“Para liberar o potencial máximo das pessoas é necessário dar significado e sentido ao que estamos fazendo”
É presidente da Companhia Brasileira de Alumínio desde junho de 2016, mas trabalha no setor de mineração e metais desde 1980. São 20 anos na Alcoa, 5 anos no Grupo Votorantim e 10 anos na Vale. Atualmente, Ricardo Carvalho ocupa a posição de diretor-presidente da CBA, a primeira indústria nacional fabricante de alumínio do País.
A Companhia Brasileira de Alumínio foi fundada em 1955 e é pertencente ao portfólio de negócios da Votorantim S.A. A atuação da empresa está voltada, principalmente, para prover soluções e serviços para indústria brasileira com foco nos setores de embalagens e transportes, bem como para os mercados de bens de consumo, energia e construção civil através de parceiros estratégicos.
Entrevistado por José Luiz Weiss para o Blog da Corall Consultoria, Carvalho detalhou o que diferencia seu trabalho da concorrência, o que considera sucesso e também como faz para liberar o potencial máximo das pessoas. Durante a conversa, o executivo ainda revelou alguns conselhos e dicas para quem está entrando no mercado de trabalho.
“Faça o esperado e sempre mais alguma coisa, o que é fazer a diferença na prática. Com isso, naturalmente terá evolução na sua carreira”
Você trabalha em um setor onde as pessoas são fundamentais para o sucesso da empresa. Como liberar o potencial máximo das pessoas e da organização?
R.C: Para liberar o potencial máximo é necessário em primeiro lugar dar significado e sentido para o que estamos fazendo. Assim as pessoas podem se motivar e enxergar que podemos chegar em um lugar melhor. Em segundo lugar, envolver os funcionários de forma legítima nas decisões que vamos tomar na companhia. Isso tem um poder muito grande, pois a diversidade traz soluções melhores que as decisões individuais.
Depois é preciso dar autonomia e suporte, ou seja, delegar com responsabilidade. Tenho uma característica pessoal de acompanhar e não tirar a autonomia. Prefiro, de forma construtiva, checar como está andando o negócio e se informar para dar suporte. Tudo isso somado pode, de fato, liberar o potencial humano. Se perceberem que há sentido no que estão fazendo, tendo autonomia adequada, suporte e sendo reconhecidas pelo que é feito, é possível elevar o potencial da organização ao máximo.
Como vocês harmonizam a necessidade de entregar resultados para acionistas, clientes, colaboradores e até mesmo para sociedade?
R.C: Temos a preocupação de retorno para o acionista e oferecer tranquilidade para os empregados. Já para a sociedade focamos nas comunidades em que atuamos. Digo isso principalmente em apoio na área de educação e gestão púbica. Temos como meta, por exemplo, alcançar um Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) acima da média do Brasil. Trabalhamos em parceria com prefeituras e secretarias de educação para dar suporte e fazer diferença. Também oferecemos ajuda de especialistas para dar apoio e melhorar a eficácia da gestão pública.
Nos últimos anos escutamos a mídia falar sobre a crise da indústria de alumínio. O setor retrocedeu 30 anos no Brasil, voltando ao nível de produção de 1985. Qual sua visão de futuro para seu negócio? Como a empresa se diferencia da concorrência?
R.C: Estamos começando a olhar a oportunidade que chamamos de manufatura 4.0, principalmente no desenvolvimento de pilotos nessa linha de manufatura. Essa também é uma parte integrante da CBA, que é buscar atingir novas tecnologias e possibilidades dentro do mundo atual.
O que você considera sucesso para CBA?
R.C: Tem muito a ver com a nossa ambição da CBA do futuro. Ser competitiva e robusta para um cenário externo mais ácido. Mas, ao mesmo tempo, uma empresa ágil, parceira dos clientes e reconhecida pelos stakeholders como uma organização que gera valor para sociedade como um todo.
Baseado na sua experiência, que dicas você daria para outros líderes de empresas que estão transformando seus negócios?
R.C: Em primeiro lugar envolva as pessoas e use isso em favor da organização. O poder do envolvimento da empresa é muito grande. A chance de ter sucesso em transformações numa organização alinhada e que vê sentido é muito maior. Minha experiência mostra que isso é importante. Em segundo lugar é preciso ser persistente em seguir naquilo que definiu, já que as dificuldades e barreiras aparecem e eventualmente a organização pode balançar e ficar na dúvida se vai alcançar sucesso.
Você precisa de persistência para chegar lá, pois quando falamos em transformação não é algo óbvio. Requer trabalho, sacrifícios, quebras de paradigma, resistências e fatores internos e externos que não estavam previstos. É necessário ser forte para que as barreiras sejam retiradas do caminho. Esse é um papel importante do CEO, que é pegar alguém que está caindo e levantar. Isso é fundamental.
Se pudesse voltar no tempo para conversar com o Ricardo, aquele que acabou de se formar em engenharia química na UFRRJ na década de 70, quais seriam os conselhos? O que faria diferente?
R.C: Na época que sai da Universidade um conselho seria de se expor e não ter medo de aparecer. Vejo que a geração atual é conectada e já vem mais preparada para se expor. Quando me formei, saí muito cru da faculdade. Tive no início da carreira o desafio de me expor. No começo não precisamos ter medo de aparecer.
A evolução está em se expor, tentar, experimentar, fazer e aprender. Com o tempo aprendi, até não demorei muito, e me libertei nesse sentido, o que é muito rico para evolução profissional.
Se você realizar tudo que já desejou e deseja, pelo que gostaria de ser lembrado?
R.C: É uma pergunta interessante. Gostaria de ser lembrado como um líder que de fato fez diferença na organização, na evolução do negócio e das pessoas. Essa é a forma que gostaria de ser lembrado.
Gostaria de deixar uma mensagem final?
R.C: Quero deixar uma mensagem para os mais jovens, que estão começando suas carreiras e início da jornada de uma vida. Meu conselho é para que nunca parem de aprender, com tudo e com todos. Não deleguem seu desenvolvimento. Não se desenvolvam apenas em cursos, mas absorvam o que puderem das pessoas e das organizações. Estejam sempre de cabeça aberta para aprender.
O que eu também recomendo para os profissionais é algo que fiz e deu certo. Precisamos ser ambiciosos, mas antes de estar pensando em ser promovido, precisamos fazer a diferença e o melhor no que atuamos. Nunca trabalhei para somente subir de cargo, mas para ser diferente no que fazia. Faça o esperado e sempre mais alguma coisa. Com isso, naturalmente conseguirá evoluir na sua carreira.
Para terminar, diria que é necessário ter um balanço entre resultados e pessoas. Quanto mais a organização estiver alinhada com essa visão compartilhada, com recursos próprios e suporte, seu resultado será melhor.