Será que todos que estão em suas reuniões virtuais vêm, mais ou menos, dos mesmos lugares? Passaram por escolas semelhantes, fizeram as mesmas viagens, frequentam os mesmos cursos, os mesmos restaurantes, clubes ou parques? Foram aos mesmos teatros e assistem muitos dos mesmos filmes e shows?

Muito provavelmente, a maioria dessas pessoas devem ser também da mesma etnia, e – por tudo isso – talvez tenham framework mentais bem similares.

Faço toda essa introdução para compartilhar uma interessante descoberta que fiz com o livro “Ideias Rebeldes”, de Mathew Syed, que recebi na assinatura de um serviço de curadoria de livros, focado no desenvolvimento pessoal e profissional.

Na publicação, Syed conduz o leitor a reflexões importantes. Fala sobre equipes diversas e logo, coloca em xeque a ideia de meritocracia, assunto que já abordei em artigos passados. O autor apresenta um termo novo para mim: diversidade cognitiva. A forma como enxergamos a realidade, o repertório que temos para mapeá-la e buscar soluções criativas a desafios complexos está baseada em nossa forma de aprender e ensinar.

Posto isso, segue explicando que a diversidade demográfica não necessariamente mapeia a diversidade cognitiva. Podemos ter pessoas de etnias diversas em uma vídeo conferencia e todas elas pensarem da mesma forma, partirem das mesmas premissas e chegarem às mesmas conclusões. E times assim podem não ser os melhores para resolver problemas complexos.

Se esse for seu caso, talvez você esteja em uma “câmera de eco”, outro conceito interessante. “Câmeras de eco” são ambientes [ digitais ou não ] nos quais nossos pensamentos e opiniões apenas ecoam, sem o contraditório, sem a dúvida. Tal eco nos leva à equivocada impressão de certeza absoluta sobre qualquer assunto. O documentário “Dilema das Redes”, da NetFlix, aborda essa questão, tendo em vista que nas redes sociais, à medida que seguimos apenas quem está alinhado com nossas opiniões, tendemos a vê-las ecoando ad eternum. E, pior, acreditamos piamente que elas são as únicas verdades.

No mundo complexo em que vivemos, a todo dia nos são exigidas soluções multidisciplinares e representativas de várias e diferentes vozes. Fazendo uma analogia, se estivéssemos numa corrida de revezamento, escolher a equipe seria simples: aqueles que correrem mais rápido estariam no time. Mas se o revezamento fosse também um triatlo, teríamos de ter um melhor corredor, um melhor nadador e um melhor ciclista. Comparar esses três atletas entre si seria injusto com todos e não garantiria a medalha.

Entendendo que os problemas de negócios e da humanidade ficam cada vez mais complexos e multidimensionais, a diversidade cognitiva da equipe passa a ser fundamental para resolvê-los. É nisso que devemos investir.

Que tal, então, enxergar nessas telas das reuniões virtuais, o que tem faltando ao time? (um nadador ou um ciclista, ao invés de apenas corredores?). Que olhar diverso, que abordagem disruptiva, que perguntas incômodas não estão sendo feitas? Que tal aprender a olhar pela perspectiva desconhecida do outro? Respeitar esse olhar diverso, sinceramente.

Em um happy hour virtual que fiz com uma turma interessante de colaboradores com mais de 60 anos na everis, um deles trouxe uma declaração incrivelmente simples e conclusiva: “Ter respeito por mim não é me chamar de senhor, mas trabalhar realmente colaborativamente comigo”. Ele tem 71 anos. Sim, 71 anos e importante contribuinte em uma equipe de quase 4 mil colaboradores em uma empresa de tecnologia.

Nesse papo, ficou claro que a vontade, a energia e a impulsividade dos mais jovens anima os profissionais seniores, que também se sentem motivados a formar os mais novos. Claro que há e haverá embate de ideias e opiniões. Neste aspecto, o desafio das lideranças é oferecer uma segurança psicológica para que todos possam colocar à mesa suas divergências. Nem todos precisam ser amigos no final da jornada, não é sobre isso, mas imaginem como todos sairão maiores e melhores se puderem se escutar, aprender a olhar por novas perspectivas. Ampliar suas consciências e perspectivas.

As inovações que mudam o mundo são cada vez mais construídas por várias ideias, que se sobrepõem ou se complementam. Imaginem se a Netflix passou de uma empresa de postagem de DVDs para a uma das maiores produtoras de entretenimento do mundo, com o olhar de uma só pessoa. No livro “A Regra é Não Ter Regras”, o CEO da empresa, Reed Hastings mostra que tal trajetória foi feita no embate de ideias e opiniões. Li que lá, uma plaquinha nas salas de reuniões encoraja o incômodo para inovação: “Please, do NOT please you boss” [ “Por favor, NÃO agrade seu chefe”, em uma tradução livre ].

A era de um Professor Pardal trazendo ao público as prontas inovações pré-concebidas já acabou. Quando mais exercitamos a diversidade no dia-a-dia, mais isso fica claro. Dar e receber feedbacks sinceros e se colocar na humilde posição do “não sei”, pode alavancar trajetórias, existências e empresas. Saber o que não se sabe é fundamental! A jornada pode ser muito mais interessante, se diversa também cognitivamente. Nossa responsabilidade como líderes e gestores é justamente promovê-la.