5- Você vem de uma sequência inacreditável de best-sellers. Qual será o próximo? 

Ainda não comecei a escrevê-lo. Tenho algumas ideias, mas ainda vagas. Eu me interesso muito por fraudes; as verdades e as mentiras, como as diferenciamos, como lidamos com a fraude, como estruturamos o mundo para que a honestidade seja a melhor política são coisas em que eu penso no momento.

4- O timing desse tema é perfeito, ao menos para o Brasil. Para quem você escreve seus livros? Todos eles são para os executivos? Por quê?

Sim, meus leitores são principalmente as pessoas que trabalham em empresas. É que elas têm obrigação de estar focadas no trabalho e busco possibilitar que tenham uma visão maior. O que tento fazer é falar de temas amplos que lhes permitam enxergar fora do campo estreito dos negócios. Entrego-lhes o conteúdo que não encontrarão em uma escola de negócios. 

Na verdade, minha ambição é iniciar conversas entre os executivos, de uns com os outros, fazendo com que consigam falar sobre as coisas do mundo, inclusive sobre muitas ideias que já conheciam, mas que não lhes haviam sido colocadas da maneira persuasiva e útil que eu coloco. Grande parte da estratégia dos negócios tem a ver com empresários conversando com outros empresários, e isso é muito útil. Incluir nessa conversa uma perspectiva não empresarial para propósitos empresariais, como eu faço, pode ser ainda mais útil.

3- Países têm padrões culturais, você já escreveu sobre isso. Pergunto: existem padrões de grupos de pessoas como o meio executivo? Você já chegou a uma conclusão sobre como os gestores veem o mundo?

É difícil generalizar, mas eles tendem a ver recursos, tecnologias e habilidades como únicos determinantes do sucesso. Eu quero que entendam que há muita coisa além disso; quero fazê-los perceber que suas atitudes e psicologia são ferramentas tão importantes para eles quanto essas coisas mais tangíveis.

Mas tenho feedback de que isso está mudando. Por exemplo, a mensagem sobre a urgência de se preparar para enfrentar Davis, dada em meu livro mais recente, foi bem captada por um grupo de especialistas em segurança da internet, que têm de lidar com ameaças de hackers. Eles entenderam que não precisavam de mais funcionários ou orçamentos maiores, e sim de uma mudança de atitude – e que essa era a parte mais difícil do desafio.

2- Inovação virou um padrão, ao menos no discurso dos gestores. Como você os surpreende nesse tema?

Meu principal recado é que, enquantohouver espaço entre uma invenção tecnológica e o entendimento de seu uso, haverá espaço para muitas pessoas inovarem. Inovação não tem a ver com ser o primeiro a criar algo, mas com ser o primeiro a entender algo, o que é muito diferente. O Google foi o sexto ou sétimo buscador a ser criado, mas ele entendeu o mecanismo de um jeito diferente; o Facebook foi a quarta rede social a aparecer, e aconteceu o mesmo.

Entender comportamentos ajuda a entender o uso. Eu me interesso muito pelo modo como o passado ajuda a entender o presente e olho para trás tanto quanto olho para frente, o que acho muito útil. Como seres humanos, nós seguimos padrões, e nossa natureza fundamental é a mesma há milhares de anos.

1- Com a crise climática, os terroristas, o tropeço das economias emergentes e tantas outras coisas, você consegue ser otimista?

Acredito que conseguiremos solucionar esses problemas. Há grandes vantagens. Uma é a demográfica; vocês são mais jovens do que muitos países mais poderosos. Outra é começar mais perto do zero; países como Brasil e Índia não estão presos a uma série de hábitos ruins. Você sabia que a Índia tem paradoxalmente um dos sistemas e previdência social de mais alta tecnologia do mundo porque começou do zero? Eles estavam livres para tentar todos os tipos de novas ideias. Vocês precisam aproveitar essa liberdade de país em desenvolvimento para serem Davis lutando contra Golias.

Minha história também é essa, de certo modo: eu sou do Canadá, um país que tem de competir com um vizinho muito maior. Isso vale para países e para empresas pequenas ou iniciantes competindo comas grandes ou maduras.

E se Gladwell fosse executivo?

Processar o mundo por meio de paradigmas é um jeito útil de “navegar pela vida”, disse-me Malcolm Gladwell. Ele fala de paradigmas, princípios, regras e leis como qualquer outro autor de gestão que dá receita para o sucesso. Só que faz isso utilizando as ciências sociais, e alguns cientistas sociais não o perdoam – criticam- no duramente, acusam-no de simplificação imprópria.

O que acontece, na verdade, é que Gladwell já pensa com a cabeça do executivo que é seu leitor. Ele explica: “Quando falo em lei, não significa que aquilo seja uma verdade absoluta ou que não possa ser alterado mais tarde; é apenas uma forma de dizer: ‘Dê um passo para trás para uma teoria interessante que pode ajudá-lo a ver algo de um jeito novo e bem mais poderoso’”. Um executivo não diria melhor.

Se fosse sintetizar o que Gladwell faz em seus livros, eu diria que ele encontrou sua própria receita, com três ingredientes: cruzar fronteiras temáticas, pôr a história em primeiro lugar (e a ciência em segundo) e se dedicar a entender a experiência comum.

Gladwell me confirmou esse diagnóstico. “Acredito que sejam regras muito boas de fato, inclusive para um executivo seguir. A inovação vem de cruzar fronteiras, de misturar coisas que nunca foram misturadas. A contação de histórias é fundamental, porque uma das principais responsabilidades do gestor é a comunicação, e podemos fazer muito mais com histórias do que com qualquer mídia; histórias têm poder, desarmam, dão mais espaço para interpretação. E focar a experiência comum permite ao gestor se conectar intimamente com as pessoas com quem está falando.”

Sobre a simplificação, Gladwell admite que, ao escrever um livro popular de não ficção, sintetiza uma enorme quantidade de pesquisa e que, assim, pode acabar indo muito longe na simplificação do que é complexo. Por isso, dá as boas-vindas a críticas bem-intencionadas. “Mas tento escutar tanto meus críticos como meus fãs, para descobrir onde devo ficar.” Outro conselho bom para gestores. (ASG)

Saiba mais sobre Malcolm Gladwell

Quem é: Jornalista que colabora para a revista The New Yorker e autor de uma série de best-sellers que encantam executivos do mundo inteiro.

Best-sellers: Fora de Série – Outliers, O Ponto da Virada – The Tipping Point, Blink, Davi e Golias, O que se Passa na Cabeça dos Cachorros.

Principais conceitos: a lei dos poucos, o conector, as três regras da epidemia, a vantagem do azarão (underdog), as 10 mil horas de prática, a importância do timing, entre outros.