Se há um setor de atividade em que o Brasil conseguiu se tornar referência mundial, esse é, indiscutivelmente, o da energia. Não apenas pela inovação de ruptura que o etanol, como biocombustível para veículos, representou nos anos 1970, como também por gerenciar uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, ainda que permaneça suscetível aos humores de São Pedro, que volta e meia insiste em negar a chuva necessária para movimentar as grandes estrelas do sistema, que são as usinas hidrelétricas.

Significativamente, a gestão desse setor não é feita individual e independentemente, empresa por empresa, mas de modo coletivo, por meio de planejamentos de curto (dez anos) e longo prazo (30 anos). A estratégia é formalizada por uma estatal federal, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mas tem forte influência de variadas entidades representativas de companhias privadas do setor, como a Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) ou a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), e especialistas da área, entre os quais cientistas ligados a universidades e, indiretamente, até ambientalistas, que se reúnem em seu conselho consultivo.

Esse conjunto planejador é um caso raro no Brasil e merece ser observado. Como se diferencia a gestão coletiva de uma área tão estratégica, que envolve tanta tecnologia (sujeitando-se, portanto, a um grande índice de mudança permanente) e com tantos e tão variados stakeholders? Entre outras coisas, adianto que a gestão coletiva é o que permite a introdução de conceitos como “complementaridade”, algo raro no planejamento de uma empresa individual, e que viabiliza o avanço tecnológico em escala, como acontecerá na distribuição com as revolucionárias “smart grids”.