Sua carreira profissional foi praticamente toda envolvida com digital e mobile. Leo Xavier, CEO da Pontomobi, é um expert quando falamos sobre o mundo móvel, dos smartphones e aplicativos. Referência no tema, escreveu seu primeiro livro, #Mobilize, em 2010, sendo que em 2013 publicou seu segundo livro, “A Primeira Tela”.

Desde 2011, é professor na FGV, onde leciona Mobile Marketing no programa de educação continuada. Em 2012, foi o primeiro jurado brasileiro da categoria Mobile no Festival de Criatividade Cannes Lions. Em 2015, vendeu a Pontomobi para a Dentsu Aegis Network.

Entrevistado por Fábio Betti para o blog da Corall Consultoria, Leo Xavier detalhou sua história como empreendedor e comentou sobre seus dez anos de muita conquista no universo mobile.

“A cada seis meses precisamos mudar como negócio. Porque a tecnologia, o mercado e as pessoas mudam. E nós temos o propósito de ajudar as empresas”.

Antes de ser o “Leo Xavier da Pontomobi” você trabalhou em uma empresa de pintura com o seu pai, montou uma distribuidora de bebidas e ainda teve algumas outras boas experiências. Só que na última década acabou construindo uma trajetória profissional de sucesso apostando em um mercado que em 2007 ninguem acreditava, o mobile. Qual foi seu maior aprendizado nessa jornada?

Leo Xavier: Entre os meus 17 e 19 anos trabalhei na empresa de pintura do meu pai, que herdou do meu avô. Apesar de ser uma empresa familiar, apliquei um pouco dos conceitos da faculdade. Na época, estudava na FGV (Fundação Getulio Vargas). Consegui de uma certa forma colocar em prática a lógica do comerciante, o tratar comercial e também entender melhor o cliente. Sempre digo que foi uma excelente oportunidade. O engraçado é que há 20 anos não existia essa cultura atual do empreendedorismo. Era muito mais ter seu próprio negócio.

Depois que me formei montei uma distribuidora de bebidas da Austrália para distribuir em alguns bares Brasil afora. Foi uma experiência de um ano e meio, com os próprios recursos, mas quebramos porque pegamos uma alta do dólar. Foi algo bacana porque peguei dois fundamentos chaves do negócio.

Primeiro foi a lógica das pessoas, que é compreender a dinâmica de formar time e ter sócios. O segundo ponto foi entender a importância de contar com auxílio de especialistas. Quando não sabemos fazer alguma coisa precisamos procurar quem trabalha com isso, seja assessoria de imprensa, jurídica, técnica ou comercial.

Sei que hoje tem muito mais instrumentos disponíveis para conseguir ter seu próprio empreendimento, mas naquela época não tinha tanto subsídios para construir um plano de negócio e as coisas acabaram não dando certo.

Resumindo, logo depois fui para o Submarino, onde fiquei por dois anos. Foi incrível porque era uma empresa que já tinha uma cultura de startup, apesar que esse termo ainda não existia. Na sequência, fui chamado para tocar um Chat Amizade e foi o meu primeiro contato direto com Telecom. Era um portal que vendia conteúdo usando a Jovem Pan como instrumento de divulgação. O interessante é que tivemos um estalo no meio do caminho e começamos a vender por atacado. Posso dizer que começamos o mobile marketing de uma forma despretensiosa.

Sabíamos que precisávamos construir uma ponte para marca conversar com seu público por meio do celular. Não tinha smartphone, mas ficou claro que tinha uma janela para explorar essa grande oportunidade. Imaginávamos que os celulares seriam múltiplos e inteligentes, com grande potencial de comunicação.

Foi aí que, em 2007, decidi sair da empresa para montar a Pontomobi, com foco em mobile marketing. Nesses dez anos que se passaram construímos uma companhia com foco em ajudar outras empresas a compreender a plataforma móvel e depois mostrar como poderiam se apropriar dessa plataforma para reinventar seus negocios.

A cada seis meses mudamos como negócio porque a tecnologia, o mercado e as pessoas mudam. E nós temos o propósito de ajudar as empresas.

Quando você percebeu que o mobile seria essa grande plataforma?

Leo Xavier: É um exercicio de crença, digo que não é simplesmente montar um negócio; isso independentemente do seu ramo. Sabíamos desde o inicio, claro que não tínhamos uma ideia concreta de quando iria acontecer, que em algum momento esse aparelho móvel iria ser algo que redefiniria as relações de negócios, de processos e das marcas, produtos e serviços com seu público.

Hoje é obvio, mas em 2007, quando não tinha 3G, iPhone e loja de aplicativos, era apenas uma crença. No começo foi difícil ecoar a importância de se pensar em formas de aproveitar o celular nas empresas.

Na verdade posso dizer que é um misto de crença com resiliência e, claro, cuidado com a teimosia, pois realmente pode não ter sucesso e será preciso mudar o foco. Mas tínhamos diversos indicadores que mostravam que a trilha era certa. E pensávamos que ser o especialista desse mercado iria garantir um prêmio lá na frente.

Como criar uma organização que permanentemente inova? Como liberar o potencial máximo das pessoas e da organização?

Leo Xavier: Tem que ter foco, presença e tesão no que está fazendo. Tem que respirar e transpirar muito. Se você consegue inspirar, vai conseguir liberar o máximo das pessoas. A gestão é dada por exemplos.

Se quer que os caras trabalhem duro, vai precisar trabalhar duro. Se é para ter comprometimento, também temos que ter. Se for para comemorar, que também é importante, precisamos estar juntos.

Acredito que os valores são exercícios do dia a dia daquilo que a empresa valoriza. Caso contrário, serão apenas palavras bonitas que geram grandes conflitos no dia a dia. Não pode destoar o que está escrito do que a gente faz. A gente se preocupa muito com isso.

As pessoas de fato são as definidoras para construir, manter e reforçar uma cultura. As vezes precisa ser ferro e fogo, algo intenso, mas na maioria dos momentos está tudo alinhado e fluindo muito bem.

Tem algo diferente que vocês fazem para isso acontecer?

Leo Xavier: Não necessariamente diferente pela exclusividade, mas pela consistência. Sempre tivemos uma cultura horizontal que funciona na prática. Temos mobilidade entre áreas e cargos. Sempre promovemos a proximidade. O time entra na minha sala diariamente para falar comigo.

Temos uma absoluta horizontalização, sem desrepeito e com plano de carreira. Além disso, temos um bate papo sobre os projetos, as dúvidas gerais, os números da empresa, os cortes, a reposição, os benefícios e diversos outros temas. Temos até uma caixinha da vergonha para quem não quer dar as caras no meio da galera.

Tentamos exercitar uma lógica de proximidade e transparência. As pessoas estão aqui 70% do dia útil delas. Então tem que estar legal para trabalhar e viver. Prezamos pela dinâmica de garantir um ambiente legal de trabalho com as melhores pessoas.

Falando agora de liderança, qual seu estilo? Como faz para motivar e engajar sua equipe para alcançar e superar metas? E qual seu principal desafio de liderança hoje?

Leo Xavier: Infelizmente li pouco livros de negócio na minha formação. Já sobre os gurus que tive, se podemos dizer assim, sempre tentei extrair o máximo dessas pessoas. Por exemplo, o Paulo Humberg me ensinou muita coisa, principalmente porque é um cara que não erra. Ele é preciso, equilibrado e faz contrato como ninguém.

Com o Duda Melzer aprendi a importância de deixar de ser garoto empreendedor para virar empresário. Hoje tenho perto o Abel Reis, que tem uma lógica de carreira sensacional. Ele foi pioneiro no mundo digital, depois vendeu sua agência para um grupo internacional e na sequência fez sua carreira como executivo. Algo muito próximo da minha vida profissional que levo como exemplo.

Busco espelhos ao longo da trajetória e pensando nos elementos que fazem sentido. Olhar e extrair elementos sempre é muito bom.

Você acompanha o mercado como um todo e é um executivo inovador, sem dúvida. O que está vendo como um próximo estágio de negócio?

Leo Xavier: Conseguimos chegar no ponto que sempre desejamos que o mobile estivesse. Um mercado onde é totalmente compreendida a importância de se pensar a plataforma móvel como estratégia para o negócio.

Cada vez mais será uma entrega consultiva e estratégica que muda o negócio do cliente. Em 2017, cerca de 90% foram projeto de construção de negócio, que é a materialização. A gente no começo era uma inovação na área de comunicação. Hoje somos uma parte fundamental das empresas.

Isso é desafiador porque os elementos estão na mesa e precisamos acelerar para virar algo substancioso. Vamos pelo caminho de ser um parceiro estratégico e relevante. Assim vamos ser um grande integrador de soluções que ajudam a redefinir a companhia.

Tem um lado consultivo estratégico. Por outro lado, existem os desafios de trazer os ferramentais para criar as melhores soluções. São boas combinações, certamente.

Qual é o segredo para acompanhar as inovações?

Leo Xavier: Primeiro de tudo é relaxar. Caso contrário, no final do dia vamos sempre ter o sentimento que estamos devendo. Mas o relaxamento não pode ser desleixo. Precisamos estar conectados. Além disso, a conversa permanente com o cliente é fundamental.

Eu também dou aulas, o que me obriga a aprender e ler muito. Por exemplo, há um ano não tinha porque falar sobre chatbot na sala de aula. Já há seis meses deveria entender. Hoje preciso saber muito sobre o tema; não posso saber menos que os alunos.

Outra coisa é estar presente nos grandes centros e eventos. Estamos sempre no MWC, SXSW e Cannes. Estar lá e respirar o dia a dia do evento é importante.

Se você realizar tudo que já desejou e deseja, pelo que gostaria de ser lembrado?

Leo Xavier: Óbvio que hoje, com 41 anos, sendo que vivi dez anos intensos na Pontomobi, vai ser difícil não responder que gostaria de ser lembrado por ter feito parte diretamente da criação do mercado de mobilidade.

Mas daqui a 10, 20 ou 30 anos acho que vou querer ser lembrado como alguém que realizou e construiu coisas, de uma forma mais ampla. Quero olhar para trás com orgulho por ter deixado algo legal para todos.

Se pudesse voltar no tempo para conversar com o Leo, aquele que acabou de sair da Faculdade e estava montando uma distribuidora de bebidas, quais seriam os conselhos? O que faria diferente?

Leo Xavier: Certamente falaria para ser mais relaxado com os fracassos. Vai quebrar, vai dar errado, vai doer, mas as coisas vão se acomodar e dar certo. A altivez no momento da queda é mais importante do que qualquer outra coisa. Eu tomei muita pancada, e ainda continuo tomando, até as coisas se encaixarem. Aconselharia ficar tranquilo, ter raça, porque as coisas vão acontecer. E a outra coisa é ler mais livros e jornais para sair um pouco das redes sociais.