“O que nos alimenta nos consome.” Sherry Turkle, professora de estudos sociais em ciência e tecnologia do Massachusetts Institute of Tech-nology (MIT), onde dirige a Initiative on Technology and Self, que ela fundou em 2001 para estudar o lado subjetivo da tecnologia social, escolheu essa frase –com tradução livre– de um soneto de Shakespeare, em uma entrevista recente, para ilustrar o impacto das ferramentas tecnológicas em nossa vida. Quando enviamos uma mensagem de texto, olhamos a caixa de entrada de nosso e-mail ou obtemos informações online, a sensação que temos é de maior plenitude, como se nossa capacidade de receber fosse preenchida. A experiência é gratificante, porque a assumimos como positiva. Isso nos leva a pensar que estamos mais perto do objetivo, daquilo que queremos alcançar.

“Nutritiva” foi a palavra que Turkle escolheu para descrever essa sensação de satisfação. Em sua opinião, essa percepção é falsa. Para essa especialista nas dimensões psicológicas e sociais da mudança tecnológica e na relação entre os objetos e nossa maneira de pensar, “vamos começar a perceber que nosso entusiasmo e fascinação, que acreditamos nos enriquecer, também nos achatam, nos reduzem, nos simplificam”.

Por um momento, ela explica na entrevista, “enquanto usamos todas as ferramentas, todo o potencial que a tecnologia oferece, nos sentimos senhores do universo e, no momento seguinte, percebemos que, absorvidos nesse frenesi, estamos nos deixando ‘consumir’ e não pensamos em nada”.