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Olá, Carla! É um prazer enorme te entrevistar. - Muito obrigada! - O prazer é meu! Eu que agradeço. Vamos começar.
No seu novo livro, "Lead to Win", você lista as oito coisas necessárias que devemos adotar para termos uma carreira de sucesso.
Autenticidade, construção de confiança... Eu gostaria de trazer isso para a perspectiva brasileira.
Estamos vivendo em um contexto muito polarizado, assim como na América. Temos líderes de comando e controle que estão com medo de serem demitidos
porque a economia não está indo bem. Nesse contexto, como podemos praticar essas oito coisas? Por exemplo, ser autêntico.
Se seu chefe está de um lado e você está do outro lado. Como você pode fazer isso? E diversidade. Existe muita discussão sobre diversidade.
- Pode falar sobre isso? - Com certeza. Não importa qual seja o contexto, vivemos em um ambiente em que os Millennials e a geração Z
são a maioria nas forças de trabalho. E eles exigem coisas muito diferentes de nós, Boomers e geração X mais velha. Eles exigem transparência, inclusão e feedback.
E uma das outras coisas que está acontecendo nesse ambiente, além das que você já mencionou, é que as pessoas estão repensando o que querem fazer.
Isso se manifesta no fenômeno da "grande renúncia" ou no "quiet quitting". E não importa se é em construção civil ou em serviços financeiros,
você precisa de pessoas para executar o serviço. Então, apesar do que está acontecendo na economia, apesar do que está acontecendo no ambiente político,
você ainda precisa de pessoas para te dar bons produtos e para serem excelentes colaboradores. Estamos falando sobre o que você precisa fazer para inspirar as pessoas.
Apenas o medo não fará com que as pessoas entreguem 150%. Elas podem entregar 100%, elas podem entregar o que está na descrição do trabalho,
mas todo líder e toda organização quer algo a mais. Então você quase sempre tem que operacionalizar, não importa em que contexto você esteja.
Porque nós sabemos que esse cenário atual também passará. Nós já vimos outras versões desse cenário antes. Nós vimos em 87, nós vimos em 91,
nós vimos em 94 e 95, nós vimos novamente em 97 e 98. E todas as vezes em que passamos por um período difícil,
assim como podemos dizer que estamos passando agora, nós alcançamos um novo nível. A questão que fica é:
você vai se preparar em relação à sua cultura, aos seus colegas e às suas oportunidades para inovar e liderar até o fim disso? Porque esse cenário vai passar.
Então eu acho que esse deve ser o foco, apesar de tudo que você mencionou.
Então os empregados serão os vencedores nesse cabo de guerra? Eu não diria que eles serão os únicos vencedores. As organizações também serão.
Mas neste momento, os empregados estão exercitando a escolha deles. Duas coisas aconteceram com a pandemia, na minha opinião. Uma foi a amplificação da voz e da escolha.
Esse era o caso há 20, 30 anos. Os empregados não necessariamente expressavam suas opiniões sobre os valores da empresa.
Eles não necessariamente expressavam como se sentiam a respeito de um certo chefe. Eles não falavam sobre saúde mental.
Mas, agora, do outro lado da pandemia, essas coisas estão sempre sendo discutidas.
Também tem outra coisa que existe hoje e que não existia 30 anos atrás: as redes sociais. A capacidade de amplificar sua voz
para falar sobre uma franquia ou uma marca é muito diferente. Essa ideia que os Boomers e a geração X tinham de sofrer em silêncio não é algo que essa geração está disposta a fazer.
Então eu acredito que se seus empregados estão felizes e querem entrar de cabeça no processo, ambos ganharão, as organizações e os empregados.
Você falou sobre a potencialização de recursos com relacionamentos e parcerias. O estudo de Hofstede diz que o Brasil é muito social. É mais fácil para nutrirmos relacionamentos.
Mas, por outro lado, somos muito hierárquicos, não confiamos facilmente em parcerias. Nós temos esses problemas em construir ecossistemas.
Como você acha que podemos usar isso para o bem das relações e evitar os problemas que temos nessa área? Existe risco, Adriana, em qualquer tipo de colaboração ou parceria.
Sempre existe risco. E uma das coisas que falo no livro é sobre a disposição para assumir riscos quando se é líder,
assim como falo sobre a importância das parcerias. Estamos em um ambiente em que a inovação se move muito mais rápido do que uma década atrás.
Antes, a cada 10 anos você tinha algo novo, a cada 5 anos você tinha algo novo. Agora acontece a cada 2 anos, a cada 18 meses, se tivermos sorte.
E nenhuma organização tem todas as respostas. Portanto, a forma de acelerar seu caminho pelo mercado é potencializar o intelecto das outras pessoas,
potencializar as pesquisas de outras pessoas, potencializar a experiência das outras pessoas. Vamos voltar há 30 ou 40 anos.
Era um absurdo empresas farmacêuticas colaborarem, porque o verdadeiro poder estava em ter sua própria pesquisa sobre o produto que é de sua propriedade.
Mas uma das razões pelas quais conseguimos criar uma vacina tão rápido assim foi porque as pesquisas foram compartilhadas desde muito cedo.
Mesmo que existisse uma rivalidade para entrar nesse mercado, foi a colaboração e o compartilhamento de dados que nos possibilitou distribuí-la de forma rápida ao mercado.
Como você cria outros líderes? Como você desenvolve outros líderes? Sim, tem que ser intencional, você tem que investir.
Essa é uma das pérolas da liderança intencional.
Se você é um executor como eu, você está mais inclinado a fazer tudo sozinho. Mas você é apenas uma mulher, você é apenas um homem.
E se tudo tiver que passar por você, então o ritmo de crescimento, o ritmo da inovação e do progresso dependerão de você.
Mas se você intencionalmente se certificar de que a Adriana receba essa oportunidade em particular, que o Daniel receba uma outra oportunidade em particular
e você põe seu pessoal para correr riscos e se desenvolverem desde cedo, você amplifica seu impacto. Você cria outros líderes que podem expandir seu impacto,
que podem expandir sua conquista do público consumidor. Esse é o jogo. Mas os gerentes brasileiros não têm tempo para trazer mais pessoas,
eles não têm tempo para desenvolver outros líderes. A competição forçará isso. A competição forçará isso.
Esse é uma mensagem importante.
Como você vê as carreiras e tudo que você enfatiza quando falamos do futuro do trabalho?
Você acredita que quando não se tem um trabalho, um trabalho formal ou um regularizado, que seja baseado em plataformas de trabalho ou algo assim,
essas coisas vão funcionar? Sim. Se você pensar no que está acontecendo, nós estamos lentamente, mas certamente, nos movendo em direção a uma economia
onde as pessoas basicamente podem escolher trabalhar oito horas aqui na segunda, trabalhar lá na terça, trabalhar em outro lugar. Então eu acho que esse poder de escolha vai continuar crescendo,
o que vai forçar as empresas deixarem claro suas propostas de valor. Por que você deveria trabalhar para mim ao invés de colocar seus serviços em várias outras plataformas?
Mesmo com a dificuldade de se encontrar um trabalho na economia atual, isso não vai durar para sempre.
Então, o que se deve fazer nesse momento é investir em direção ao futuro. Há 10 ou 15 anos, era investir em tecnologia, na habilidade de usar softwares
e na habilidade de usar a tecnologia para fazer coisas antes feitas manualmente.
E agora você pode ver o que as pessoas estão procurando. Elas estão procurando por inovação e por velocidade. Falando em tecnologia,
você deve pensar em apostar nessas coisas. Olhe para as nossas escolhas, queremos tudo para hoje ou amanhã, não em duas semanas, como era antes.
Não faz tanto tempo que estávamos satisfeitos em pedir algo e receber em duas semanas. Agora, se não recebemos em um dia,
ficamos um pouco decepcionados. Pense na economia que isso criou com as entregas rápidas, com os drones que fazem entregas.
Não era assim antes. Pense nisso, aconteceu tudo muito rápido. Então, se não estiver engajado agora,
comece a pensar em para onde as coisas estão indo. Converse com outras pessoas, já que você tem um tempinho livre. Converse com as pessoas que conhecem mais.
Pense em onde elas estão investindo, o que estão tentando ensinar as pessoas a fazerem, que pesquisas estão fazendo,
para que isso possa te ajudar a perceber onde você pode investir seu tempo, já que você tem tempo agora.
E qual é o papel da tecnologia na sua carreira, por exemplo? A tecnologia mudou o jogo. Eu me lembro quando comecei.
Eu tinha que fazer as análises à mão, tinha que levar o documento para outro departamento específico
para que alguém pudesse digitar tudo e deixar pronto para o cliente. E agora você faz tudo isso na sua mesa. As coisas ficaram mais rápidas,
os cálculos são feitos de maneira diferente e a informação ficou mais disponível. Às vezes levava um dia só para encontrar informação.
Agora está bem aqui, na palma da mão. Isso fez uma grande diferença em termos de transparência e visibilidade. Eu acredito que criou mais criatividade,
porque você não pode mais oferecer ao seu cliente algo que ele possa encontrar sozinho. Agora você tem que ir muito além
e pensar criativamente sobre o que essa informação está te dizendo para poder interpretar esse dado e trazer valor ao cliente.
Foi uma mudança enorme. Então, se você não tem conhecimento tecnológico ou de análise de dados, você está fora do jogo?
O que você acha? Nem tudo precisa de tecnologia, mas eu diria que se você quiser competir na economia atual,
precisa ter algum tipo de aptidão com a tecnologia, ou pelo menos entender como ela funciona, ou não ter medo dela, ser mais curioso. No passado, 15 anos atrás,
eu nem mesmo encostava em certas partes do computador por medo de quebrá-las. Eu nem mesmo queria tocar nelas.
Mas agora, até o meu apetite mudou. Eu brinco um pouco mais e estou disposta a errar e estou disposta a receber ajuda de alguém.
Mas eu estou mais disposta a entrar e experimentar. Você agora tem um portfólio grande de atividades. No Morgan Stanley, trabalhando com um laboratório de líderes multiculturais.
Você também tem uma carreira como cantora, você já foi uma oficial do governo. Você acha que está vivendo o futuro do trabalho?
Acredito que as pessoas irão entregar mais de si mesmas ao ambiente de trabalho e se sentirão mais confortáveis com isso. Então, a respeito de sua pergunta sobre o futuro do trabalho,
acredito que nos próximos anos, as pessoas estarão mais dispostas a mostrar o outro lado delas, e isso será importante para que elas se sobressaiam no trabalho.
Uma última pergunta. Você acredita que todas as empresas deveriam ter um laboratório multicultural? Eu acredito que isso é importante para a sua habilidade de inovar,
porque alguns desses empreendedores em estágio inicial são fenomenais. Eles têm lançado ótimos produtos e serviços para lidar com alguns problemas da sociedade.
Então eu sou fã de ter um laboratório multicultural e criar acesso e oportunidade para esses empreendedores.