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Então, quando usamos a palavra 'enxuta', pensamos sobre desperdício. Ou em não desperdiçar. É realmente o que quer dizer quando a usa para startups?

Sim. Então, a origem da palavra 'enxuta' volta para época de produção, e do nosso sistema de produção. Era uma forma de trabalhar que realmente iniciou a eliminação do desperdício

do sistema de produção inteiro. E o que é empolgante a respeito dessas técnicas é que quando as aplica em uma fábrica, ou até em um hospital ou escritório normal,

pode observar bem ali: A quantidade de estoque necessária diminui; a eficiência, o rendimento aumenta; e além disso, a qualidade do produto aumenta ao mesmo tempo.

Quando digo 'startup enxuta', o que fizemos foi pegar esses mesmos conceitos sobre eficiência e os aplicamos a uma situação de startup. Agora, o que faz uma situação de startup ser especial

é que é uma situação de alta incerteza. O que significa que temos um plano, esperamos ter clientes algum dia, mas não temos nenhum ainda.

Não temos nenhum estoque ainda. Não temos nenhum dos itens físicos de uma produção que se teria em uma fábrica, ou em um hospital, ou em qualquer tipo de escritório.

Então, ao invés disso, aplicamos o pensamento enxuto. Não para produção de produtos; mas ao invés disso, para descobrir muito eficientemente qual é o produto certo para se construir

antes de mais nada. Então, se não temos nenhum cliente ainda, vamos descobrir quem nosso cliente realmente é.

E se acharmos que sabemos o que o cliente quer dizer com alta qualidade, vamos assegurar que estamos certos nas nossas crenças sobre o cliente.

Mas quando fala sobre inovação, fala sobre cometer erros, certo?

Então, como pode uma startup tentar, experimentar, e evitar desperdício ao mesmo tempo? Sim. Uma vez que vê que nosso objetivo em uma startup é aprender,

quer nossa estratégia esteja certa ou não; então, muitas atividades que podem parecer um desperdício percebemos que na verdade são mais eficientes.

Então, por exemplo, algumas pessoas acham que se construir seu produto sozinho sem retorno, sozinho: vai para o seu laboratório, se tranca lá, e só trabalha o quanto for necessário:

1 mês, 6 meses, 1 ano, 2 anos; seja quanto tempo levar. E sai com um produto completamente feito. Para muitos cientistas e engenheiros, e até para muitas pessoas de negócios,

isso soa muito eficiente. Não há distrações, reuniões, não há clientes chatos e perguntas de atendimento ao cliente. Mas, quando olha através das lentes da startup enxuta, percebe

que é muito ineficiente. Porque é provável que o produto que acabará construindo não será realmente o que clientes querem.

Então, pensar como um cientista, ver nossas atividades de negócio como experimentos que precisam ser testados e avaliados objetivamente;

isso nos ajuda a descobrir qual é o caminho certo a seguir. Mas isso tem a ver com pensamento em design também? Claro. Em toda disciplina, incluindo design, engenharia, operações e produção;

elas são iterativas, centradas no cliente, são quase métodos antropológicos: Pensamento em design, desenvolvimento ágil de software, o que chamam de DevOps, desenvolvimento de clientes,

e é claro, a produção enxuta original. Há todas essas ideias por aí. O que a startup enxuta faz é dizer: Ao invés de confinar a iteração e o aprendizado a uma função,

vamos espalhar essa forma de trabalhar por toda a organização para que toda a nossa empresa, de cima a baixo, possa ser construída para aprender o que clientes querem.

E que resultados já viu em empresas, após ter publicado seu livro? É muito dramático. É claro, escrevi o livro originalmente há quase 5 anos agora baseado na minha própria experiência e em como essas ideias me ajudaram

nas minhas próprias startups. E é claro, já tinha espalhado para outras empresas no Vale do Silício, outras empresas de tecnologia.

E tínhamos visto resultados tremendos. Desde que o livro foi publicado, 2 coisas realmente interessantes aconteceram. Uma é que há uma nova safra de empresas que viveu sua vida inteira

na era das startups enxutas. Então, foi construída ao redor dos princípios desde o início e teve sucesso incrível, tanto no Vale do Silício quanto por todo o mundo.

A segunda coisa interessante que aconteceu é que muitas empresas muito maiores abraçaram a startup enxuta para re-injetar pensamento empreendedor e esse espírito empreendedor de volta na empresa.

Porque muitas empresas quando crescem perdem esse DNA, perdem essa faísca inovadora. E a startup enxuta pode ser como um sistema de gestão que pode ajudar a trazer isso de volta.

Qual mudança de paradigma a empresa tem que ter internamente para ser mais empreendedora? Isso é muito desafiador.

A maioria dos gerentes não quer ouvir que a razão pela qual sua empresa não inova é o seu comportamento, não o comportamento de seus funcionários. Os sistemas de responsabilidade, métricas, remuneração, promoções,

finanças, RH, TI; todos os nossos sistemas na maioria da empresas são construídos para aquela versão mais velha de eficiência: Aquela que faz com que todos façam o mesmo tipo de trabalho vez após vez;

as pessoas trabalham em silos funcionais e o trabalho passa de silo para silo. Essa é uma forma eficiente de trabalhar a não ser que algo tenha que ser aprendido. E agora ficar sem supervisão e ter múltiplas tarefas...

Realmente inibem o aprendizado. Na maioria das empresas, o fracasso significa que não pode ser promovido. É uma marca ruim, é ruim para sua carreira.

Mas empreendedores fracassam 10 vezes por dia. Estava em uma grande corporação um dia e estava pregando para os seus líderes seniores diferentes a ideia

de que deveriam abraçar isso. E conheci um de seus líderes, uma pessoa muito importante que trabalhava em controle de qualidade. Ele tinha uma caneca de café em sua mesa.

E dizia: "O fracasso não é uma opção." E pensei: "Uau, onde conseguiu essa caneca?" Se eu tivesse uma caneca, como um empreendedor, ela diria:

"Eu como fracasso no café da manhã."

Todo dia fracasso em algo. É perfeitamente normal. Então, a corporação moderna tem que aceitar que certas partes de suas operações são bem compreendidas e se tratam de aprimoramento e progresso incremental.

E nessas áreas, o fracasso é um problema. O fracasso significa que alguém fracassou na execução, fracassou em prever um problema que deveria ter previsto.

Mas na parte do portfólio que é empreendedora e inovadora não só o fracasso acontecerá, mas ele é inevitável e frequente. E então, temos que construir um sistema de RH, um sistema de promoções e finanças

que possa lidar com o fracasso e na verdade recompensar os tipos certos de fracasso para assegurar que como organização estejamos aprendendo com esses fracassos e melhorando cada vez mais.

Fracasso não é desperdício. Se alguém fosse incompetente, se alguém fizesse algo burro, sabe; há todo tipo de fracasso que é ruim. Mas fracasso por não sabermos algo, porque o mundo mudou ao nosso redor,

porque precisávamos reagir e nos adaptar; isso não é desperdício, é na verdade muito mais eficiente. E tem algum grupo de startups enxutas ou algum movimento aqui no Brasil?

Sabe de algo que está sendo feito aqui? Sim. Há um movimento de base, de encontros de startups enxutas chamado: Lean Startup Circle. Não o comando nem controlo,

são simplesmente empreendedores de base em muitas cidades. E acho que há algumas cidades no Brasil. Há grupos em que pode entrar online na LeanStartup.com.

Temos um link para um mapa de centenas de grupos por todo o mundo. E pode ver o que está acontecendo. Também fazemos uma conferência de startups enxutas todo ano.

E nessa conferência recebemos transmissões simultâneas de locais por todo o mundo. Então, tenho certeza que há alguns locais no Brasil para isso também. E trocam informações entre as empresas que usam o método

-e fazem melhorias e coisas assim? -Sim. É muito útil, se é um empreendedor. Primeiramente, o empreendedorismo é um trabalho muito solitário.

Então, ter uma rede de outros empreendedores para quem possa responder e com quem possa comparar anotações é muito útil. É até mais útil se for um empreendedor e estiver tentando

adotar uma nova abordagem como essa. Pode parecer contrário à intuição, as pessoas na sua equipe podem ter dificuldades em como fazê-lo. Então, ter esses recursos disponíveis pode ajudá-lo

tanto na sua própria prática empreendedora quanto na sua equipe toda adotando essa nova forma de trabalhar. E acha que funciona para todos os setores ou é muitos mais relacionado a TI?

Sabe, eu costumava pensar que realmente se tratava de tecnologia e software. Mas agora eu realmente já vi funcionar em todo tipo de setor: Saúde, educação, energia, governos e ONGs;

já vi em organizações sem fins lucrativos fazendo tratamentos que salvam vidas no mundo em desenvolvimento.

Já vimos com pessoas fazendo realmente moda sofisticada. Sabe, produtos do tipo consumo e varejo, lojas físicas; quer dizer, nomeie um. Parece que já vimos. Em eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos,

todo tipo de negócios de suporte para escritório e TI.

Sabe, produtos de criança... Poderia continuar. Sabe, eu costumava dizer que só funcionava para certos setores. Agora digo que se seu setor se depara com rupturas, é melhor entrar nesse trem.

E às vezes me encontro com gerentes e dizem: "Bem, meu setor está a salvo de rupturas." Eu digo: "Não, só significa que não aconteceu ainda.

Mas fique atento, porque acontecerá."

E tem algum exemplo notável que pode lembrar? Sabe, não gosto de ser reconhecido pelo sucesso de outras pessoas. Mas todo ano fazemos essa conferência.

E deixamos que os empreendedores subam no palco e contem suas histórias em suas próprias palavras. E então deixamos a audiência julgar se parecem ser uma startup enxuta ou não.

Todo vídeo de todo ano da conferência está disponível de graça online no Youtube. Então, encorajaria as pessoas a irem online e julgarem por si. Certo.

Está envolvido em outra empresa ou projeto hoje em dia? Sim, estou muito ocupado. Não só com minhas palestras e viagens a respeito da Startup Enxuta.

E é claro, tem a conferência. Estou trabalhando em um novo livro. E estou tentando fazer minha própria startup ao mesmo tempo.

Então, são muitas bolas no ar para coordenar. -Pode falar algo sobre essa nova... -Nova startup? Claro. Se chama 'bolsa de valores a longo prazo', ou LTSE.

A ideia é criar um novo mercado de capital público para que quando as empresas abrirem seu capital e oferecerem ações ao público, não se tornem essas criaturas de rendas trimestrais de curto prazo que vemos hoje.

Então, a maioria das empresas está sob tanta pressão no curto prazo para entregar resultados hoje, hoje, hoje, que não conseguem fazer os investimentos a longo prazo que sustentam inovação.

E se olhar para as pesquisas, a maioria dos investidores, os melhores investidores têm uma estratégia a longo prazo. Querem comprar uma empresa, e mantê-la, e ser um membro dessa empresa, participando a longo prazo.

Mas cada vez mais acham difícil. Por causa de toda essa volatilidade trimestral, é muito mais difícil ser um investidor a longo prazo. Então, nossa ideia para o LTSE é criar um novo mercado público,

um novo lugar para se abrir capital onde possamos juntar investidores de longo prazo e gestão de longo prazo, e possam ficar um pouco protegidos das pressões cotidianas dos mercado públicos.

Isso é algo que pode criar, um novo mercado? Sim! As pessoas, em sua imaginação, tantas pessoas acham que o jeito que o sistema existe hoje foi dado a nós por Deus, sempre foi assim...

-Ou pelo governo. -Sim, pelo governo. Porque sabe, aqui Deus e governo é algo que é semelhante. Sim, e as pessoas acham que o governo não pode ser mudado.

Mas a verdade é que o governo são só pessoas. E se olhar para legislação com cuidado, olhar para quais são as leis, e entender o processo; todos os mercados públicos de hoje

foram criados por alguém em algum momento. Então, quando começamos a realmente investigar o que seria necessário para criar um novo, é difícil. Mas não é impossível.

E o livro? Então, o livro novo se chamará 'The Startup Way'. E o que quero fazer é realmente falar dessa experiência que tive

de trazer a startup enxuta para organizações estabelecidas, assim como para muitas das startups que começaram como startups enxutas. O que aconteceu com elas uma vez que passaram de 100, 500, 1000 funcionários?

Muitas delas começaram a se tornar burocráticas. E começaram a se tornar como as mesmas empresas para quem os fundadores não queriam trabalhar antes;

é por isso que viraram empreendedores, sabe? E então, há meio que essa letargia e burocracia que se estabelece nas empresas; acho que isso é evitável. Então, articulei um processo que já usei em empresas com as quais trabalhei

para realmente limpar isso de seus sistemas e torná-las muito mais enxutas de cima a baixo. Bem, há alguma outra coisa que trouxe para conferência

que gostaria de comentar? Sabe, é interessante. Um dos grandes privilégios do meu trabalho agora é que viajo e conheço empreendedores por todo o mundo.

E para uma conferência como essa, estou muito mais interessado no que posso aprender aqui do que no que trouxe comigo. Trouxe minha palestra e meu livro.

E estou feliz de falar disso com as pessoas aqui. Mas, para mim, o que é muito interessante é aprender. Essa é a minha primeira vez no Brasil. Sinto que é uma oportunidade para aprender sobre como é

ser um empreendedor na América do Sul; quais são as condições aqui. E quando as pessoas pegam essas ideias e as tornam suas, como é isso? E para mim é uma nova cultura, um novo lugar.

Ótimo. -Obrigada. -Muito obrigado.