Havia dois anos que o fundador e CEO de uma empresa de reciclagem vinha se preparando para abrir o capital na bolsa de valores. A oferta pública de ações (IPO) havia sido recomendada por especialistas e estava bem encaminhada, mas ele sentia dores e mal-estar o tempo todo. Quando soube de um curso sobre constelação sistêmica para 700 pessoas em seu país, a China, no fim de 2018, esse empresário quis participar. O professor e facilitador, o brasileiro Renato Bertate, escolheu-o para ser constelado. Pessoas da plateia foram chamadas (e tocadas nos ombros) pelo chinês para representar, sem saber, a bolsa de valores, a empresa, os funcionários etc.

O produto (o indivíduo que o interpretava) ficou de costas para a bolsa de valores, os funcionários se afastaram dela, a empresa evitou olhá-la. Vendo tudo em uma cadeira, o CEO deu um soco no ar e gritou: “Não preciso saber mais nada!”.

O leitor achou a cena estranha? Sem dúvida é. A constelação sistêmica é uma técnica terapêutica criada pelo alemão Bert Hellinger originalmente aplicada a famílias [veja quadro na página à direita]. Os movimentos autônomos de pessoas desconhecidas realmente são uma parte difícil de entender, mas não constituem uma novidade na psicologia, como veremos adiante. O fato é que a constelação sistêmica vem sendo crescentemente aplicada a questões empresariais e de carreira, seja na China, seja no Brasil. Como explica Bertate, um dos sete consteladores que compõem o corpo docente da escola de Hellinger (e o único brasileiro), o empresário chinês constelou para voltar a confiar em si. “No fundo, ele não achava que o IPO faria bem ao negócio, mas, como isso contrariava a opinião dos especialistas, calava-se e adoecia”, explicou Bertate à HSM Management.