Se um extraterrestre resolvesse estudar a Terra, certamente ficaria perplexo com a desigualdade, a mais marcante característica da humanidade. Nos últimos 200 anos, a humanidade experimentou um espetacular processo de evolução tecnológica, especialmente no campo da produção. Em termos absolutos, no entanto, nunca tivemos contingentes tão grandes de famintos, de oprimidos e de desesperançados.

Ele constataria que alguns humanos mantêm adegas com finos vinhos, enquanto outros não dispõem sequer de água potável em casa. Nos dois primeiros meses de 2010, por exemplo, 860 mil pessoas morreram por conta de enfermidades associadas ao consumo de água contaminada. Na entrada de março daquele ano, 1,3 bilhão de humanos viviam em locais sem acesso regular a água potável. Contrastes que têm gerado preocupação e também vergonha.

Se o extraterrestre chegasse aqui entre 2002 e 2004, talvez também percebesse, com a ajuda de seus sofisticados métodos de análise, a descomunal crise financeira que estava em formação. A partir daí, um volume significante de dinheiro estrangeiro entrou nos Estados Unidos, sobretudo das economias asiáticas emergentes e dos países produtores de petróleo. Ampliava-se rapidamente o crédito, na forma de hipotecas e também de empréstimos para a compra de veículos e para o consumo em geral, concedidos a clientes que não comprovavam renda e com histórico de inadimplência. Logo setores expressivos da população assumiram uma carga de dívidas sem precedentes.