O especialista de Harvard John Davis apresenta os cinco pontos comuns entre famílias com empresas vencedoras, que surgiram de sua pesquisa sobre o tema
Famílias bem-sucedidas tendem a declinar –assim como seus negócios– em três gerações. Essa queda se deve a tendências que chamo de leis naturais, pois são muito comuns e difíceis de evitar.
Para agir contra esse movimento, famílias, proprietários e suas empresas têm de seguir pela “estrada menos percorrida”, o caminho que exige persistência, trabalho duro e sacrifício, e significa que, de tempos em tempos, os líderes terão de tomar decisões difíceis que desagradam a alguns proprietários, diretores ou membros da família.
No entanto, esse percurso não é só de responsabilidade e sacrifício; famílias que o perseguem também colhem recompensas de conquistas, orgulho, lealdade, bem-estar financeiro e crescimento pessoal.
No final, as práticas que levam ao sucesso e à sustentabilidade do negócio familiar dependem dos princípios e práticas da família por trás do negócio. A maneira como ela decide viver e as escolhas consistentes que faz –seus hábitos– determinam muito da estratégia do negócio.
Assim como mãos com os dedos entrelaçados, há cinco hábitos de famílias que dão conta das cinco leis naturais e nutrem as empresas familiares bem-sucedidas.
Hábito nº 1
As famílias crescem mais rápido do que os negócios. Famílias bem-sucedidas colocam os negócios na frente das necessidades dos membros. Ao longo de gerações, as famílias crescem naturalmente em proporção geométrica. Tal crescimento expande o pool de talentos da família, mas definitivamente produz mais bocas para alimentar, o que causa pressões para gerar mais dividendos. Se uma família esvazia o capital do negócio, ele perece.
Eu aconselharia a ter famílias menores, mas líderes de negócios e de famílias não têm muito controle sobre isso. Pode-se, então, limitar o tamanho do grupo proprietário pela compra periódica dos direitos de alguns proprietários, mas isso geralmente é caro e reduz os fundos disponíveis para dividendos. Se for possível arcar com a poda da árvore da propriedade em cada geração, faça isso.
Hábito nº 2
Expectativas de estilo de vida de famílias aumentam com as gerações, então os negócios familiares bem-sucedidos focam criar de coisas de valor duradouro e tornar riqueza, conforto e status prioridades baixas.
Não sou contra que as famílias desfrutem os resultados de seu trabalho, mas esses desejos não podem definir sua vida. Se as pessoas sentirem que têm direito a isso e quiserem competir por status mais altos, o negócio da família –a fonte de sua riqueza– fica em perigo.
A maioria das famílias bem-sucedidas que conheço teve riqueza significativa e a desfrutou, mas o que fazia seus membros sair da cama pela manhã era o interesse em construir coisas de valor duradouro –uma boa família, um negócio em expansão, sua arte ou profissão.
A maioria das pessoas de uma família de sucesso na verdade tende a ser workaholic e é um pouco paranoica quanto a não trabalhar duro. Não estou defendendo ser workaholic, mas sei que famílias de sucesso nos negócios adoram trabalhar tanto quanto gostam de conquistar. Têm consciência do que construíram e da riqueza que desfrutam e fazem escolhas para protegê-la.
Hábito nº 3
As famílias se tornam financeiramente dependentes do negócio, então, para protegê-lo de necessidades financeiras familiares insustentáveis, elas controlam as expectativas financeiras de seus membros em relação ao negócio.
Desenvolva um plano financeiro, baseado em necessidades estratégicas e investimento do negócio de família, e revise-o com os proprietários familiares. Então mostre o que vai acontecer ao negócio se a família continuar a crescer e a gastar com seu estilo de vida atual: geralmente é um toque de despertar para mudar as expectativas financeiras da família.
Aquelas que sobrevivem nos negócios durante gerações geralmente aprendem na terceira geração a dizer à seguinte que vão precisar se sustentar e conseguir um emprego.
Hábito nº 4
Famílias colocam todos os ovos em uma cesta, então, para gerar parte da renda de que precisam, famílias inteligentes diversificam seus investimentos. A diversificação deve ser orientada principalmente por boas oportunidades de aplicação, mas cobrir parte da renda familiar e gerar bens para heranças são motivos realistas para pensar nisso.
O maior impedimento à diversificação fora do negócio da família geralmente vem dos obstáculos impostos por líderes, que podem tratar sugestões sobre diversificação como afirmações de deslealdade e heresia.
Hábito nº 5
Apesar das forças positivas de uma tradição familiar bem-sucedida e de pressões sociais que encorajam sua unidade, as famílias tendem a se tornar fragmentadas e menos unidas ao longo do tempo, fazendo com que todas as questões anteriores sejam difíceis de abordar. Por isso, famílias bem-sucedidas constroem um sistema de governança que mantém a unidade familiar enquanto garante que as decisões difíceis podem ser tomadas na hora certa.
As forças que sabotam a sobrevivência de longo prazo de um negócio familiar podem ser superadas se a família se mantiver unida, comprometida com seu negócio e for capaz de discutir abertamente os desafios.
A boa governança pode ajudar muito –com um conselho, um acordo claro e justo entre os proprietários e políticas familiares estritas, com um grupo para discutir os assuntos importantes que a família enfrenta. Boa liderança nos negócios, no grupo proprietário e na família é sempre essencial, mas a boa governança ajuda a selecionar e dar suporte a bons líderes.
Um empurrão na sorte
As leis naturais que descrevi aqui não são inevitáveis, mas precisam ser administradas para que a empresa sobreviva e prospere. Famílias e companhias familiares que mantêm seu sucesso ao longo de gerações são, em certa medida, sortudas, mas também reconhecem o poder dessas forças naturais e administram seu negócio.
O grupo de proprietários e especialmente os parentes podem –e devem– limitar o impacto das tendências negativas e crescer a partir dos pontos fortes da família.