Observe o relógio de pulso a sua esquerda e responda: que horas são? No momento em que esta fotografia foi produzida, eram 11 horas, 45 minutos e 30 segundos. O círculo externo se refere aos minutos, o interno aos segundos e, entre ambos, ficam as horas. Diferente? O leitor está diante do “timension”, neologismo que combina as palavras “tempo” e “dimensão” em inglês. Trata-se do relógio criado pelo mais célebre dos designers que atuam no Brasil, Hans Donner, com uma enorme ambição: “Jorge Luis Borges já disse que ‘nós somos feitos de tempo’. E eu quero ajudar o homem a viver em mais harmonia com o seu tempo”.

Como fazer isso? Trocando a tensão pela paz. Embora seja preciso se acostumar com esse mostrador 3.0, ele recupera referências naturais, e ancestrais, do homem, como o contraste entre luz e sombra (ou entre dia e noite) e o fluir contínuo. Não à toa, o filho de 7 anos de Donner, João Henrique, esponta-neamente descreveu seu funcionamento como o suave deslizar de uma cobra, em oposição ao salto abrupto de um sapo do ponteiro de relógio convencional. Fora o aspecto estético: ele é necessariamente harmonioso, a fim de substituir a imagem de um tempo feio –“tão feio que escraviza e subjuga o ser humano”– por um tempo belo.

O leitor deve estar surpreso. Afinal, habituou-se a ver Hans Donner como o designer que dá cara à Rede Globo de Televisão. Mas é essa, justamente, a surpresa contida nesta entrevista, organizada em tópicos. O homem que primeiro globalizou o Brasil, ao expô-lointernacionalmente, com um design característico, por meio da exportação de programas de TV, talvez repita a façanha de modo ampliado e, como da primeira vez, sem ter a completa noção do que está fazendo: Donner pode fixar, no planeta, a marca Brasil de design. É reinventando o elemento que mais aflige a humanidade atual –o tempo– que ele mais pode diferenciar a brasilidade.