O Brasil, dono do sétimo maior PIB mundial, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), ocupa apenas a 57ª posição no ranking de competitividade dos países do Fórum Econômico Mundial. Fica atrás, por exemplo, de Estônia, Tailândia, Bulgária, Azerbaijão, Costa Rica e Barbados.

Talvez você se surpreenda com a afirmação de que um dos fatores que sabotam nossa capacidade competitiva é a confiança – ou melhor, a falta dela.

Refiro-me não apenas à confiança que inspiramos externamente, na comunidade internacional, mas também à confiança interna – ou seja, quanto nossa população e nossos empresários confiam em nossos políticos.

Confiança é um conceito inicialmente vago e subjetivo, eu sei. Mas pense bem: dentro da família, a relação de confiança não é fundamental? E em relacionamentos amorosos ou de amizade? O fato é que, seja em sua casa, condomínio ou comunidade, todas as relações sociais são construídas e sustentadas com base na confiança.

Também nas relações econômicas o conceito de confiança é mais importante do que imaginamos. Por exemplo: uma denúncia de corrupção derruba a confiança dos investidores em determinada empresa e suas ações despencam imediatamente na bolsa. Pense no risco-país, uma medida da confiança de investidores em todo o mundo. Se esse índice cai, os investimentos internacionais naquele país diminuem e a economia é prejudicada.

O Trust Barometer 2015, da Edelman, nos ajuda a enxergar o panorama da confiança no Brasil. Das quatro instituições presentes no relatório, o governo ocupa a última posição, com 37%; as empresas lideram, com 73%

Causa e consequência

Se as empresas são as instituições que possuem os mais altos níveis de confiança no Brasil, o que elas ganham com isso? Bem, imagine uma organização em que você, seus líderes e liderados possuam plena confiança uns nos outros. Logo você perceberá que não serão necessários excessos de controle e burocracia. Reuniões se tornarão mais escassas e curtas. Prazos acordados serão prazos cumpridos.

Com isso, os colaboradores ficarão mais engajados e comprometidos, e a qualidade do ambiente de trabalho aumentará. 

A confiança manifesta-se assim, por meio de maior velocidade e redução de custos, tornando a empresa mais competitiva e facilitando o cumprimento de seus objetivos e metas.

Você quer números? Estes não faltam. Por exemplo, segundo o Dieese, o índice de rotatividade voluntária, ou seja, as demissões a pedido do trabalhador, representa 25% do total, certo? Porém, entre as empresas premiadas pelo Great Place to Work no Brasil em 2014, caracterizadas pela confiança, esse número cai para 10%. (E a taxa de rotatividade descontada no País decresce de 43% para 22% nas melhores empresas.)

Podemos ver um impacto direto da confiança também quando comparamos o desempenho das empresas mais confiáveis na bolsa de valores. Um investimento de R$ 100 mil realizado nas ações do Ibovespa no ano 2000 resultaria em um resgate de R$ 326 mil em 2011, de acordo com a valorização média da bolsa. Mas, se a mesma quantia tivesse sido investida apenas nas melhores empresas que possuem ações do Ibovespa, no mesmo período, o retorno seria de pouco mais de R$ 1 milhão.

O faturamento é outro número significativo. Se, em 2014, o PIB nacional cresceu 0,1%, a receita das 130 empresas premiadas no ranking brasileiro do GPTW aumentou 6,5% .

Sobram evidências, portanto, da forte correlação entre confiança e resultados de negócios.

Crise e tendência

Será que a confiança dentro de nossas empresas também está em crise, tal qual a confiança na economia?

Ao que tudo indica, não. Quando fazemos um comparativo entre as empresas participantes da pesquisa GPTW em 1997 e em 2014, constatamos que a percepção dos colaboradores em relação às empresas melhorou de maneira geral (veja abaixo). 

Vemos também tendências que tiveram melhoras particularmente expressivas:

• Fazer “politicagem” dentro das empresas é uma forma cada vez menos empregada (e menos eficiente) de conseguir alguma vantagem.

• Cada vez mais os gestores reconhecem que erros acontecem e são parte de qualquer negócio.

• Fatos e conquistas especiais (por exemplo, o cumprimento de metas e a finalização de projetos) são celebrados, o que faz com que os colaboradores sintam que seus esforços foram reconhecidos.

Também notamos dois sinais de melhora progressiva dos ambientes de trabalho no Brasil:

• A quantidade de empresas que se dispõem a avaliar seu ambiente de trabalho cresceu ininterruptamente – de 130 em 1997 para 1.276 em 2014.

• O Brasil apresenta o maior número de empresas participantes entre os 53 países em que o Great Place to Work atua.

Cada vez mais, as empresas demonstram estar preocupadas em melhorar seus ambientes de trabalho – mesmo as que ainda não são um grande lugar para trabalhar – e esse tema cresce em importância na agenda dos gestores. Com isso, observaremos ainda mais ações destinadas a aumentar a confiança dos colaboradores.

Conclusão? A perspectiva para o Brasil é boa. Se podemos esperar um aumento progressivo da confiança nas empresas, podemos esperar que o País supere a crise e ganhe competitividade. 

Se você investisse R$ 100 mil em ações em 2000, receberia R$ 1 milhão em 2011 caso comprasse das empresas avaliadas pelo GPTW como de maior confiança

Empresas são as instituições em que os brasileiros mais confiam

• 73% Empresas

• 70% ONGs

• 56% Mídia

• 37% Governo