Um jovem que aos 24 anos montou o primeiro banco brasileiro 100% digital. Esse é Pedro Conrade, CEO do Banco Neon, que entrou no mercado financeiro em 2016 motivado pela angústia de ser pego de surpresa por uma tarifa abusiva do banco. Inspirado em sua frustração, criou um negócio com a missão de cobrar o menor valor possível em taxas, não ter anuidade, taxa de abertura ou qualquer outro valor de manutenção. Prezando por atendimento, usabilidade e transparência, hoje já são mais de 250 mil contas abertas e um escritório com mais de 150 funcionários.

A história empreendedora de Conrade começou cedo com uma loja de biquínis aos 16 anos, no Guarujá. O negócio foi bem e ele decidiu vender depois de dois anos, quando veio para São Paulo estudar administração na FGV. No meio do caminho conseguiu bolsa de estudos para fazer um curso de empreendedorismo em Boston e depois um outro de negócios em Frankfurt. Além disso, antes de criar o Banco Neon, também empreendeu na área de compras coletivas.

Entrevistado por Alessandra Almeida para o Blog da Corall Consultoria, o CEO detalhou os aprendizados que teve em sua jornada intensa de empreendedorismo dos últimos anos. Conrade também falou sobre liderança e explicou como promove o intraempreendedorismo no Banco Neon. Durante a conversa, revelou ainda as disrupções que estão ocorrendo no mercado financeiro e deu alguns conselhos aos futuros empreendedores.

“Temos a preocupação constante de ser inovador e não cair na rotina de uma empresa tradicional”

Na sua jornada empreendedora qual foi seu maior aprendizado que fez a diferença na hora de lançar o Banco Neon?

P.C: Todas as minhas experiências anteriores não tiveram um grande planejamento estratégico. Por isso, digo que o principal aprendizado está ligado com a execução. A parte criativa não foi o principal elemento que me moveu no empreendedorismo. A cultura do Neon está muito ligada a esta questão de execução. Vale muito mais uma ideia normal com uma execução incrível do que uma ideia fantástica com execução fraca. A execução é algo primordial e está relacionada com a questão de falar menos e fazer mais. Além disso, é importante estar no meio de pessoas boas e que comprem o seu sonho. Isso ajuda muito no final das contas.

Como criar uma organização que permanentemente inova e promove o intraempreendedorismo? Como liberar o potencial máximo das pessoas e da organização? Como pratica esta cultura no Neon?

P.C: É engraçado porque somos uma empresa pequena, mas que já pensamos em como ser mais ágil do que as startups que estão nascendo. Temos a preocupação constante de ser inovadores e não cair na rotina de uma empresa tradicional – grande, pesada e que é difícil realizar mudanças.

No momento estamos dividindo a empresa em células para tornar as áreas ainda mais independentes e produtivas. Sabemos que, na prática, não é fácil, mas trabalhamos fortemente para que dê certo. Sei que vai chegar um momento que essa estrutura não vai servir e vamos precisar inovar novamente. Por isso digo que é necessário saber a relevância das mudanças no dia a dia para não deixar o que é muito importante para depois.

O Banco Neon é uma empresa totalmente digital com a proposta de trabalhar na questão de educação financeira, principalmente dos jovens. Quais são as disrupções que estão ocorrendo na sua área de negócio e como vocês acompanham os novos cenários?

P.C: Ha dois anos não existia a palavra fintech no Brasil. Agora vemos que, a cada ano, pelo menos dobra a quantidade de empresa do setor. Isso acontece porque a barreira de entrada diminuiu. Por exemplo, antes precisava de muito capital para atuar no mercado financeiro. Já hoje, com a tecnologia, principalmente o mobile, isso não é o primordial. Ainda é um setor muito concentrado, com muitos desafios por se tratar do mercado financeiro, mas agora tem a oportunidade de competir onde você não conseguia, ficando mais democrático.

O interessante é que comecei esse negócio porque tive uma péssima experiência com o banco. Por isso, nossa visão de longo prazo é atingir solidez em produto, time, distribuição e rentabilidade. Queremos que os nossos clientes não precisem mais acessar os canais tradicionais e, para isso, buscamos ser um banco completo, prezando por bom relacionamento, atendimento, usabilidade e transparência.

Falando de liderança, qual o seu estilo? Como faz para motivar e engajar sua equipe para alcançar e superar metas?

P.C: Meu papel de liderança é mais solto, sendo que algumas vezes acabo pecando nessa liberdade. Busco atuar com responsabilidade para tornar o processo de liderança muito mais fácil. Mas para isso acontecer preciso de pessoas que constroem o negócio - pessoas inteligentes, com boa vontade e que abracem a causa. Não é por menos que um dos nossos valores da empresa diz que compartilhando responsabilidades você cria os líderes.

Ser jovem ajuda ou atrapalha?

P.C: Tem os dois lados, mas até agora acredito que mais me ajuda. Por exemplo, trouxemos para o Neon um CIO que tem grande experiência no setor e auxilia em diversos problemas do mundo financeiro. Logo na primeira reunião ele me falou: você está montando esse negócio porque não tem ideia do trabalho e complexidade desse mundo.

Depois disso comprovei que o fato de ser jovem, e não possuir ainda grande experiência no mercado financeiro, faz com que eu ouse e faça a diferença no negócio. A parte ruim é que quando possui experiência você corta alguns caminhos. Sendo jovem talvez eu gaste mais energia comparando com o competidor que já tem vivência. Mas para balancear eu trago pessoas experientes que possam me ajudar com essas questões.

Algum líder ou modelo de liderança foi mais inspirador para você? Quais são suas referências?

P.C: O principal líder foi meu pai, que não foi nenhum gênio da lâmpada, mas que era honesto e me educou como ninguém. Ele chegou a ser engraxate e depois se tornou um empresário. Já do ponto de vista do business tenho alguns líderes que hoje já consigo entrar em contato para tomar um café de 30 minutos para tentar aprender com eles. Não tenho um só; são vários empreendedores de sucesso com os quais busco aprender diariamente.

Se pudesse voltar no tempo para conversar com o Pedro, aquele que acabou de montar uma loja de biquíni, quais seriam os conselhos para aquele adolescente de 16 anos que já tinha muitos sonhos?

P.C: Fiz algumas besteiras, como gastar todo dinheiro que ganhei no primeiro negócio comprando um carro. O engraçado é que logo que sai da concessionária não tinha dinheiro para abastecer o veículo. Mas o meu conselho seria para seguir os instintos, pois mesmo errando, no final do dia as coisas se ajeitam. Se você tem a visão de fazer o bem e de ser transparente as coisas caminham para o sucesso.

Tem algum legado que gostaria de deixar para o mundo?

P.C: Comecei o Banco Neon para deixar algo para a sociedade. Por isso o meu legado é fazer com que o banco não seja um mal necessário. Meu objetivo é que as pessoas tenham prazer de ter um relacionamento com o mercado financeiro.

Qual é o conselho que você pode deixar para quem quer empreender?

P.C: A dica é para não ficar esperando as condições perfeitas para começar um negócio. O melhor jeito de aprender é colocando a mão na massa. Mesmo que dê errado, como já aconteceu comigo, você vai aprender um caminho novo. Aconselho a se preparar conversando com algumas pessoas e também pesquisando os bons exemplos que estão no Brasil e mundo afora. Quando tiver minimamente confortável, coloque seus sonhos em prática.