Logo nas primeiras páginas do novo título, o inventor e futurista norte-americano Ray Kurzweil faz referência a um poema de Emily Dickinson, segundo o qual o cérebro é mais largo do que o céu e mais profundo do que o mar. Com a citação escolhida, ele está dizendo, metaforicamente, que a inteligência pode ultrapassar as fronteiras normalmente estabelecidas, entre elas, a do corpo humano –e ser transferida para uma máquina.

Não é novidade que o controverso inventor previu para 2029 uma máquina que será capaz de simular 100% o homem (o leitor pode conferir a entrevista exclusiva que o especialista concedeu a HSM Management, na edição nº 89, em que discutiu essa possibilidade). O avanço trazido pelo novo livro é que sua argumentação em favor da tese se solidificou, graças a relatos de experimentos com o pensamento realizados em diversos lugares. Trata-se de experimentos com engenharia reversa, com potencial ilimitado para entender o funcionamento do cérebro humano, conforme Kurzweil –incluindo a inteligência moral e a emocional, e também as origens da consciência. Desse modo, diz o especialista, descobrimos a natureza da inteligência e podemos transferi-la a uma máquina.

Em How to Create a Mind, Kurzweil descreve que o neocórtex –80% do nosso cérebro– é, essencialmente, uma estrutura de 300 milhões de módulos de reconhecimento de padrões. E que cada um desses módulos segue basicamente o mesmo algoritmo (ou o mesmo conjunto de regras) para identificar padrões. Assim, compreendidos o design biológico e o algoritmo, torna-se perfeitamente possível projetar um neocórtex digital. Kurzweil aposta que, no final do século 21, um sistema computacional de US$ 1.000 será trilhões de vezes mais poderoso que o cérebro humano convencional. Mas, a seu ver, também os seres humanos buscarão aumentar a inteligência ao ligar seus cérebros biológicos a cérebros sintéticos instalados na nuvem –em conexões sem fio, claro.