Ainda não existem tratados oficiais, acordos internacionais ou marcos bem definidos do que se trata a fluência digital. O próprio termo, fluência digital, parece gasto, desatualizado, como a chamada “rede internacional de computadores”, nome quase oficial para a internet lá nos idos dos anos 1990.

Podemos ao menos concluir, ainda em um momento sem grandes estudos sobre o tema, que a fluência digital é uma necessidade que deriva diretamente da Web 2.0 (termo usado a partir de 2004), onde, graças à disseminação da banda larga, o usuário de internet não era mais um mero consumidor passivo. Foi na Web 2.0 que a internet começara a ser vista como uma plataforma, onde o internauta (outro termo aposentado) também compartilha e produz conteúdo. A partir deste momento, surgem uma série de termos como mídias sociais, tecnologia da informação e muitos outros, elementos que já são senso comum no imaginário de quem acessa a internet e das empresas que fazem dela um campo fundamental para seus negócios.

Podemos dizer que a fluência digital adentra a agenda corporativa até de forma tardia. Os negócios conseguiram absorver grande parte dos avanços tecnológicos dos últimos 20 anos com considerável rapidez e, com bastante criatividade, deram vida à uma vasta miríade de novos negócios e possibilidades. Olhar para um produto e pensar se ele se enquadra dentro de uma perspectiva digital é fundamental para qualquer um que tem planos de ser um player global. Abaixo apresentamos uma escala que pode lhe ajudar e entender a fluência digital do ponto de vista do produto. Você sabe se o que você oferece é fluente digitalmente?

Os 3 fundamentos da fluência digital

Quando falamos da fluência digital de uma empresa, trabalhamos com variantes complexas, elementos que envolvem o modelo de negócio, a cultura e a forma como a empresa deseja se posicionar em ambientes digitais. Se olhamos especificamente para o produto ou serviço oferecido, trata-se de um exercício mais simples e que pode ajudar em novas abordagens, na aquisição de mais conhecimento e até mesmo na reestruturação desse produto ou serviço. Vamos trabalhar a fluência digital a partir de 3 pilares:

1) Acessibilidade: a relação que o usuário tem com o produto/serviço da perspectiva de espaço e tempo, o quão fácil ou difícil esse acesso se mostra;

2) Personalização: quando o usuário sente que o conteúdo é feito para ele e/ou valoriza sua individualidade de consumo

3) Empoderamento: o usuário é mais do que um consumidor; ele sabe que pode ajudar a construir algo maior com suas próprias habilidades.

Como quantificar a fluência digital?

A resposta para essa pergunta é: não devemos quantificar nada. Fluência digital não se trata de atingir o valor máximo em cada um dos 3 pilares. Todo produto ou serviço é mais poderoso em alguns aspectos e menos em outros. Ser fluente digitalmente é entender tais aspectos e direcionar sua estratégia de desenvolvimento para aquilo que se deseja. Às vezes o objetivo é elevar a personalização, mas manter o empoderamento baixo. Veja abaixo os exemplos da Netflix e Spotify:

Quero que meu produto flua digitalmente. Mas como?

Pensar em fluência digital para negócios que já nasceram digitais é um exercício relativamente fácil. O grande desafio é inserir um produto totalmente analógico dentro deste panorama. Felizmente este é um exercício que não possui vida longa, já que as empresas entendem o ambiente digital como fundamental aos negócios há muitos anos; o desenvolvimento de negócios que não envolvam o campo digital são raros hoje em dia.

De qualquer maneira, vamos pensar em um exemplo completamente analógico, como uma palestra ou qualquer outro evento presencial. Sua acessibilidade é baixa, já que o usuário precisa, além de comprar um ingresso, ter a disponibilidade de estar presente no dia e horário marcados, além de se locomover até o local. A personalização é relativa, já que, em geral, o conteúdo já foi pré-determinado: um grupo de pessoas se identificará com o tema, outro grupo, não; e o empoderamento é nulo, já que o usuário não participará ativamente como produtor do conteúdo, e sim como expectador. Quais as alternativas para que este evento evolua em fluência digital?

Novamente, trazer fluência digital a um produto ou serviço não significa atingir ao máximo todas as barras, mas entender em que pontos se deseja que ele seja desenvolvido. Ser acessível, personalizável e capaz de entregar poderes nas mãos do usuário são três elementos fundamentais a qualquer negócio que almeje conquistar espaço em um mercado global.