Poucos encarnam tão bem o “salvador da pátria” quanto o general francês Charles de Gaulle, que, apesar de se sentir um iluminado, resistiu à tentação ditatorial e elegeu o princípio da legitimidade para a reconstrução de seu país. Provido de valores sólidos e grande determinação, também demonstrou ser capaz de voltar atrás para corrigir um erro estratégico ou tático.

Nos anos anteriores ao início da Segunda Guerra Mundial, De Gaulle fez questão de modernizar e profissionalizar o Exército da França, apoiando-o com tropas transportadas por veículos e não com fortificações passivas, como a Linha Maginot, que –depois se viu– não serviriam para deter os tanques alemães.

Foi precisamente com a ocupação nazista de Paris que a liderança de De Gaulle –então subsecretário de Defesa– atingiu seu apogeu. De Londres, por rádio, negando-se à rendição, convocou os franceses a expulsar o invasor. “Eu, general De Gaulle, empreendo aqui, na Inglaterra, essa tarefa nacional”, disse. E formulou um argumento de grande relevância: “Se, finalmente, as forças da liberdade triunfassem sobre as da servidão, qual seria o destino de uma França que se submeteu ao inimigo?”. No minuto seguinte após seu país ser humilhado pelas forças invasoras, ele se permitia sonhar com uma França digna e protagonista.