Você conhece um aplicativo cujo uso seja tão valioso que, por si só, tenha sido decisivo para disseminar determinada tecnologia? Assim foram as planilhas para disseminar os PCs e assim foram os e-mails para popularizar a internet. O mesmo deve se repetir com a economia circular; ela é o app matador para difundir a impressão 3D. 

Esse é o raciocínio de Gregory Unruh, professor da George Mason University, da Virgínia, EUA. Ele vislumbrou um sistema de manufatura que funcione como a biosfera terrestre, com três princípios:

•O uso de um número mínimo de tipos de materiais – só com carbono, hidrogênio e oxigênio se geram 90% de cada organismo do planeta.

• A autonomia energética, ou seja, toda a energia necessária para a produção é gerada localmente e de forma renovável.

• O círculo de valor, segundo o qual produtos antigos voltam ao ciclo produtivo com uma aplicação de valor igual ou superior. É isso que permite que um coelho esteja biologicamente presente em um cacto, em um peixe ou em outro coelho.

Esses três princípios são válidos para a impressão 3D, constituindo os fundamentos da viabilidade de uma economia circular: um único polímero pode ser usado para criar uma infinidade de formas; já há uma impressora 3D que funciona com energia solar, atendendo à necessidade de autonomia energética; há também o processo integrado de reciclagem, que possibilita que um velho objeto se transforme em material bruto e seja reutilizado.

Embora nem todos os produtos possam ser fabricados com impressão 3D, é fácil imaginar um futuro em que uma parcela significativa dos bens de consumo seja resultado dessa tecnologia, promovendo a economia circular e contribuindo para acabar com o ciclo vicioso do “comprar, usar e jogar fora”.

 

Também vale no Brasil

A transição da economia linear para a circular depende de condições sistêmicas e também de tecnologias com poder de ruptura, como a impressão 3D citada por Gregory Unruh. A manufatura tradicional, pautada por barreiras tarifárias e significativos deslocamentos entre produção e mercado consumidor, pode mudar radicalmente em um futuro próximo graças a isso. A tecnologia ainda precisa amadurecer, é claro, com mais velocidade, componentes de alta qualidade e maior confiabilidade, além de ser adotada em larga escala. Mas, quando olhamos para a indústria de reparos, a impressão 3D pode viabilizar estoque ilimitado, on demand e disponibilidade local de peças e partes, permitindo maior extensão do ciclo de vida dos produtos.

No Brasil, não há a distância entre produção e consumo como vista na Europa ou nos EUA. Portanto, a economia circular pode fomentar a geração de novos negócios e empregos se as condições sistêmicas forem criadas, unindo esforços governamentais, empresariais, acadêmicos e do terceiro setor.

Por Kami Saidi, diretor de operações e sustentabilidade da HP Brasil.