Uma empresa líder em soluções em ingredientes de origem natural. Estamos falando da Ingredion, que possui clientes em mais de 100 países e atua em mais de 60 diferentes setores da indústria. O objetivo da organização é contribuir com soluções inovadoras para ajudar a encontrar um equilíbrio entre custo, agilidade, inovação e culinária, permitindo acelerar o sucesso dos clientes e atender as necessidades dos consumidores.

No comando para América do Sul está Ernesto Pousada, executivo com experiência em empresas como Suzano Papel e Celulose e The Dow Chemical. Entrevistado por Ney Silva e José Luiz Weiss para o blog da Corall Consultoria, Pousada detalha sua trajetória profissional de sucesso, experiências em diferentes realidades, os maiores aprendizados e sua paixão por ser executivo.

“O que conta é que no final do dia estamos aqui para ser felizes. Isso é uma jornada e propus que quando chegasse aos 50 anos não iria reclamar do que fiz da minha vida”.

Você teve início de carreira numa grande multinacional (Dow Chemical), com várias experiências internacionais, e depois de uma passagem por uma grande empresa de origem brasileira, como a Suzano, volta a trabalhar numa multinacional com sede nos USA, ao assumir a posição de GM para a América do Sul na Ingredion. Baseado nas suas experiências, foi possível identificar similaridades e diferenças quando se compara o trabalho em uma multinacional versus nacional?

E.P: Essa pergunta é muito interessante porque na verdade existem alguns estereótipos quando falamos de carreira internacional e das multinacionais. Após algumas mudanças, encontro mais similaridades entre as culturas das empresas e no “modus operandi” do que propriamente dizer que tem diferença entre a multinacional de uma nacional. Hoje estou na Ingredion (como presidente da América do Sul) e vejo aqui com algo mais parecido com uma Suzano Papel e Celulose (nacional) do que com a The Dow Chemical, que é uma grande multinacional como a Ingredion.

Encontro na verdade as diferenças ou similaridades muito mais voltada à cultura da empresa, como a maneira de fazer negócio e o tipo de cliente, ao invés de cravar que acontece por ser uma multinacional. É uma questão das pessoas quererem acreditar neste estereótipos, ou das pessoas usarem como subterfúgio, de falar que lá é assim. As empresas são, na verdade, os reflexos das pessoas que trabalham na organização. Sempre falo que é importante acreditar, influenciar e mudar. Digo que no dia que eu não acreditar mais nisso, de influenciar e fazer as coisas caminharem corretamente, de que isso é possível, ainda que não aconteçam no curto prazo, posso ir embora e parar de trabalhar.

As pessoas precisam acreditar no seu poder e saber que podem influenciar o destino. As empresas são muitos mais representativas em função das pessoas que estão lá e que vão formar a cultura. Não dá para dizer que uma multinacional é assim e ponto. Minha passagem pela Ingredion mudou esse meu paradigma. Se me perguntasse, antes de vir trabalhar aqui eu pensava diferente. Mas com certeza depende muito mais da cultura e de como as pessoas estão envolvidas.

Pensando na sua carreira de sucesso como executivo. Quais decisões você tomou que mais ajudaram a chegar aonde você chegou?

E.P: A coisa que mais me divirto no trabalho é o desafio. Vou traduzir desafio: estar aprendendo todos os dias. Não é o medo do desafio, mas sim para onde vai me levar, pois vejo como uma oportunidade. Claro que tenho meus medos, sou ser humano, mas procuro olhar como uma chance de crescer. Na minha carreira consegui avançar quando me lancei nos maiores desafios. Por exemplo, quando mudei de uma carreira internacional de sucesso e me transferi aqui para o Brasil, na Suzano.

Queria aprender como funcionava uma empresa nacional, claro que foi um pouco na emoção e também pesei a razão, mas foi o maior aprendizado da minha vida. Isso também por precisar me adaptar a várias questões. Depois de 16 anos em uma empresa onde comecei como estagiário e trainee, achava que existia somente uma maneira certa para as coisas funcionarem. Mas vi que tinha um outro jeito, que hoje sei que não é nem certo ou errado, mas diferente. Ao lançar um novo desafio, de fazer novos negócios e relacionar, me sinto mais completo e preparado. Sempre acreditei que aprendizagem vem primeiro. É assim que se prepara para o próximo passo. As coisas acabam acontecendo naturalmente e criam um elo importante de confiança com você mesmo.

Porque em um papel como presidente, ou diretor, você é desafiado a todo momento e precisa acreditar em um caminho, ter uma crença. Graças a Deus o computador não dá todas as respostas, tem várias incertezas, e é necessário encontrar a decisão correta. Através de uma carreira sólida, é preciso criar base para seguir adiante com confiança e sem arrogância. Saber escutar e aprender.

Vejo que tem uma paixão por ser executivo. Você tem outras paixões nessa carreira e escolha de vida?

E.P: Sou muito feliz sendo executivo. Me encontrei na profissão e dei um pouco de sorte por ter começado por esse caminho. Sempre fui um líder, desde jovem, e o que me deixa muito feliz é trabalhar com pessoas, estar com gente. Falo muito de cultura, ter uma equipe coesa, que tem confiança e transparência em suas ações, me motiva. Quando sinto que um indivíduo, meu time e a empresa estão no caminho certo, fico muito feliz.

A empresa precisa entregar resultado e dar oportunidade às pessoas. Dedico 60% do meu tempo a pessoas. Isso em todos seus aspectos, dando feedback, pensando no time e na organização como um todo. Então isso me deixa feliz e temos evoluído aqui na Ingredion. Estou feliz porque estou vendo que nosso time está ficando coeso e num movimento positivo. Isso faz com que uma organização entregue resultados e me deixe satisfeito.

Uma das grandes fontes de aprendizado são os erros. Pode me falar um aprendizado relevante que teve sua origem em algo que não funcionou? E gostaria que falasse da organização que sabe trabalhar o erro como aprendizado.

E.P: Você tocou em um dos temas mais importantes de uma organização. Já refleti muito sobre isso, talvez por ter uma mulher psicóloga. Se o ser humano quer resolver um problema, o primeiro passo é reconhecer que tem um problema. Não adianta outros falarem, se a pessoa não reconhecer, as coisas não evoluem. É necessário ter uma aprendizagem contínua porque o mundo evolui constantemente. Esse é um dos elementos que precisa estar em uma organização, que é a capacidade de reconhecer o erro e evoluir. Uma organização morre pela falta de capacidade de reconhecer o erro.

Por exemplo, quando assumi uma área no início da carreira, fiz uma troca de pessoal muito rápido por achar que não estava alinhada com o que queria implementar. Essa ação fez a gente perder conhecimento e causou um impacto relevante no resultado daquele ano. Depois de um ano e meio, fiz o movimento de rever o desligamento. Aceitei isso com humildade, trazendo-o de volta como consultor.

Talvez a pessoa não tinha a cultura, mas tinha o conhecimento técnico que no momento era fundamental. Isso marcou e me ajuda quando estou avaliando a performance da organização. É importante saber entender que nem todo mundo é igual a você. Isso me qualificou a ver a importância de balancear a energia da juventude com a experiência da senioridade.

Todo ser humano erra e reconhecer tem um impacto muito grande. Erramos todos os dias. Isso faz com que eu como profissional cresça e também uma organização como um todo. Na dúvida, é melhor achar que errou do que ter o medo de assumir e não evoluir.

Teve algum líder direto ou indireto que impactou a forma que encara o papel da liderança?

E.P: Não tenho um líder específico que me impactou profundamente. Mas sem dúvida alguma, posso dizer sem receio, que copio várias coisas que aprendi de diversos líderes ao longo da carreira. Tive um líder que era muito inspirador, que falava muito forte e emotivo das estratégias, dos caminhos e objetivos. Tive outro líder que era o oposto, muito operacional. Ele focava resultado e estava sempre na linha de frente. Estava ao lado das pessoas, do cliente, do vendedor e da logística, sempre entendendo a organização e executando em busca do resultado.

Acho que essa combinação é o que procuro encontrar: como inspiro e faço que as pessoas tenham prazer de enxergar o sonho. E, ao mesmo tempo, ter uma rotina operacional, estar próximo da base para entender e conversar sobre as dores da organização. As combinações desses fatores me inspiram, com dois ou três líderes, cada um com seu jeito. Tenho a minha característica, mas peguei pontos fortes e fui formatando no que cabe dentro de mim. É importante sempre olhar o líder, por mais que ele te incomode, e ver o que pode aprender com ele. Afinal, ninguém chega lá por acaso.

O que é fundamental para alcançar o sucesso? E quais elementos precisam estar presentes?

E.P: Um dos elementos é a transparência. Quando falo isso é porque busco a confiança. É necessário estar muito sintonizado com a equipe para entender a direção que buscamos. Na Ingredion tenho responsabilidade pela América do Sul, onde há alguns países que não estou presente fisicamente, mas tenho que alinhar e estar coeso com o time. Como chegar nesse ajuste? Passa por muita transparência e confiança. Todos aqui têm experiência e sabem o que precisa ser feito. Não é a falta de habilidade, mas sim de alinhamento. Mas para chegar ao sucesso precisamos também de humildade e comunicação. E se tiver a confiança, quando alguma coisa não funciona bem, você vai lá e fala e cria assim o caminho para resolver a questão.

Na sua perspectiva, o quanto a Cultura Organizacional pode impactar o sucesso almejado? 

E.P: Acredito muito que a cultura tem um impacto forte e relevante. Tenho responsabilidade por 3 mil pessoas na América do Sul e elas precisam saber o que fazemos, como fazemos e para onde vamos. Porque não acredito que apenas 100 pessoas movem uma organização desse tamanho. Um exemplo: se preciso reduzir um custo, mas se o operador do turno da noite da fábrica de Mogi Guaçu não está dosando direito um químico, talvez pela falta de alinhamento estratégico e eficiência, não vamos conseguir reduzir. Por isso acredito que a cultura se alinha com os valores de uma organização e capilariza essa energia, sua força de transformação.

Não é somente a cultura que vai ser o resultado em si, pois tem estratégia, produto, inovação e posicionamento, mas é sem dúvida a base para evoluir em todos os parâmetros. Acredito muito na força desse alinhamento e trabalho em conjunto dessas 3 mil pessoas para fazer com que o resultado dê certo. Uma forma de alinhar e jogar na mesma tática é a cultura, pois ela irá refletir como somos e como fazemos as coisas.

Quais sãos os aspectos mais desafiadores quando falamos em evolução de dimensões culturais?

E.P: Na Ingredion trabalhamos com três aspectos relevantes. O primeiro é ter a cabeça de dono, que é trazer para você a responsabilidade de fazer acontecer. Ter o senso empreendedor e de mudança. Acredito muito no conceito de intra-empreendedor. É ter obsessão com custo, pensar como se esse dinheiro que está saindo da empresa fosse do seu bolso. O segundo está ligado a sermos mais ágeis na tomada de decisão e execução. É combatermos a burocracia e acharmos caminhos para fazermos as coisas de forma mais rápida e eficiente. O terceiro aspecto, que acho fundamental, é diversidade de opinião. Desafiar um ao outro, pois o conflito, a troca de perspectivas diferentes, é a solução. Não confunda o desafio com crítica e a busca por melhorar. Quando alguém traz uma ideia, as vezes realmente é muito boa, mas talvez seja necessário desafiar para buscar um novo caminho em busca de uma ideia melhor ainda. Isso permite que a empresa esteja em constante evolução.

A Ingredion está presente em mais de 100 países e em 60 diferentes setores e precisa se transformar constantemente. Qual é a estratégia de inovação para a evolução do negócio?

E.P: Essa é uma das maiores fortalezas da empresa. Nossa capacidade de inovação está bastante presente no DNA e dentro da companhia. Não só com tecnologia, mas os laboratórios e as pessoas têm a capacidade de buscar soluções para atender melhor o cliente. Inovamos entendendo a tendência do consumo e consumidor. Precisamos trabalhar muito próximo do cliente e, por isso, os trazemos para nosso laboratório, em Mogi Guaçu, para provar os produtos. Praticamos a Culinologia, que é a associação da arte de cozinhar com a ciência do alimento, para juntos buscar a melhor solução para o produto final.

A Ingredion pratica essa questão de tendência do consumidor e como vai impactar nossos ingredientes. Não dá para deter a tecnologia? Então fazemos parceria. Este pode ser o caminho para acessar um certo mercado, que também é uma forma de inovação.

Nesse seu movimento de transformação, um dos elementos do sucesso foi ter uma ambição. Qual a perspectiva da importância de ter uma ambição, um sonho para a organização? E como você reforça isso no seu time?

E.P: Acredito na questão do sonho. Pode chamar de sonho ou visão, mas algo que seja inspiracional. No final do dia, o que queremos é nos divertir, porque passamos a maior parte do tempo, ou seja, 9, 10, 11 ou até 12 horas do nosso dia, trabalhando. Ter uma razão para acordar de manhã e olhar lá para frente e saber onde quer chegar. Daí vem o sonho, porque sempre é algo nebuloso e muitas vezes não sabemos exatamente onde queremos chegar. O sonho é algo gostoso e queremos estar lá.

O sonho é importante porque motiva e inspira para ter uma energia positiva. O dia a dia do executivo é duro, pois estamos aqui resolvendo problemas. Mas porque está fazendo isso se é duro? Porque temos o sonho de chegar lá e vai ser muito bom. Você precisa ter um sentido para estar fazendo isso tudo. O sonho inspira as pessoas a acordarem todos os dias a alcançar seu objetivo.

Quando falamos de “Work Life Balance”, qual é a sua perspectiva e o que você faz para trazer para a sua vida?

E.P: As pessoas acham que não tenho vida, porque na verdade cada um faz sua balança de um jeito. Particularmente consigo praticar esporte e ter uma vida tranquila, principalmente nos finais de semana. O que conta é que no final do dia estamos aqui para ser felizes. Isso é uma jornada e propus que quando chegasse aos 50 anos não iria reclamar do que fiz da minha vida. É necessário questionar se o equilíbrio está bom e se a equação lá na frente faz sentido. Estou fazendo 50 anos e não reescreveria nada do que passei. Claro que em alguns momentos houve algumas dores, mas o importante é buscar o equilíbrio que tenha significado para você.

Se você realizar tudo que já desejou e deseja, pelo que gostaria de ser lembrado?

E.P: O primeiro legado que quero deixar é de uma organização madura e pronta para viver sem o Ernesto. Não acredito na liderança que é dependente de uma pessoa. Eu trabalho para desenvolver novos líderes e que cada um deles possa ser o presidente da América do Sul.

Outro legado que já senti onde já passei, e é o mais legal, é deixar saudade do ser humano que é o Ernesto. Como líder as pessoas te enxergam como alguém muito duro, mas o líder para o liderado é como de um pai para o filho. Você precisa puxar o limite, dentro de uma coerência, trazer metas desafiadoras que façam com que as pessoas cresçam e não se acomodem. Isso prepara para os desafios da vida.

Quero deixar o legado dessa combinação. Que as pessoas me liguem e conversem comigo quando não estou mais na empresa para compartilhar as ideias. É muito bom deixar resultado financeiro, mas deixar um impacto na vida da pessoa não tem preço. Isso leva anos, eu sei, mas é algo que sei que só vou conseguir quando não estiver mais aqui na Ingredion.