SAIBA MAIS SOBRE CHRISTER WINDELØV-LIDZÉLIUS

Quem é: CEO e diretor da KaosPilot, misto de escola de negócios e de design focado na formação de líderes e empreendedores

Serviços da KaosPilot: Além de oferecer cursos, presta consultoria para empresas e promove iniciativas culturais e sociais.

Onde atua: Tem sede em Aarhus, na Dinamarca, e escritórios em Berna (Suíça), Barcelona (Espanha) e Bogotá (Colômbia).

A KaosPilot forma líderes e seu currículo tem o design de liderança criativa como um dos pilares. O que é liderança para a KaosPilot e o que é esse design de liderança criativa?

A definição simples é “fazer as pessoas fazerem o que não fariam de outra forma”. Mas, para nós, ser líder tem a ver com “crescer como pessoa, desenvolver pessoas a sua volta e ajudar o mundo a caminhar para um lugar melhor”.

Na KaosPilot, não ensinamos liderança só como uma prática, embora ela seja algo prático; achamos necessária uma base de conhecimento profunda sobre liderança e enfatizamos nosso foco, que é o da criatividade.

A criatividade pode ser tanto o que os líderes fazem de uma forma única ao abordar um problema ou uma oportunidade, como o resultado da liderança, ou seja, a criatividade através dos outros.

O líder precisa dominar o design da liderança criativa, porque precisa ter a capacidade de gerar as bases sobre as quais a criatividade emerge. Não é algo que acontece por acaso, viu?! Precisa de atenção e curadoria cuidadosa.

Qual é o método pedagógico de vocês?

Nós o chamamos de pedagogia baseada em oportunidades, porque, como líder, você precisa ser, antes de tudo, bom em encontrar ou criar oportunidades.

Nosso trabalho parte de problemas reais que os alunos trazem para a escola e da identificação de pontos fortes e oportunidades.

Por exemplo, quando um aluno vivencia um desafio em sua empresa, ele pede ajuda a um membro da equipe pedagógica. Esse professor nunca dá uma resposta, só ajuda o aluno a olhar de um modo diferente, observando o que está indo bem –o ponto forte– e a oportunidade de construir a partir dali.

A abordagem que propomos exige correr riscos, exige que se dê um passo para o desconhecido. Se a gestão é uma abordagem para minimizar o risco, a liderança é abordagem para explorar o risco.

Líderes também precisam ter valores? Se sim, quais? 

Todos os líderes funcionam a partir de um certo tipo de valores –explícitos ou implícitos. Normalmente, os valores da companhia não costumam ser o que eu considero valores pessoais profundos –na verdade, eles não significam nada para as pessoas. Pensamos em valores que associaríamos a amigos, não em coisas como ser eficiente e orientado a lucro. Por isso, os valores da KaosPilot incluem sabedoria da rua, compaixão, diversão...

Para um líder criativo, a experiência multinacional faz diferença? Pergunto porque vejo que a KaosPilot atua em vários países... 

Para mim, a experiência multinacional é fundamental. Não é só uma coisa da empresa, é também social. Se as pessoas se tornarem cidadãs do mundo, isso vai ajudar a aliviar os problemas: diminuir a indiferença, diminuir os conflitos, e também fazer mais negócios.

Temos um dito popular no Brasil que diz “tem muito cacique para pouco índio”. Quando se cria tantos líderes assim, não se está fazendo o mesmo?

Essa seria uma compreensão errada da ideia de que estamos só criando mais líderes. Ser líder não significa que eu não possa trabalhar subordinado a outros, ou como colega.

Em nosso mundo complexo e em organizações realmente complexas, precisamos deixar de lado a ideia de que o gestor sabe mais e pode fazer melhor do que os outros; é bem o contrário hoje –em geral, o nível de especialização do conhecimento invalida essa gestão clássica. A liderança está em toda parte. Essa liderança facilita, ensina e cria o espaço –no qual as pessoas são empoderadas–, e é a chave do sucesso.

O que é empoderamento nesse caso? 

Para mim é a possibilidade de escolher e a capacidade de tomar uma decisão informada.

Kaos vem de caos, certo? Caos é algo a se temer ou uma inspiração?

Caos é o local de nascimento da criatividade. Tem os dois sentidos –é destrutivo e também um lugar para a ordem futura.

Para finalizar, como você, um líder duplo (CEO e reitor da escola), foi mudando ao longo dos anos, com todo esse conhecimento sobre liderança criativa? Por curiosidade, é mais desafiador ser um CEO ou reitor, e por quê? 

Uma vez perguntaram a um antigo conselheiro nosso, professor emérito de liderança, por que alguém que sabe tanto sobre liderança nunca assumiu um cargo como líder. Sabe qual foi sua resposta? “Esse é o meu caminho.”

E o meu caminho é o de líder duplo. Posso dizer que me tornei mais atento em relação a quão difícil é ser um líder, mas também tenho mais consciência sobre quão necessário o líder é e todas as potencialidades da liderança.

Não acredito em truques. O que os anos me ensinaram? Acredito em comprometimento profundo, em honestidade sobre os próprios pontos fracos e fortes e em explorá-los, em integridade e autenticidade.

Eu diria que ser diretor de escola é mais desafiador do que ser CEO. Porque os alunos não são nem funcionários, nem clientes. São os dois, talvez,e também algo mais. Meu trabalho é ajudá-los a crescer para se tornarem o melhor que podem ser com seu potencial. Essa é uma jornada na qual cada aluno tem um caminho único para descobrir e seguir.

“Não siga líderes, observe os parquímetros”

Para Lidzélius, o verso de Bob Dylan da música “Subterranean homesick blues” resume a crise em que as lideranças políticas estão no mundo de hoje. “Precisamos de líderes que lutem por algo –e não se deixem seduzir por tudo. Uma agenda global que cuide de todos nós – dando oportunidades sem ser oportunista”, afirma. Ele acredita que existe uma falta de confiança das pessoas nos líderes políticos em todo o mundo. Alguns insights sobre a questão:

• “Os líderes políticos não estão mais em contato com as pessoas e não conseguem mobilizar seu apoio. Talvez isso tenha a ver com o fato de não vermos como eles realmente cumprem suas promessas.”

• “A desconexão é também uma consequência da mídia ser melhor e ter mais interesse em descobrir as coisas que eles fazem errado, em vez do que fazem certo. Talvez nosso nível geral de consciência também tenha aumentado. Esperamos mais, não damos suas palavras como certas. Talvez estejamos mais céticos em geral –e certamente estamos mais sinceros.”

• “Pelo menos na Europa, os políticos falharam em nos fornecer uma grande visão, uma narrativa da qual queremos fazer parte. Talvez porque tenhamos uma história difícil, com homens fortes que nos jogaram em guerras devastadoras...”

• “Depois que a Igreja perdeu o controle sobre nós, a ciência não foi capaz de satisfazer nosso lado espiritual totalmente e as grandes ideologias (comunismo, fascismo e o capitalismo em certo grau) nos causaram muita dor... estamos em um mundo tecnocrático.”

• “O desafio é que a promessa da assistência social está sendo erodida e é necessário criar uma abordagem –talvez a do bem-estar.”