Especialista em liderança e um dos mais respeitados pensadores de gestão da atualidade, Jim Collins diz nesta entrevista exclusiva para o Chief Knowledge Officer da HSM, José Salibi Neto, que "os brasileiros são enormemente competentes com incertezas"
Transcrição:
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Estamos aqui com Jim Collins no HSM SPECIALS. Jim Collins é o autor de “Built to Last”, “Good to Great” e “How the Mighty Fall”. Livros que venderam milhões de cópias ao redor do mundo.
Ele também é um dos melhores pensadores na área de gerenciamento no mundo
estamos honrados de tê-lo aqui hoje. Jim, muito obrigado por estar conosco no programa. É um privilégio estar aqui.
Jim, no mundo dos negócios hoje, um autor é muito sortudo quando vende 50,000 livros
Seus livros já venderam milhões. Como você consegue ... fazer as pessoas ficarem loucas por essas ideias?
Isso me intriga também, na verdade é bem interessante se você pegar “Good to Great”, que apenas nos EUA em capa dura está chegando perto dos 4 milhões de copias,
se você voltar um pouco no tempo e der uma olhada
quando estávamos escrevendo o livro onde tinha escrito “estimativa baixa”, melhor estimativa” “estimativa alta” e “estimativa extremamente otimista”
não chegou nem perto de nada disso, então eu não esperava que isso acontecesse.
E isso me intrigou, eu acho que parte disso é...é difícil falar que estamos no controle Tem a questão do tempo, nós tivemos muita sorte com o tempo
e você não pode fazer nada a respeito disso apenas ocorre de estarmos no lugar certo na hora certa
Então tem muita coisa que não está lá, que não está nos livros, foram circunstancias bem favoráveis.
Ao mesmo tempo, eu acho que devido ao fato do trabalho ser baseado em pesquisas e levar de 4 a 7 anos pra finalizar um projeto nós escolhemos ótimos questionamentos, nós somos muito seletivos quando se trata de questionamentos
nós escolhemos com base em pontos como nós escolhemos ótimos questionamentos, nós somos muito seletivos quando se trata de questionamentos nós escolhemos com base em pontos como Eu terei paixão suficiente para segui-lo por cinco, sete ou mais anos?
Existe uma metodologia de pesquisa que possa sustentar? conseguimos encontrar dados? Poderemos encontrar informações suficientes para justificar? de forma que você esteja descobrindo algo sozinho ao invés de simplesmente ter uma ideia.
O que realmente faz com dê certo é que você pega a base de pesquisa eu gosto de descrever como se fosse “George: O curioso” olhando embaixo do chapéu amarelo pra ver o que tem lá.
Eu acho que o que os leitores conseguem ver é ...
nós não abrimos o livro com uma noção pré-concebida do que podemos encontrar. Quando começo um projeto de pesquisa, eu não falo: “Eu acho que essa é a resposta!” e sim: “Eu não sei qual a resposta!!”
Se eu soubesse a resposta eu não enfrentaria a jornada.
Então você diz, vamos, não sabemos a resposta, aí você faz como “George: o curioso” e olha embaixo do chapéu amarelo para ver qual pode ser a resposta.
E eu acho que o leitor gosta dessa ideia da curiosidade de deixar os dados falarem, de não presumir saber e depois deixar as evidencias criarem as ideias. Em Segundo lugar, foi uma contribuição muito grande da minha esposa Joanne
ela tinha um conceito bem interessante chamado “embrulhar” e “desembrulhar” o que significa é que, se eu quiser que você compre uma ideia eu tenho que fazer você acabar com os preconceitos com relação a tal ideia
então você “embrulha” essa ideia de tal maneira que você sente vontade de desembrulhar se eu perguntar a você, Você tem líderes? Qual a sua opinião sobre liderança? Ou coisa do tipo
você vai responder que sabe o que é liderança ou que tem líderes. Mas se eu te perguntar, Você tem lideres nível 5? Então você dirá: bom, eu tenho que desembrulhar isso!
O que é um líder nível 5? É como um pedaço de papel de presente que te convida a abrir o presente.
Isso te força a comprar a ideia e aprender depois você pode embrulhar novamente da sua maneira. E eu acho que aprendi isso com Joanne, essa ideia de que você tem que “embrulhar” bem suas ideias.
Em terceiro lugar, eu acredito e fui muito influenciado pela ideia do Macintosh original o que acontece no Macintosh é que, Steve Jobs sempre falou nisso a ideia de que você tem que ter atrás da tela, uma ciência muito poderosa.
A arquitetura tem que ser boa, os programas têm que ser bons os processadores têm que ser bons, esses tipos de coisas para nós, seria como nossos pesquisadores que têm que ser bons.
Mas para que tudo isso valha a pena, você tem que ter também uma boa interface de usuário o que o Macintosh fez foi justamente criar uma ótima interface de usuário que posteriormente estava também presente no Windows
que permite que você acesse o que está por trás eu lembro quando Jerry Porras e eu começamos a trabalhar em “Built to Last” eu disse que tínhamos que pensar em um livro, um livro desse é como um Macintosh
temos que fazer nossa pesquisa por 6 anos para ter todas as coisas por trás da tela realmente sólidas um esforço bem científico por trás, mas temos também que escrever a frente do livro com um formato bem atrativo, temos que escrever ideias “Windows”
ideias como a interface do Macintosh para que as pessoas realmente comprem as ideias. Caso você não tenha tal esforço por trás da tela
ou seja, se você tiver uma boa interface de usuário mas não tiver um suporte bem sólido por trás não vai ser nada bom mas se você tem um suporte bem sólido e uma interface de usuário fraca, também não é nada bom.
Anos atrás, um livro pra ser um Best Seller tinha que ser bem pesquisado como “Vencendo a Crise” (In search of Excellence) e muitos outros livros que vieram depois desse. Hoje, parece que best sellers na área de business são mais relacionados a insights.
Autores como Malcolm Gladwell ou Chip Heath autores com ótimos livros, mas todos sobre insights E os seus são bem profundos, bem pesquisados.
Você poderia comentar sobre isso? Como você vê o futuro? Você se vê no futuro escrevendo mais sobre insights ou você planeja manter o mesmo estilo pesquisador que sempre teve?
Eu tento escrever fazendo uma projeção pra 50 anos mesmo assim eu não sei se o que escrevo será lido daqui a 50 anos. Eu não presumo que isso vai acontecer.
Mas eu tento escrever com a ideia de que isso ainda será útil para as pessoas daqui a 50 anos. Talvez daqui a 100 anos que tem algo essencialmente correto sobre a ideia
Eu não estou falando em verdade absoluta eu não acredito que tem física, no sentido de ser uma lei imutável que aparece muito na área de gerenciamento.
Porém, eu acho que podem ser bem verdadeiras ideias verdadeiras que podem durar por um bom tempo eu não acho que essas tem que vir de pesquisas.
Eu acho que se sua ideia, se você consegue fazer isso com um insight ao invés de pesquisa e se ainda se justifica em 50-100 anos, isso é ótimo! Eu adoraria ser capaz de fazer isso.
Eventualmente, talvez com a experiência acumulada aliada com uma pesquisa bem feita por trás eu talvez consiga produzir alguns insights daí. Mas na minha opinião, quer dizer, por mais antiga que seja a referência na história
sempre terá uma base talvez tenhamos novos insights vindo dela, mas chega a ser como um poço não quer dizer que nunca voltarei para esse poço e simplesmente terei insights
eu voltarei para esse poço e notarei que tem mais pra se extrair de lá eu posso aprender com isso e me distanciar mais dessa base. Eu acredito que é totalmente justificável que as pessoas tenham um insight
sem necessariamente ter muita pesquisa por trás. Nosso amigo e mentor Peter Drucker não era um pesquisador nato ele era um observador, e um observador muito perceptivo.
Ele não tinha um método muito regular, mas tinha um olhar extremamente aguçado e conseguia traduzir seu olhar aguçado em insights que são tão verdades hoje quanto eram em 1952. Jim, você passou um tempo no Brasil, embora esse programa seja exibido em países da América do Norte
como você está partindo para os EUA amanhã Que contribuições foram mais relevantes? Bom, primeiro de tudo, mesmo tendo sido tão gentilmente sugerido por você que na verdade ensinei
eu saio com a certeza de que aprendi muito mais que ensinei tem sido um aprendizado constante e tantas pessoas com quem aprendi mas se eu tirar de todas as perguntas que fiz, consigo destacar duas ou três coisas
eu sempre parto do seguinte ponto de vista O que podemos aprender com o Brasil? e não, o que o Brasil pode aprender conosco?
Eu saio com algumas coisas que podemos aprender com o Brasil, na verdade várias coisas mas primeiro, os Brasileiros são enormemente competentes com incertezas, em lidar com incertezas quer dizer, eu não tinha entendido completamente, até você me explicar a questão da inflação.
Eu não tinha entendido até você me explicar que os 80% eram por mês, por mês! Comecei a fazer os cálculos e vi que era como tentar correr em areia movediça Como se consegue correr em areia movediça?
Além da estrutura de mudança governamental e a relação de mudança entre privado e público gerando uma incerteza de alto nível. Eu como um Americano, Americano dos Estados Unidos da América
crescemos com um senso de estabilidade muito artificial eu acredito que as três ou quatro décadas passadas têm sido um período de aparente estabilidade na história Americana.
Éramos a única superpotência, depois passamos pra duas superpotências depois apenas uma novamente. Certamente minha vida adulta foi realmente caracterizada alguns anos atrás por uma prosperidade sem precedentes e contínua, tivemos paz na maior parte do mundo
tivemos alguns conflitos aqui e ali mas nada perto da segunda guerra mundial.
Tem sido um período muito bom pra gente, podemos contar com as coisas. Eu acho que estamos acordando para um mundo que, pra nós, parece ser muito mais incerto e instável.
Parece que estávamos fazendo trilha no condado de Marin, Califórnia na primavera e meus amigos Brasileiros estavam escalando o Monte Everest. Agora nós acordamos e notamos que estamos no Everest também
mas vocês estiveram lá antes e são alpinistas bem mais fortes e resistentes. Podemos aprender com vocês a não entrar em pânico frente a incertezas. O que mais me impressiona é que quando lidam com os choques da incerteza
vocês aprendem a não entrarem em pânico a manterem a calma, mesmo sendo desagradável e preferirem não estar passando por isso. Segunda coisa que levo comigo, tem uma combinação maravilhosa aqui de dois opostos.
Eu acho que seria muito válido para o resto do mundo ver essa característica do Brasil. De um lado temos emoção e paixão, são pessoas muito emocionais, muito apaixonadas. Do outro lado, são muito trabalhadoras, muito sistemáticas nos melhores negócios
e muito disciplinados e racionais nesse lado. Essa combinação de emoção e paixão elevadas com racionalidade e sistematicidade para criar sucesso
é uma combinação muito poderosa, O que desperta minha admiração.
A terceira coisa que levo comigo é uma pergunta pro Brasil, talvez pra América Latina mas como conheço o Brasil um pouco mais e estudo o Brasil, não sou um expert.
Nos EUA nós temos o que chamamos de sonho americano o sonho americano é uma crença de que seja onde você começar não determina onde você vai chegar você pode começar em qualquer lugar, você pode começar em D ou C, não importa
e isso baseado nos próprios méritos. Pode até não ser totalmente verdade, mas o que é realmente verdade é que nós acreditamos.
Minha pergunta para o Brasil é: Qual o sonho Brasileiro?
Qual o sonho Brasileiro que precisa ser compartilhado por D, C, B e A? e como esse sonho Brasileiro pode se tornar realidade para que as crianças de todos os lugares as crianças, a próxima geração seja de onde vierem, rural ou urbano, A ou D
acreditem que onde começarão não determinará onde chegarão mas eles, como Edson, nosso amigo Edson pode buscar a mudança de sua condição como você cria isso como um genuíno sonho Brasileiro?
Eu acho que é uma pergunta pra você.