Qualquer pessoa que já tenha trabalhado diretamente com David provavelmente já o viu rabiscando este desenho estupidamente simples: um balanço, com um coração de um lado e um cifrão do outro. Essa tensão entre o coração e o dinheiro ilustra um grande tema da nossa vida. Para nós, o coração representa a humanidade, na forma da paixão pessoal ou da cultura da empresa, ou, em outras palavras, felicidade e bem-estar emocional. O cifrão representa os ganhos financeiros ou as decisões de negócio que pagam as contas e o salário dos empregados. O balanço é um lembrete de que devemos fazer uma pausa e levar em consideração os dois aspectos ao tomar decisões, especialmente no que diz respeito a oportunidades de carreira que podem parecer boas, mas que dão uma sensação ruim.

Na época que Tom era um consultor de gestão empresarial, ele comentou com uma amiga assistente social que achava triste ele ser tão bem pago pela consultoria enquanto a profissão dela pagava tão pouco. Sem hesitar, ela disse: “É porque as pessoas só topam trabalhar em consultoria de gestão se ganharem muito, enquanto eu faria meu trabalho social de graça se pudesse”. Para ela, o coração pesava mais que o cifrão.

No fim das contas, Tom acabou deixando a consultoria de gestão para ir trabalhar com David na Ideo, escolhendo seguir o coração.

Alguns anos mais tarde, Tom recebeu uma ligação desesperada de seu antigo chefe, o carismático diretor de práticas de transportes da empresa. Eles tinham acabado de fechar o contrato de um enorme projeto de consultoria em uma companhia aérea global, mas um importante empregado deles tinha pedido demissão inesperadamente. Eles corriam o risco de perder milhões em receita se não encontrassem um substituto qualificado... e rápido.

“Quanto eles estão pagando para você naquela empresinha de design?”, o ex-chefe de Tom perguntou, pressupondo que o dinheiro era o maior incentivo que ele podia oferecer. Quando Tom revelou quanto ganhava, seu ex-chefe ofereceu um pacote financeiro que triplicaria o montante.

Nós dois passamos horas olhando fixamente para o balanço do coração/cifrão, conversando sobre o que queríamos da vida. A oportunidade de trabalharmos juntos em desafios interessantes nos atraía enormemente, mas, para Tom, parecia temerário recusar tanto dinheiro. Por um lado, o ganho financeiro de curto prazo seria excelente. Por outro lado, ele adorava trabalhar com o irmão e achava que o trabalho que eles desenvolviam na Ideo era o mais envolvente de sua vida. Levou alguns dias para Tom retornar a ligação do ex-chefe e recusar a oferta. Mas foi o que ele fez.

David também tendeu a orientar sua carreira por decisões que otimizavam o coração e não o dinheiro. Ele deu as costas à próspera empresa de capital de risco que fundou, rejeitou generosas ofertas de opções sobre ações e recusou a chance de uma lucrativa IPO (oferta pública inicial de ações). Enquanto isso, ele encontrou uma enorme gratificação interior ajudando alunos, clientes e colegas a desenvolver a confiança criativa.

Não é fácil se equilibrar no balanço do coração e do cifrão. A sociedade valoriza muito a abundância e os privilégios que acompanham a riqueza, mas, se você for como nós, provavelmente conhece pessoas que escolheram o dinheiro e hoje se sentem infelizes ou aprisionadas. Como a analista de um prestigioso banco de investimento de Manhattan que se apega ao emprego, ignorando todo o estresse que está acabando com a saúde dela. Como o jovem que acabou de tirar seu MBA e conseguiu um emprego na área de TI em uma empresa que ele considerava uma das mais respeitadas do mundo, mas que acabou se desiludindo ao perceber que estava perdendo muitas oportunidades de viver a vida. Ou o advogado que passa os fins de semana trabalhando para ganhar mais dinheiro em vez de curtir a família e os amigos. É por isso que, quando precisamos escolher entre dinheiro e coração, acreditamos que faz sentido levar os dois lados em consideração. Sempre será mais fácil mensurar o dinheiro, e é por isso que avaliar o valor do coração requer um esforço maior.

Você conhece um advogado que passa os fins de semana trabalhando para ganhar mais dinheiro em vez de curtir a família e os amigos?

Pesquisas econômicas demonstram que, acima de determinado limiar, o dinheiro não apresenta uma forte correlação com a felicidade. Pessoas que vivem com uma renda de subsistência podem não ter condições de seguir sua paixão e otimizar o coração, mas, para a maioria de nós, como podemos nos dar ao luxo de não fazer isso?

A armadilha do "parece bom , mas a sensação é ruim"

O emprego seguro e prestigioso que leva os seus pais a sorrir, impressiona os amigos ou chama a atenção em uma festa pode levá-lo à infelicidade se não for compatível com quem você é. Conhecemos uma pessoa que frequentou uma das melhores faculdades dos Estados Unidos com uma bolsa de estudos para estudar Música e acabou escolhendo estudar Medicina porque ser um médico parecia uma profissão mais segura. Ele se formou, se tornou um médico, mas vê a medicina como apenas um emprego, nada intrinsecamente gratificante.

Um número ainda maior de pessoas que conhecemos escolheram a profissão só com base no que lhes parecia razoável, sem pensar em outras opções. Elas nunca questionaram seu plano de carreira, desde o primeiro dia do emprego em que entraram assim que terminaram a faculdade. Agora elas trabalham cada vez mais para conseguir a próxima promoção, sem parar para refletir no que exatamente elas ganham com isso. Um bom amigo nosso começou a literalmente contar os dias até a aposentadoria, apesar de ainda faltar mais de um ano.

O pesquisador e professor Robert Sternberg nos contou: “As pessoas ficam tão atoladas nos detalhes triviais do dia a dia de suas vidas que, algumas vezes, se esquecem de que não precisam ficar presas. É meio como aquela armadilha chinesa de dedos que as crianças usam para pregar peças. Quanto mais você tentava tirar os dedos, mais ficava preso. Mas, quando os empurrava para dentro, você conseguia livrar os dedos. Às vezes, você só precisa ver as coisas de uma nova perspectiva”. Não importa qual seja a sua idade, você ainda pode seguir suas paixões.

Na juventude, Jeremy Utley se destacava em análise e pensamento crítico. Seu talento nato levou vários orientadores vocacionais bem-intencionados a lhe aconselhar: “Você precisa entrar em Direito, Contabilidade, Física ou Finanças”. Jeremy seguiu os conselhos e acabou, aos 25 anos, em um emprego bem remunerado fazendo análises financeiras.

Como muitos de nós, Jeremy se viu encurralado pela “maldição da capacidade”. Sim, ele era bom no trabalho, mas o trabalho não o realizava. Criado numa família que valorizava o trabalho duro e a diligência, Jeremy se arrastava ao escritório todos os dias, “conformado com o destino de passar os próximos 20 anos odiando o trabalho”.

A empresa esperava que associados como Jeremy fizessem uma pausa depois de alguns anos para tirar um diploma de MBA. Assim, no outono de 2007, ele entrou na Faculdade de Pós-graduação em Administração da Stanford. Ele resolveu se matricular em um curso introdutório na d.school para se distrair um pouco do currículo tradicional da Faculdade de Administração. No curso, ele percebeu o quanto estava se divertindo (apesar dos tropeços e das dificuldades), enquanto enfrentava a ambiguidade, prototipava as ideias e tomava decisões criativas. “Até então, eu só via o curso como uma diversão”, ele conta. “No meio do caminho percebi que o curso era tão rigoroso quanto tudo o que já fiz no passado, mas muito mais gratificante.”

Ele fez outros cursos e se sentiu cada vez mais dividido entre a mentalidade do antigo emprego e sua nova forma de pensar. Assim, Jeremy acabou deixando para trás as tentações do salário e do status da carreira anterior, apesar de isso implicar devolver à empresa os dois anos de mensalidades do MBA. “Não me parecia certo voltar à empresa porque tive uma experiência transformadora e sentia que precisava tentar um novo caminho.” Assim, ele continuou na d.school como um bolsista e acabou se tornando um diretor de educação executiva. Quando perguntamos se ele tinha dúvidas, Jeremy respondeu: “Não... estou bem com a minha decisão. A paz e a alegria voltaram à minha casa e isso não tem preço para mim”. Hoje, a paixão de Jeremy se reflete em seu trabalho e ele é considerado um dos melhores instrutores da d.school.

Recentemente, Jeremy notou que parou de usar a palavra “trabalho” para descrever seu ganha-pão. Se um amigo liga querendo saber onde ele está, Jeremy responde: “Estou na Stanford” ou “Estou aqui na d.school”. Ele quase nunca diz: “Estou no trabalho”.

E é isso. O trabalho não precisa ser um fardo. Você deveria ser capaz de sentir paixão, um senso de propósito e sentido em tudo o que faz. E essa mudança de perspectiva pode lhe abrir todo um mundo de possibilidades.

Entediado na Boeing

David aceitou um emprego do tipo “parece bom, mas a sensação é ruim” assim que terminou a faculdade. Formando-se em Engenharia Elétrica pela Carnegie Mellon nos anos 1970, ele foi contratado como um engenheiro na Boeing em Seattle, trabalhando em jumbos 747. O emprego era considerado uma grande oportunidade, já que a Boeing era (e ainda é) uma das fabricantes de maior prestígio da América. Nosso pai passou toda a carreira na indústria aeronáutica, de forma que o emprego de David na Boeing também agradava aos nossos pais.

Só havia um problema: David odiava o trabalho. Ele se sentia perdido em uma sala com 200 engenheiros debruçados sobre as mesas, labutando sob a luz fluorescente. Na qualidade de um engenheiro mecânico do grupo “Luzes e Sinalizações”, seu maior projeto era trabalhar na sinalização de “LAVATÓRIO OCUPADO” do 747. Era um cargo que definitivamente não se beneficiava de seus maiores pontos fortes. E o emprego não lhe parecia ser um trampolim para algo que ele de fato queria fazer. Dessa forma, era um bom emprego em termos de status e salário, mas David estava entediado e profundamente infeliz.

O fato de milhares de aspirantes a engenheiro ambicionarem o emprego de David só fazia com que ele se sentisse pior. David acabou pedindo demissão, esperando que o que ele considerava uma tortura diária pudesse levar a uma carreira gratificante para o próximo engenheiro que assumisse seu lugar.

O contraste entre a paixão que nós dois sentimos pelo nosso trabalho na Ideo e o pesado senso de dever que oprimia David na Boeing foi como passar da água para o vinho. Em vez de nos sentirmos isolados em uma sala cheia de desconhecidos, podemos trabalhar com amigos e parentes em um ambiente eclético sempre envolvente e em constante evolução. E, o mais importante, podemos ser nós mesmos no trabalho (inclusive com nossas excentricidades), o que nos ajuda a fazer uma contribuição mais expressiva.

Para escapar da armadilha do “parece bom, mas a sensação é ruim”, é preciso evitar uma carreira que o deixe infeliz e encontrar um emprego que se encaixe nos seus interesses, habilidades e valores.

Um emprego, uma carreira ou uma missão

Amy Wrzesniewski, professora associada de comportamento organizacional da Faculdade de Administração da Yale University, tem se dedicado a pesquisar extensivamente a vida no trabalho, conduzindo levantamentos com pessoas de variadas profissões. Ela descobriu que as pessoas adotam uma de três atitudes distintas em relação ao trabalho: elas o consideram um emprego, uma carreira ou uma missão.

A diferença é crucial. Quando o trabalho não passa de um emprego, ele pode até pagar as contas, mas você vive esperando o expediente terminar ou o fim de semana chegar. Já aqueles que veem o trabalho como uma carreira se concentram em promoções e no avanço profissional, dando duro para conseguir um cargo mais impressionante, uma sala maior ou um salário mais alto. Em outras palavras, eles se concentram em percorrer uma lista de realizações em vez de buscar um sentido mais profundo. Por outro lado, para aqueles que se dedicam a uma missão, o trabalho é intrinsecamente gratificante e não um mero meio para atingir um fim e também é uma fonte de realização pessoal. Muitas vezes, esse trabalho é gratificante porque você sente que está contribuindo para um propósito mais elevado ou se sente parte de uma comunidade mais ampla. Como Wrzesniewski observa, as origens da palavra “missão” são religiosas, mas o termo mantém seu significado no contexto secular do trabalho: o sentimento de que você está contribuindo para algo mais elevado ou maior que você mesmo.

O fato de você ver o seu trabalho como um emprego, uma carreira ou uma missão depende da sua percepção do trabalho e não necessariamente da natureza da ocupação. No início dos anos 1990, por exemplo, a esposa de Tom, Yumiko, trabalhava como uma comissária de bordo internacional na United Airlines. Tendo passado a maior parte de sua vida no Japão, Yumi cresceu acreditando se tratar de uma posição cosmopolita e de prestígio e nada do que ela passou na United abalou essa crença. Sim, o trabalho podia ser exaustivo e as condições podiam ser estressantes, mas ela se via como uma cuidadora nas alturas, ajudando os passageiros a ter uma boa experiência de voo. Tom só a viu em ação uma vez, em uma manhã de Natal, em um voo saindo de Seul. Ela recebeu todos os passageiros do longo voo com um grande sorriso e passou o voo todo indo de um lado ao outro da cabine com uma energia incansável, parando para brincar com bebês e bater papo com os passageiros da classe executiva. O que alguns poderiam considerar um mero emprego, cheio de rotinas e chateações, Yumi via como uma maneira de afetar positivamente a vida das pessoas.

Moral da história: o que mais importa na sua carreira ou posição não é o valor que os outros atribuem a ela, mas como você vê o seu trabalho. O que importa é o seu sonho, a sua paixão, a sua missão.

Jane Fulton, sócia da Ideo, encontrou sua missão quando passou de consertar problemas a preveni-los. Jane era uma pesquisadora dedicada a identificar defeitos de design em produtos que levavam a lesões e acidentes fatais. Ela investigava os modos como os cortadores de grama podiam machucar os usuários. Ela explorava as razões pelas quais os motoristas deixam de ver a aproximação de motociclistas. Ela examinava as maneiras pelas quais ferramentas elétricas e serras elétricas podiam resultar em acidentes, apesar de todas as tentativas dos fabricantes de garantir a segurança durante a utilização.

Depois de muitos anos de análises forenses, ou análises “após o fato”, Jane começou a se sentir frustrada com o fato de sempre chegar à “cena do crime” tarde demais para impedi-lo. Assim, usando as habilidades de pesquisa que desenvolveu observando produtos ruins, Jane resolveu encontrar um trabalho no qual ela pudesse ajudar a criar bons produtos. Em sua nova função, ela tem a chance de trabalhar com designers para criar equipamentos de pesca à prova de acidentes, carrinhos de bebês mais confortáveis e dispositivos médicos mais intuitivos. A empresa já tinha poderosas mentes técnicas capazes de resolver os problemas e Jane ajudou a manter as necessidades dos usuários no centro de todas as soluções. Embora o trabalho analítico tivesse constituído um desafio intelectual, o trabalho criativo se provou muito mais emocionalmente gratificante para ela. E suas criações centradas no ser humano foram uma verdadeira demonstração do valor da empatia, incorporando esse importante elemento ao DNA da empresa.

Ver a sua área de atuação de uma nova perspectiva pode fazer uma grande diferença, mas o simples fato de você ter paixão pelo que faz não significa que será fácil. Para redefinir o seu papel, você pode ter de arregaçar as mangas e suar a camisa.

Erik Moga, um pesquisador de design da Square, já quis ser um músico profissional de eufônio. Na infância, ele adorava se apresentar no palco com o instrumento de metal parecido com uma tuba, mas ele odiava a labuta da prática, de tocar uma peça várias vezes até dominá-la. No ensino médio, ele viu o virtuoso violoncelista Yo-Yo Ma se apresentar e teve a sorte de ser um dos poucos alunos a fazer uma pergunta ao lendário músico clássico. Erik dá um sorriso maroto quando lembra o que perguntou: “Não é maravilhoso, agora que você conseguiu ser um músico profissional, não precisar mais praticar?”.

A pergunta pairou no ar por um momento até que Yo-Yo Ma revelou as más notícias a Erik. Muito tempo depois de atingir o topo de sua área, Yo-Yo Ma ainda pratica até seis horas por dia. Erik ficou arrasado. Mas a lição de Yo-Yo Ma serve de lembrete para todos nós: a paixão não exclui o empenho. Pelo contrário, a paixão requer empenho. Mas, no final, você vai ter mais chances de sentir que todo o esforço valeu a pena.

Busque a sua paixão

No começo, David imaginou que a d.school ajudaria estudantes de Direito a se tornar advogados de cabeça mais aberta e estudantes de MBA a inovar mais nas empresas. E foi o que aconteceu. Mas, às vezes, nos surpreendemos ao ver ex-alunos efetivamente transformando seus campos de atuação ao engajar a confiança criativa.

Um bom exemplo disso foi o que aconteceu com o candidato a doutorado em Biofísica Scott Woody.

Depois de quatro anos estudando proteínas motoras e mutações pontuais no DNA, Scott se cansou do laboratório. “Eu trabalhava sozinho em uma coisa e talvez, ocasionalmente, a cada um ou dois meses, saía para tomar um ar e conversar com alguém, e aí precisava voltar”, ele nos conta. “Eu era como um robô. Parecia que eu não tinha espaço para pensar fora do meu foco estreito e aquilo começou a me deprimir.” Em busca de algo para ajudá-lo a escapar da situação deprimente, ele se afastou o máximo possível do laboratório na tentativa de encontrar uma inspiração, matriculando-se para uma variedade de cursos, como um seminário de literatura inglesa e até um curso de nado sincronizado. Em um workshop de negócios, ele ficou sabendo de um curso da d.school chamado Creative Gym, voltado a ajudar pessoas de diversas áreas a exercitar seus músculos criativos.

Cada aula de duas horas é uma sucessão acelerada de exercícios práticos voltados a aperfeiçoar as habilidades básicas da criatividade: ver, sentir, começar, comunicar, construir, conectar-se, navegar, sintetizar e inspirar. As atividades variam do lúdico e aparentemente bobo (como fazer uma joia de fita crepe em 60 segundos) ao extremamente desafiador (como expressar um momento de indignação usando apenas quadrados, círculos e triângulos). O objetivo do curso é alinhar os estudantes à sua intuição e desenvolver a conscientização do que se passa ao redor.

“Sou uma pessoa bastante reservada, mas achei o curso muito divertido”, Scott conta. “Foi uma chance de ser meio esquisito, de perder a cabeça. Foi o ponto alto da minha semana, toda a semana. O curso abriu muitas portas criativas que eu tinha deixado um bom tempo fechadas, trancadas pelo meu treinamento analítico.”

Depois daquele curso na d.school, ele percebeu que não tinha mais medo de explorar abordagens diferentes, despertando uma nova disposição de tentar coisas que não sabia ao certo se faria bem (experimentos que poderiam não dar certo). “Muita gente não tem coragem de ir atrás de uma nova ideia ou habilidade”, Scott diz. “Com o simples fato de fazer alguma coisa, você já está à frente de 99% das pessoas.” No laboratório, ele sugeriu um novo formato para as reuniões semanais da equipe. Para abrir uma discussão informal, ele pediu que todos preparassem um único slide sucinto para apresentar uma atualização, rompendo a tradição de uma pessoa sozinha fazendo uma apresentação de PowerPoint durante uma hora.

Ele também se matriculou no LaunchPad (o curso no qual Akshay e Ankit criaram o Pulse News) sem qualquer experiência prévia em empreendedorismo ou engenharia. Inspirado por amigos que estavam em busca de emprego, sua ideia empreendedora inicial foi uma ferramenta para ajudar as pessoas a criar versões customizadas do currículo para se candidatar a diferentes posições. Para aumentar suas chances de ser aceito no curso, ele se forçou a percorrer a principal rua comercial da cidade de Petaluma, na Califórnia, conversando com os lojistas e coletando insights sobre o processo de contratação deles para refinar sua ideia. “Foi horrível”, Scott conta, rindo. “Primeiro porque a maioria deles não queria conversar comigo e depois porque eu estava muito nervoso.” Quando foi aceito no curso, ele continuou a se forçar a fazer coisas que nunca teria feito antes: apresentar suas ideias a investidores de capital de risco convidados ao curso, entrevistar clientes potenciais e realizar rápidas iterações na sua criação.

A recém-descoberta confiança criativa de Scott, aliada à sensação cada vez mais intensa de que a pesquisa científica não era a sua verdadeira missão, lhe deu a coragem da qual precisava para adentrar em um novo e ousado caminho. Faltando apenas um ou dois anos para concluir seu doutorado em Biofísica, ele decidiu pedir demissão do laboratório, abandonar seu programa de doutorado e abrir uma startup para ajudar as empresas a recrutar talentos. Seus pais não se entusiasmaram muito quando ficaram sabendo da novidade. A mãe estava certa de que Scott tomou uma péssima decisão, o que foi muito difícil para Scott, porque ele sentia que precisava fazer aquilo, com ou sem a bênção dela. Um mês depois, quando ela o viu pessoalmente pela primeira vez desde que ele deu a notícia, a mãe de Scott mudou de ideia. Ela viu no rosto dele que ele nunca esteve mais feliz e lhe disse que ele estava fazendo a coisa certa. Dois anos mais tarde, Scott se tornou o CEO da própria startup, a Foundry Hiring, que ajuda empresas a administrar e gerenciar o processo de recrutamento. Scott diz que nunca olhou para trás: “Eu achava que o trabalho deveria ser uma coisa chata, mas agora adoro o meu trabalho e me divirto muito fazendo o que faço”.

Quando pessoas como Jeremy e Scott dão uma virada e saltam ao estado de confiança criativa, seu rosto se ilumina com um novo otimismo e coragem ao falar sobre a nova vida. Algumas pessoas, como Scott, passam um bom tempo bastante infelizes no trabalho, mas a maioria das pessoas que conhecemos não está plenamente consciente de seu nível de insatisfação com o trabalho. Elas só sabem que poderiam contribuir mais se pudessem mudar alguma coisa no trabalho. Elas sabem que não mergulham de corpo e alma no trabalho.

Quando as pessoas se concentram no coração, quando buscam a paixão no trabalho, elas conseguem identificar e explorar suas reservas internas de energia e entusiasmo. Uma maneira de começar a acessar essa reserva interior é pensar em momentos na sua vida em que você realmente se sentiu vivo. O que você estava fazendo e com quem estava? Do que você mais gostou na experiência? Como poderia recriar esses elementos em outras situações? Uma vez que identificar algumas áreas que gostaria de explorar um pouco mais, comprometa-se a fazer alguma coisa, mesmo que seja uma única pequena ação, todos os dias, para ampliar seu portfólio de experiências criativas nessas áreas.

Encontre seu ponto ideal

Uma das descrições mais eloquentes que já vimos do ponto ideal entre a paixão e a possibilidade foi elaborada por Jim Collins, autor dos best-sellers de negócios Feitas para Durar e Empresas Feitas para Vencer. Tom se encontrou com ele por acaso em uma conferência muitos anos atrás, quando Empresas Feitas para Vencer tinha acabado de ser lançado. Em sua palestra, na qual ele não usou uma apresentação de PowerPoint nem mesmo um quadro branco, Jim começou traçando no ar um diagrama de Venn, composto de três círculos que se sobrepunham, desafiando a plateia a acompanhá-lo usando o “teatro da mente”.

Os três círculos representavam as três perguntas que você deve tentar responder: “O que você faz bem?”, “O que as pessoas lhe pagariam para fazer?” e “O que você nasceu para fazer?”. Se você se concentrar só no que faz bem, pode acabar em um emprego no qual você é competente, mas que não o satisfaz. Quanto ao segundo círculo, o velho ditado “Faça o que gosta e o dinheiro virá” não é necessariamente verdadeiro. Uma das atividades preferidas de David é desmontar e montar coisas em seu estúdio e um dos sonhos de Tom é viajar pelo mundo coletando histórias e experiências de diferentes culturas. Até agora ninguém se ofereceu para nos pagar para fazer essas coisas. O terceiro círculo (o que você nasceu para fazer) diz respeito a encontrar um trabalho intrinsecamente gratificante. O objetivo desse exercício é encontrar uma ocupação que você faz bem, de que gosta e que alguém lhe pagará para fazer. E, naturalmente, é importante trabalhar com pessoas de quem você gosta e respeita.

Parecia que toda a plateia ficou com a mesma pergunta martelando na cabeça: mas como saber o que nasci para fazer? Acreditamos que a resposta tem a ver com o que Mihaly Csikszentmihalyi, expert no campo da psicologia positiva, chama de “fluxo”, que é aquele estado criativo no qual o tempo parece voar e você fica completamente imerso em uma atividade. Quando entra no estado de fluxo, o mundo ao seu redor se desfaz e você se vê completamente envolvido.

Para encontrar esses elementos capazes de criar um senso de fluxo, Jim Collins usou seu próprio estilo de autoanálise. Ele sempre foi um nerd e, já na infância, costumava sacar um bloco de notas e anotar suas observações científicas. Ele pegava um inseto, o colocava em um pote e o observava durante dias, registrando em seu bloco de notas o que o inseto fazia, o que comia e como se movimentava. Quando cresceu, conseguiu um bom emprego na Hewlett-Packard, mas não se sentiu satisfeito. Assim, ele recorreu à sua velha técnica: comprou um daqueles mesmos blocos de notas de sua infância e o chamou de “Um inseto chamado Jim”. Ele passou mais de um ano observando meticulosamente o próprio comportamento e práticas de trabalho. No fim de cada dia, ele anotava não apenas o que aconteceu, mas o que o fez se sentir melhor consigo mesmo no decorrer do dia. Depois de mais de um ano de registros no bloco de notas, um padrão começou a surgir. Ele percebeu que ficava mais feliz quando trabalhava em sistemas complexos e quando ensinava os outros. Assim, ele decidiu ensinar as pessoas sobre sistemas, e saiu da HP para entrar em um caminho que acabou levando-o ao mundo acadêmico. Jim encontrou a fórmula mágica do próprio sucesso, mas o maior legado dele pode ser ajudar os outros a encontrar a fórmula deles.

Faça experimentos com pequenos projetos

Como descobrir o que você nasceu para fazer ou mesmo o que você faz bem? Uma maneira de fazer isso é usar seu tempo livre para se envolver com interesses ou hobbies. Um novo projeto de fim de semana pode lhe dar mais energia ao longo da semana, seja aprendendo a tocar piano ou construir robôs de Lego com os filhos.

Na Ideo, os interesses de fim de semana contagiam o ambiente de trabalho na forma de grupos dedicados a atividades como ciclismo e ioga

Um projeto de fim de semana também pode inspirar os seus colegas. Em um número cada vez maior de empresas com as quais trabalhamos, é comum ver um grupo de empregados se encontrando para correr juntos, criando um clube do livro ou conversando no almoço sobre uma nova paixão ou hobby. Na Ideo, os interesses de fim de semana contagiam o ambiente de trabalho na forma de grupos dedicados a atividades como ciclismo e ioga. Também realizamos frequentes sessões improvisadas para compartilhar conhecimento, desde como fazer queijo camembert (um projeto liderado por um engenheiro que adora queijos fedidos) até a fabricação de joias (em minicursos ministrados por um membro do Toy Lab que estudou design de joias na Itália).

Pequenos projetos podem ser gratificantes por si sós, mas também podem ativar a nossa energia criativa no trabalho. Então, procure maneiras de sobrepor os seus projetos de fim de semana à sua vida no trabalho. Se o seu hobby for fazer álbuns de recortes ou editar vídeos, por exemplo, quem sabe você não pode usar essas habilidades para fazer apresentações mais interessantes no trabalho? Fazer essa ligação pode demandar um pouco de pensamento criativo e empenho, mas, se você for paciente, pode encontrar uma oportunidade.

Para identificar novas áreas de interesse e aptidões, experimente várias atividades diferentes, no seu tempo livre ou no trabalho. Os princípios da prototipagem também podem ser aplicados a testar novos papéis no trabalho: pequenos e rápidos experimentos são os que mais compensam. Faça o test drive de uma área ou posição diferente antes de se comprometer com uma mudança drástica. Experimente muitas atividades diferentes para ver de qual você gosta mais. Converse com o seu chefe sobre a possibilidade de explorar novas responsabilidades ou ajude um colega de outro departamento. Nesses breves papéis, fique atento a momentos em que você se sente revigorado ou no seu melhor. Lembre-se de que você só está experimentando. Não desanime se não adorar a primeira coisa que tentar. Reflita sobre o que você mais gostou em cada atividade e o que gostaria que fosse diferente. Com base nessas ponderações, decida o que quer tentar em seguida. Quando você começa a pensar na sua vida e na sua carreira como apenas mais um desafio criativo, muitas possibilidades diferentes podem se revelar.

Você pode se surpreender com as funções que o atrairão. Conhecemos muitas pessoas que adoram trabalhos que os outros poderiam considerar chatos ou estressantes: um gerente de hotel que adora deixar as pessoas felizes; um contador fiscal que se orgulha de pôr ordem no caos; um investidor que vê o mercado de ações como um complexo e fascinante quebra-cabeça. Eles poderiam nunca ter descoberto sua paixão oculta por essas ocupações se não as experimentassem.

Ao procurar novas funções, não tenha medo de se oferecer para um projeto interessante relacionado ao trabalho (ou até propor um projeto). Nunca se sabe aonde isso pode levar. Se seus superiores acharem que você não tem experiência comprovada em uma área, demonstre suas aptidões fora do trabalho primeiro. Poucas provas são mais convincentes do que demonstrar que você tem a energia e o comprometimento necessários para fazer bem o seu trabalho e ainda empreender um projeto adicional que o entusiasma. Por exemplo, Tom escreveu seu primeiro livro, A Arte da Inovação, praticamente em seu tempo livre, à noite e nos fins de semana, só porque adorava escrever e queria contar algumas histórias e compartilhar algumas lições sobre a inovação que tinha aprendido na época.

Não é raro encontrar aplicações mais amplas para as habilidades desenvolvidas em um projeto de trabalho individual. Com um pouco de sorte, e muita perseverança, um interessante projeto paralelo pode até se transformar no seu trabalho principal. Por exemplo, Doug Dietz começou a trabalhar na GE Adventure Series com um projeto secundário pelo qual ele tinha um enorme entusiasmo antes de esse projeto ser formalmente incorporado ao seu trabalho.

No livro As 10 Faces da Inovação, Tom contou a história de Ron Volpe, gerente da cadeia de suprimentos da Kraft Foods Group. Ron lançou um projeto colaborativo de inovação para um cliente importante, a Safeway, a fim de encontrar novas maneiras de administrar o complexo fluxo de produtos da Kraft pelos depósitos e lojas da Safeway. O projeto não passava de uma pequena parte das funções de Ron na época e ele o via como uma oportunidade de experimentar um novo modo de colaboração. No entanto, o projeto levou a tantas revoluções operacionais e recebeu tantos elogios da Safeway e do setor de supermercados que Ron passou a próxima fase de sua carreira divulgando a inovação às equipes da Kraft ao redor do mundo. Ron logo se tornou o vice-presidente de inovação da cadeia de suprimentos da Kraft, buscando novas maneiras de firmar parcerias com diversos clientes em seis continentes. Outro dia ele nos disse que sua nova função o levou ao trabalho mais envolvente, mais interessante e mais gratificante que já realizou. Ron diz que aplicar a confiança criativa aos relacionamentos com os varejistas permite a ele e a seus clientes irem além das transações de rotina e “nos concentrar na criação de algo maior e mais sustentável”.

Ron nem precisou sair da empresa para vivenciar uma transformação pessoal e profissional. Ele só precisou de energia, otimismo e determinação para transformar seu experimento no trabalho em uma nova e gratificante função.

A coragem para saltar 

Embora todo mundo tenha um enorme potencial criativo, nossa experiência sugere que a aplicação eficaz da criatividade na vida pessoal e profissional requer um fator a mais: a coragem de dar o salto. Toda essa energia potencial só se dissipará se você, repetidamente, não tomar coragem para liberá-la.

Para dar esse salto da inspiração à ação, os pequenos sucessos são fundamentais. Da mesma forma como o medo do primeiro passo nos limita no início de um projeto, o peso das tradições e convenções nos impede de realizar mudanças expressivas na carreira. Você pode até ter flertado com a ideia de “Eu poderia ter sido um escritor” ou “Que bom seria se eu tivesse entrado na área da saúde” e ter parado por aí. No entanto, se você fizer com que o primeiro passo seja pequeno o suficiente, isso pode atuar como um empurrãozinho na direção da sua meta. Mas você precisa, efetivamente, dar esse primeiro passo.

Monica Jerez é gestora corporativa da 3M, que começou com pequenos passos. Conhecemos Monica alguns anos atrás em uma conferência sobre inovação na República Dominicana. Monica passou anos achando que precisava esconder sua criatividade para avançar na carreira. Entretanto, inspirada pelo design thinking e incentivada por um curso de liderança orientada ao crescimento da 3M, Monica se transformou em um verdadeiro turbilhão de ação. Como gerente de portfólio global da divisão de cuidados com pisos da 3M, ela leu avidamente para encontrar novas fontes de inspiração: livros sobre inovação, periódicos de negócio e vários jornais diários. Ia toda semana a uma loja da Target, percorrendo todos os corredores procurando novas ideias em categorias de produto distantes de bebidas e higiene bucal. Ela uniu forças com um gestor da área técnica da 3M para montar uma equipe multidisciplinar com conhecimentos técnicos, de design, marketing, administração, insight do consumidor e produção. Sua sala na 3M era tão abarrotada de produtos, protótipos e post-its que mais se parecia com um estúdio de design.

Inicialmente, Monica não tinha verba para fazer pesquisas em campo, mas não deixou que isso a impedisse. Mãe de quatro filhos, ela tinha muitas oportunidades de ver como as famílias lidam com a sujeira e a bagunça. Ela contratou uma equipe profissional de limpeza para limpar sua casa e fez um vídeo da equipe trabalhando, usando a câmera de seu celular. O vídeo resultante revelou tantas oportunidades potenciais que Monica pediu que outras equipes da 3M de 20 países fizessem os próprios vídeos. “Minha mente se expandiu muito”, Monica conta rindo. “Aquilo me redefiniu.”

Monica nunca se considerou o tipo de pessoa criativa que registraria alguma invenção para ser patenteada, mas, no último ano, ela registrou mais de uma dúzia de patentes. Uma importante métrica de inovação na 3M é o índice de vitalidade de novos produtos (IVNP), que monitora a porcentagem das vendas de produtos lançados pela empresa nos últimos cinco anos. O IVNP da unidade de negócios de Monica dobrou a média da empresa no ano passado. Ela foi promovida a líder do mercado latino do Consumer & Office Business da 3M e tem sido reconhecida como um exemplo a ser seguido pelos outros líderes emergentes da empresa. Com sua confiança recém-descoberta sobre suas contribuições criativas, ela está se divertindo mais no trabalho, contribuindo com mais valor na 3M e inspirando as pessoas ao seu redor a fazer o mesmo.

A inspiração de Monica só se transformou em um impacto real porque ela teve a coragem de começar e a persistência para continuar. Pela nossa experiência, uma boa maneira de se comprometer com um novo caminho é simplesmente revelar seus planos a alguém. Conte a um amigo as mudanças que planeja fazer na sua vida. Melhor ainda, conte a um grupo de pessoas que possam ajudá-lo continuamente e de maneira construtiva.

Faça uma mudança

Se você quer transformar a sua vida de mero dever a uma verdadeira paixão, precisa começar entendendo que a sua situação atual não é a sua única opção. Você pode mudar o modo como vive e trabalha. Veja os contratempos e obstáculos como o custo de tentar coisas novas. Não tenha medo de tentar e fracassar. A pior coisa que você pode fazer é não correr riscos, ficar na zona de conforto das tradições e convenções e não fazer nada para tentar mudar.

Lauren Weinstein passou um bom tempo achando que não tinha nada a ver com os outros alunos de Direito de sua turma. Eles só queriam tirar notas boas e aprender todos os precedentes judiciais. A cada passo, eles pareciam perguntar: “O que os casos anteriores sugerem?”. Lauren entendia a importância do primado da lei, mas não queria descartar outras perspectivas. Quem são as pessoas envolvidas no caso? Qual é a história pessoal delas? Isso poderia afetar o resultado do caso? Quando fazia esse tipo de pergunta em voz alta, os colegas a olhavam torto.

Na primeira vez em que fez um curso na d.school, ela achou tudo muito diferente, mas também liberador. Em vez de ser pressionada a recitar a jurisprudência para obter a resposta “certa”, ela podia experimentar e tentar de novo até chegar a uma solução melhor. Ela não precisava se censurar ou temer chegar a uma resposta “errada”. Foi como se um peso tivesse sido tirado dos ombros dela.

Antes de fazer o curso, Lauren se achava “pouco criativa”, mas também se considerava tímida e incapaz de defender suas ideias com veemência. Forçada a ter uma centena de ideias em sessões de idealização em grupo, trabalhando em questões como opções inovadoras de aposentadoria para a geração baby boomer, ela provou a si mesma que era criativa, capaz de lidar com a incerteza e promover a mudança no mundo ao seu redor.

Essa confiança se revelou primeiro na sala de aula, mas acabou se estendendo ao tribunal. Enquanto fazia cursos na d.school, Lauren também se preparava para um julgamento simulado que seria conduzido no Tribunal de Palo Alto, diante de um juiz e de um júri. O caso dizia respeito a um operário de construção que fora atropelado por um trem. Lauren foi incumbida de defender a vítima e sabia que tinha poucas chances de vencer o caso: historicamente, o querelante nesse caso específico nunca tinha ganhado porque os fatos do caso favoreciam a companhia ferroviária. Em julgamentos simulados anteriormente, os mesmos detalhes foram apresentados basicamente da mesma forma e o resultado foi sempre o mesmo.

Diante disso, Lauren criou uma nova abordagem. Quando contou seu plano ao seu parceiro no caso, ele tentou dissuadi-la, mas ela estava decidida a tentar. Nas alegações finais, Lauren se aproximou do júri e pediu que os jurados fechassem os olhos. “Imaginem que vocês estão em um pesadelo. E, nesse pesadelo, vocês estão presos em um trem que avança rapidamente pelos trilhos...” Com essa abordagem original, ela os levou a imaginar a situação do ponto de vista não apenas dos passageiros do trem, mas também do homem que foi atropelado. Assim, o caso deixou de ser uma mera recitação de fatos e precedentes, voltando-se à experiência do operário. O júri acabou votando a favor dela e o juiz afirmou que ela conduziu a melhor argumentação que ele já ouviu em um julgamento simulado.

Para explicar como conseguiu ter a coragem de tentar aquela abordagem radicalmente diferente, Lauren disse que foi em parte devido à sua recém-descoberta confiança criativa. “Agora parece que tudo está dentro da minha zona de conforto e nada mais é impossível”, ela explica.

Essas possibilidades estão abertas a pessoas de todas as idades, em todas as áreas de atuação. Vejamos o caso de Marcy Barton, uma professora veterana da quinta série com quatro décadas de experiência na área. Observando, impotente, como as crianças estavam cada vez menos criativas, Marcy mergulhou de cabeça em um workshop de design thinking na d.school e voltou à superfície pronta para tentar uma nova abordagem para preparar a próxima geração de líderes do século 21.

Marcy reestruturou todo seu programa de aulas, reorganizando os padrões acadêmicos exigidos pelo governo na forma de desafios de design thinking. No novo formato de aula de História de Marcy, as crianças não se limitavam a ler em silêncio sobre a colonização da América, mas viravam as mesas de ponta-cabeça e embarcavam nos navios que as levariam ao Novo Mundo. Elas não se limitavam a resolver problemas abstratos de Matemática no quadro, mas usavam seu conhecimento matemático para calcular com precisão o tamanho dos modelos necessários para criar uma colônia americana em miniatura. Os alunos não só demonstraram um desempenho bem melhor em testes padronizados, como os pais notaram que os filhos estavam fazendo perguntas mais profundas em casa e passaram a se envolver mais com o mundo ao redor.

É claro que a oportunidade de aplicar a confiança criativa não se restringe aos professores. Vendedores, enfermeiros, engenheiros... todos podem resolver problemas de novas maneiras quando deixam de ter medo de ser criativos.

Se você está encurralado em um emprego do tipo “parece bom, mas a sensação é ruim”, pense na possível sobreposição entre suas paixões pessoais e suas atividades no trabalho. Aprenda novas habilidades. Comece a escrever a nova história da sua vida no trabalho. Continue procurando e se aproximando de um trabalho que parece bom e a sensação é ótima. Você pode perceber que descobriu a sua missão na vida.