Nas últimas semanas, a Finlândia anunciou a nova reforma de seu sistema educacional, a ser iniciada já em 2016.

Por que esse país nórdico quer fazer mudanças se sua educação já figura entre as melhores do mundo nas disciplinas de matemática, leitura e ciências, segundo o ranking Pisa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)?

Porque almeja desenvolver suas escolas de modo diferente, como grandes comunidades interdisciplinares e colaborativas, a fim de estimular o prazer e a autonomia dos estudantes sobre seu próprio processo de aprendizado.

Em outras palavras, a Finlândia quer que seus cidadãos aprendam a aprender o tempo todo nestes novos tempos, reconhecendo oficialmente a ideia de que o aprendizado é uma habilidade valiosa.

Em meio à vastidão de conteúdos disponibilizados gratuitamente na internet, tomar a iniciativa de aprender é fundamental. Como já disse Joi Ito, diretor do prestigioso MIT Media Lab, “educação é o que outros fazem com você, enquanto aprendizado é o que você causa a si mesmo”.

Ito diz isso também porque respira inovação e sabe que aprendizado é seu componente essencial.

As possibilidades de aprender são intermináveis para os que buscam conhecimento hoje e requerem seleção. Há desde plataformas com conteúdo básico, como a Khan Academy, até os MOOCs, sigla que se refere a disciplinas abertas ofertadas gratuitamente por universidades como MIT e Harvard, passando pelos nanodegrees, cursos de qualificação profissional customizados para atender a demandas da indústria de tecnologia, e por redes como o Quora, enorme comunidade aberta de perguntas e respostas.

Eu, particularmente, destaco a parceria entre a Stanford University e a Y Combinator, uma das principais aceleradoras de startups do mundo, que disponibilizou sem custo todo o conteúdo de seu time de mentores pesos-pesados. No currículo, os segredos dos negócios inovadores de sucesso.

Será que um país como o Brasil está preparado para usufruir maciçamente essa fartura? Temos obstáculos a contornar para que exista amplo acesso a esse universo, como o não domínio de idiomas estrangeiros e os problemas de conectividade, especialmente quando consideradas as populações de mais baixa renda e as regiões mais remotas do território nacional. Mas temos, principalmente, de despertar nossa curiosidade e vontade de aprender sozinhos.

A Finlândia começa a buscar a solução para isso, modificando o papel de seus professores e instituições de ensino, tanto escolas como universidades. Nessa nova configuração, essas instituições devem se reposicionar como elementos de um ecossistema de aprendizado mais amplo, com o papel de dar significado aos conhecimentos por meio de discussões, validações de ideias e experiências práticas interdisciplinares do tipo “vai lá e faz”.

Os professores, por sua vez, ganham mais protagonismo, como grandes mentores que promovem e estimulam o aprendizado personalizado.

E nós, o que estamos fazendo?

"Na reforma finlandesa, o prazer e a autonomia de aprender ganham importância"