A vitória de Barack Obama nas últimas eleições norte-americanas teve um gostinho especial para Nate Silver, economista dedicado à análise política com base matemática. Silver previu, vários dias antes das eleições, que Obama tinha probabilidade de 90% de ser reeleito. O prognóstico despertou a ira dos republicanos, que o acusaram de manipulação.

Os números foram divulgados em seu blog, FiveThirtyEight, publicado no site do The New York Times, e alçaram Silver e suas previsões à fama mundial. O nome do blog faz alusão aos 538 votos do colégio eleitoral que elegem o presidente norte-americano. O FiveThirtyEight foi palco de outras revelações; nele Silver previu corretamente o resultado das últimas eleições em 50 estados norte-americanos e das de 2008 em 49.

Silver tem 34 anos, formou-se em economia pela University of Chicago e, depois da graduação, trabalhou por três anos como consultor na KPMG. No entanto, ficou entediado e pediu demissão para ganhar a vida jogando pôquer na internet.

Ao mesmo tempo, sua paixão pelo beisebol –ele é fanático pelo Detroit Tigers– motivou-o a desenvolver um sistema estatístico para prognosticar o desempenho dos jogadores da liga principal. Assim nasceu o Pecota (acrônimo de Player Empirical Comparison and Optimization Test Algorithm), que, não por coincidência, também é o sobrenome de William Joseph, uma das principais estrelas desse esporte entre 1986 e 1994.

Em 2003, Silver vendeu o Pecota para a Baseball Prospectus, uma empresa de apostas esportivas, e nela trabalhou até 2007, quando decidiu dedicar-se à análise política no site Daily Kos, com o pseudônimo de Poblano (nome de um tipo de pimentão mexicano).

Método conhecido, algoritmo secreto

Silver tem brincado que utiliza um modelo estatístico “secreto”. Contudo, sua metodologia de trabalho é conhecida. No caso das eleições dos EUA, ele recolheu o máximo de pesquisas eleitorais e as classificou de acordo com quatro parâmetros: data da publicação, margem de erro, quantidade de entrevistados e prestígio da pesquisa. Depois tirou uma média, concentrando-se nos estados com mais delegados eleitorais. Para tanto, considerou a participação dos eleitores (já que o voto é facultativo lá), a imagem positiva do candidato e a demografia da região, levando em conta se havia mais mulheres, latinos ou jovens, entre outras variáveis. Por fim, colocou todas essas informações em um programa e, por meio de um algoritmo (este, sim, secreto), obteve os resultados. “Silver dá às pesquisas um valor estatístico”, afirma Kenneth Bunker, professor de estatística da London School of Economics.

Uma semana antes das eleições, quando concluiu que Obama obteria mais do que os 270 votos necessários para ser reeleito, muitos criticaram sua metodologia. Mas, no final do dia 6 de novembro, esta era celebrada. Já estava claro que explodiriam as vendas de The Signal and the Noise: Why So Many Predictions Fail, But Some Don’t, o livro de Silver que chegou às livrarias em setembro de 2012, pelo selo Penguin, e que pode ser útil aos gestores em planejamentos.

Inspirado em Thomas Bayes, matemático britânico do século 18, o livro de Silver ensina a “pensar probabilisticamente”, e mais próximo de como pensam os médicos e soldados, para os quais erros acarretam mortes, que de profissionais de institutos de pesquisa. Sua primeira regra é hipocrática: não causar danos. No livro, há exemplos práticos de seu método com fatos como o atentado de 11 de setembro.