Ambev, a cervejaria mais premiada do mundo. Se esse título soaria no mínimo inesperado até dois anos atrás, em 2017 ele se concretizou. A empresa levou nada menos que 27 medalhas no World Beer Awards, a principal premiação do segmento, realizada em Londres. A explicação atende pelos nomes de Wäls e Colorado, as duas microcervejarias artesanais que a Ambev adquiriu em 2015, que passaram a influenciar diretamente todos os produtos e a mentalidade da empresa. Prova é que parte das novas Bohemias, com participação direta dos novos contratados na elaboração, também ficou entre as melhores do mundo. Algo inimaginável para quem punha nas prateleiras sobretudo cervejas de massa, com pouca pretensão além de refrescar. 

Esse exemplo é um caso de “corporate venturing”, quando o venture capital (VC) para as startups vem de empresas e não de fundos de investimento ou investidores-anjo. Em 2017, o corporate VC vem explodindo: segundo levantamento PwC/CB Insights, nos três primeiros trimestres os investimentos somaram US$ 112,9 bilhões no mundo em 7.484 operações. Para ter a dimensão do crescimento, em 2016 inteiro o setor movimentou US$ 24,9 bilhões em 1.252 operações. O relatório só contabiliza América do Norte, que responde por metade do total, Ásia (30%) e Europa (20%). No Brasil, o corporate VC é mais tímido. Como  mostrou o estudo, 87% das companhias analisadas possuem algum tipo de programa ou projeto de interação com startups, sendo alguns (44%) perenes, estruturados e alinhados com os objetivos estratégicos da empresa, enquanto outros (56%) ocorrem de maneira mais tímida e pontual – as grandes organizações apresentam preocupações quanto à quantidade de inovações vindas de fora, mas não se sentem ameaçadas pelas startups.

O corporate venture pode ser uma aquisição do controle da empresa, como no caso Ambev/Wäls, ou uma participação do capital adquirida em estágios anteriores, o que sai mais barato – em geral, há “investimento early”, quando o negócio é só uma ideia, e os estágios 2 e 3, de expansão. O elemento norteador do corporate venture é a visão do especialista  Clayton Christensen de que a disrupção acontece fora da empresa – para a companhia madura inovar, ela precisa trazer o que está fora para dentro.