Ele foi um gênio –e os gênios são difíceis de avaliar–, mas também foi um homem comum, identificado com as pessoas simples. Era comprometido com as ideias de progresso e viveu a decadência do absolutismo dos Bourbons, família que permanecia no comando da Espanha como baluarte da Idade Média, embora o mundo já estivesse se iluminando no século 18.

Francisco de GoyaGoyaucientes, nascido em 30 de março de 1746 em Fuendetodos, Zaragoza, teve de aprender a sorrir e trabalhar para satisfazer governantes infames, além de retratar autoridades pedantes, nobres ignorantes e funcionários públicos ladrões. Foi nessas alianças construídas com o poder –chegou a ser pintor do rei– que achou a forma de escapar da Inquisição. Era um pragmático que atuava com astúcia para executar a missão ética que estava em sua natureza: respeitar seus compatriotas, a quem via como iguais, e manter suas convicções, tanto políticas como artísticas.

Espontâneo, autodidata e independente, escolheu os mestres que queria seguir e soube o que valorizar em cada um. Suas primeiras obras têm traços da elegância fútil do último barroco italiano (viveu em Roma) e do rococó em moda na França. Também foi um neoclássico, até que se negou a ser apenas um administrador de fórmulas acadêmicas emprestadas e decidiu investigar com liberdade as profundezas de seus sentimentos e de sua técnica. Animou--se a inovar, quebrou paradigmas e, com audácia, sem medir consequências dessa ruptura, prefigurou tanto o impressionismo como o expressionismo. Sua transformação foi paradoxal: quanto mais velho se tornava, mais jovem era sua arte. Com Goya nasceu a modernidade.