Com surpreendente autocrítica, o mundo corporativo representado na HSM ExpoManagement 2012 afirmou que precisa, até 2020, mudar
Quem entrasse de repente na palestra de Michael Porter na HSM ExpoManagement 2012, realizada em novembro último, poderia pensar que ouvia um líder de esquerda e não o maior especialista em estratégia competitiva do mundo, ligado à conservadora Harvard Business School. O homem que pouco tempo atrás recomendava aos gestores maximizar o lucro acima de tudo declarou no palco principal do evento: “Contribuir para reduzir os graves déficits sociais tem de fazer parte do negócio; as empresas precisam recuperar a confiança e o respeito da sociedade”. Em um mea culpa, Porter disse que errou ao ensinar tanto a otimizar custos. “Segundo a teoria neoclássica, quando faz algo em benefício da sociedade, a empresa aumenta seus custos, mas isso está errado”, explicou. “Além disso, o baixo ritmo de crescimento atual se deve ao fato de focarmos sempre os mesmos consumidores, já saturados. Temos de mudar o foco.”
Em um dos 14 palcos paralelos, na Mostra de Conteúdos e Soluções, um professor da também conservadora Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) apresentava à plateia de gestores uma expressão que Karl Marx não escolheria melhor: “competitividade espúria” (e ele também usou os adjetivos “falsa”, “artificial”, “subsidiada”). O raciocínio de Ricardo Abramovay, especializado em economia verde, era o de que, se hoje parassem de explorar o trabalho humano e degradar os recursos naturais, amanhã as companhias não seriam mais competitivas. Um estudo da firma de consultoria True Cost, encomendado pela KPMG, materializa isso: de cada dólar de lucro lançado na economia mundial em 2010, teriam de ser subtraídos 41 cents de custos relativos a emissões de gases de efeito estufa, manejo de água e lixo (nem estão computados custos de transporte ou saúde pública). Para Abramovay, é urgente adotar novos vetores de competitividade.
Por que a competitividade não pode continuar a ser espúria? “Nossa espécie retira da superfície 63 bilhões de toneladas por ano de matéria física (biomassa, combustíveis fósseis, minérios e metais), ou 9 toneladas per capita, para a sobrevivência do planeta. Isso não só não pode crescer mais, que é a tendência, como também tem de cair para 6 toneladas por habitante“, afirmou o professor, citando métricas qualificadas. E deve-se ainda resolver uma desigualdade: canadenses retiram 24 bilhões por ano e indianos, 4 bilhões.