“Gosto do impacto que a tecnologia provoca no negócio e nas pessoas”
Uma empresa de capital fechado que, entre seus sócios-investidores, estão Pátria Investimentos e o Grupo Graber. Estamos falando da Omnilink, uma marca da Zatix, companhia que integra soluções para segurança e prevenção de risco, gestão de frotas, monitoramento de veículos e telemetria. Presente em todo o Brasil, a partir de sua sede localizada em Barueri, a empresa possui uma unidade fabril em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais.
Em 2015, uma nova visão dos negócios refletiu mais claramente a missão, visão e valores da empresa, sustentando assim suas características principais: segurança, conectividade, credibilidade e inovação. Com a mudança de posicionamento surgiu também um novo comando. O executivo Michel Levy assumiu a presidência da empresa e apresentou uma nova estrutura organizacional, objetivos de gestão e renovação no portfólio de produtos e serviços.
Formado em engenharia pela Universidade de São Paulo, Levy fez especializações em administração e gestão de negócios pela Universidade de Stanford e pela fundação Dom Cabral. Antes de trabalhar na Zatix, foi diretor-superintendente do grupo Saraiva, presidente da Microsoft no Brasil e vice-presidente da TIM Brasil.
Entrevistado por Mauricio Goldstein para o blog da Corall Consultoria, Levy detalha nesta conversa sua trajetória profissional de sucesso em diferentes segmentos do mercado e aborda o desafio de fomentar a gestão de ativos em um cenário transformado por tecnologias como Internet das Coisas e Big Data.
Durante o bate-papo, Levy também analisou a importância da inteligência artificial para o negócio da companhia, seu estilo de liderança e a dificuldade de inovar no mercado de gestão de risco de frotas.
“Tudo aquilo que não dá para prever gera angústia. Isso é da natureza humana, e ninguém gosta de mudar apenas por mudar”
Você construiu uma trajetória profissional de sucesso liderando companhias de diferentes setores. Como foi administrar empresas e pessoas em áreas tão distintas?
M.L. É interessante e até parece um chavão, mas no final do dia, tem muita semelhança porque estamos falando de gestão, pessoas e desafios de negócios. Claro que cada negócio tem sua peculiaridade, que você tem de aprender e entender. Mas é óbvio que, se você conta com um time que conhece o negócio, então isso é uma troca. Acho que isso nunca foi uma questão específica dos setores nos quais trabalhei, embora minha vivência maior tenha sido no mundo de tecnologia, seja como meio, seja como fim. Gosto do impacto que a tecnologia provoca no negócio e nas pessoas. Eu acho que tem uma espinha dorsal comum que é a gestão, principalmente de pessoas.
Do que você mais se orgulha em sua trajetória?
M.L. Acho que a possibilidade e o privilégio de trocar muito com as pessoas com as quais trabalhei e conseguir impactá-las. Sempre ajudando a transformar suas vidas e a desenvolvê-las como indivíduos e profissionais. Isso é muito, mas muito, gratificante. Tenho muito orgulho de olhar para trás e ter aparentemente deixado um rastro bom e ter contribuído com desenvolvimento das pessoas. Esse é o grande barato da gestão.
Como você está aplicando sua experiência dentro da Omnilink?
M.L. Trata-se de um desafio novo, que é trabalhar para um grupo de investidores. Eles me trouxeram para promover uma transformação na empresa. Você faz a transformação por meio das pessoas. Esse foi o primeiro desafio, com boas conquistas nesses aspectos.
Quais foram as principais conquistas nesse primeiro ano?
M.L. A primeira conquista foi reagrupar as pessoas em torno de uma causa e objetivos. A missão da Omnilink, que atua no mercado de gestão de risco de frotas, é proteger os ativos e pessoas. A missão é ajudar as empresas a proteger seus patrimônios e equipes. Fazemos isso por meio de tecnologia de gestão das frotas, prevenindo roubos e acidentes. Estamos conseguindo!
Há disrupções nesse modelo de negócio?
M.L. Sem dúvida. Algumas disrupções conseguimos ver, em outros casos somos surpreendidos no dia seguinte. Entre as que conseguimos enxergar, por exemplo, está a do carro autônomo, que, acredito, vá demorar muito para chegar ao Brasil por conta da infraestrutura das cidades e de estradas.
Eu acho que vamos conviver por um bom tempo ainda somente com os recursos da “direção assistida”.
A outra disrupção é o impacto da inteligência artificial, principalmente na tomada de decisões. Como de fato preparar as organizações e as pessoas para terem o mínimo de controle sobre o processo. As tecnologias são Big Data, deep learning, algoritmos de machine learning. Para nós, é uma tremenda oportunidade. Brinco que fazemos IoT (Internet das Coisas) há 15 anos e não sabíamos que ela tinha esse nome.
A nossa “coisa” é um veículo, de onde extraímos os dados, levamos para a nossa plataforma de serviços e geramos informação. Essa informação, tratada com a tecnologia de Big Data, pode se transformar em informação relevante para o cliente prever eventos e tomar decisões. Já testamos algumas coisas, como telemetria, e com isso usamos algoritmos de machine learning para fazer manutenção preditiva. Não é nenhuma novidade, mas com os dados acumulados pelo nosso parceiro da tecnologia, associamos causa e efeito e prevemos eventos. Essa é uma área em que conseguimos inovar e crescer. No mercado de segurança existe um limite para crescer. Por isso, precisamos saber o que agregar para o cliente, além de proteger seu patrimônio e diminuir os riscos de acidente.
Como você promove a mudança dentro da organização?
M.L. É um desafio enorme, pois o conceito é bacana, mas é muito difícil de ser implementado. Primeiro porque temos restrições orçamentárias. Como “separar” dinheiro para incentivar o pessoal a trazer projetos disruptivos e inovadores? Tem que ter sangue frio e estar disposto a arriscar algum dinheiro. Fazemos isso em certa medida, e estão surgindo coisas bem interessantes. Pode haver inovação em qualquer área, mas basicamente inovamos em desenvolvimento de produtos porque o risco de investimento é menor. Estamos desenvolvendo produtos para aumentar segurança, que é um investimento em redes e tecnologia. Outra coisa que faço é discutir o que o mercado precisa. Hoje, desenvolvemos uma série de parceiros cuja tecnologia integramos na nossa plataforma e oferecemos aos clientes.
Qual é o seu estilo de liderança? Como faz para manter o engajamento e a evolução?
M.L. É difícil falar sobre o próprio estilo, mas acredito que sou muito inclusivo e participativo. Na maioria das vezes sento do mesmo lado da mesa quando temos um problema. Isso é muito importante. Gosto também de envolver os outros e dar oportunidades, porque quando você confia na pessoa, a vontade dela de não decepcionar é muito poderosa. Claro que é necessário fazer isso dando um mínimo de condição. É preciso estimular essa cultura no time gerencial, porque, em uma empresa do porte da nossa, é tudo muito centralizado. A gerência média quer fazer e centralizar, então precisamos dar exemplos e ver o que as pessoas conseguem fazer.
Quais seus desafios daqui para frente?
M.L. Vejo que as pessoas, nas quais me incluo, têm muita dificuldade em lidar com aquilo que não se pode prever. Isso gera ansiedade, instabilidade e reações complicadas. É muito difícil. O maior desafio é olhar para frente e passar essa visão otimista do futuro. Em períodos de crise, manter a serenidade e não sair por aí batendo em todo mundo é importante. Tudo aquilo que não dá para prever gera angústia. Isso é da natureza humana, e ninguém gosta de mudar apenas por mudar.
Como você gostaria de ser lembrado?
M.L. Como uma pessoa que interage e contribui para o desenvolvimento, que de fato provoca impacto na vida das pessoas. Quero ser lembrado como alguém que sempre teve uma visão otimista do futuro. Claro que não é usar uma lente cor de rosa, pensar que está tudo a mil maravilhas, mas acreditar que vale a pena caminhar rumo a um futuro melhor.
Se pudesse voltar no tempo, qual seria a dica para o Michel que acabou de ser formar na faculdade?
M.L. Iria dizer: “Preste atenção, porque você nunca vai conseguir fazer nada sozinho. Não seja arrogante. Você não sabe tudo. Então, baixa a bola porque acabou de se formar. E busque entender a natureza humana”.