"Havia três negociadores à mesa: um só falava, outro apenas ouvia e o terceiro se limitava a olhar. Um quarto membro da equipe, a distância, recebia, telepaticamente, todas as informações captadas pelos três, processava-as e tomava as decisões. Assistir a esse episódio de Star Trek – The Next Generation, escrito por três psicanalistas, foi o melhor curso de negociação como processo que fiz na vida –e fiz muitos, no Brasil e no exterior. Metaforicamente, era como se negociassem a aquisição de uma empresa.” Quem lembra tal história é o comandante David Barioni Neto, um dos nomes mais disputados no mercado executivo brasileiro, que já liderou a TAM e foi vice-presidente da Gol, e está completando seus cem primeiros dias no posto de CEO do Grupo Facility, que deve faturar R$ 1 bilhão em 2010 e é especializado na gestão compartilhada de serviços como saúde, alimentação, tecnologia e trade marketing (promoção nos pontos de venda), que se autodenomina uma empresa de BTO (business transformation outsourcing), em vez de BPO (business process outsourcing). Barioni é considerado uma das maiores autoridades em processos empresariais do Brasil, aprendizado que acumulou na indústria de aviação, e os define com duas frases muito simples: “Um processo que o chão de fábrica não consegue entender não é bom” e “Processo é eliminar atrito”.

Em entrevista exclusiva à Adriana Salles Gomes, de HSM Management, Barioni deixa claro por que é tão diferenciado. Aos possíveis burocratas que o tomam como modelo, surpreende: “Processos raramente são eficientes e raramente são rápidos. E vivemos uma época de margem de lucro reduzida, o que requer mais eficiência e rapidez”. Para o CEO, os segredos de uma empresa boa em processo são dois: ser craque em talentos –daí o executivo reconhecer a excelência da negociação do episódio de Star Trek, reunindo habilidades humanas e processo– e saber definir exatamente quanto de processos a empresa deve ter. Como diz Barioni, “se a empresa não tem processo algum, corre o risco de simplesmente não sobreviver, mas, se tem processo demais, também corre o risco de não sobreviver, porque fica absolutamente algemada”.

Não é só nesse aspecto que Barioni sai do script, contudo. Ele está escrevendo um livro sobre uma nova habilidade que os gestores devem desenvolver: a de um evento agudo –uma crise– como crônico, uma vez que crise sempre há, por ser, basicamente, a falha em um processo. E, ao contrário das fórmulas da literatura da gestão, o executivo começa por dizer que o CNPJ precisa se tornar RG, ou seja, a pessoa jurídica virar pessoa física. E acrescenta: “Os brasileiros têm de usar seus diferenciais, que são flexibilidade, empatia, carinho. Em uma situação em que o estrangeiro pediria ajuda, nós agimos e ajudamos o próximo”.