia ser desastrosa. É assustador como a expectativa bagunça as nossas faculdades perceptivas, e a intenção do observador parece aumentar ainda mais a confusão. Se você fica olhando um objeto azul por tempo demais, em algum momento ele parecerá vermelho.